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As histórias de quem estava em cima da ponte que caiu entre o Maranhão e o Tocantins

No fim da tarde de sábado, 28, uma missa campal em memória das vítimas do acidente foi celebrada ao pé da ponte, no lado maranhense, em Estreito

Fonte: Da redação com informações de O Estado de São Paulo
Mergulhador da Marinha busca por corpos de desaparecidos no Rio Tocantins Foto: Wilton Junior/ Estadão

O desabamento do vão central da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, no Rio Tocantins, marcou  a tarde do último domingo, 22 de dezembro. Às 14h30, a estrutura cedeu, levando consigo pelo menos oito veículos e 18 pessoas que transitavam entre as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO). Nove corpos já foram resgatados, enquanto outros oito permanecem desaparecidos. As operações de busca, conduzidas pela Marinha, chegam ao nono dia com mergulhadores enfrentando condições adversas, incluindo profundidades de até 48 metros e visibilidade reduzida para apenas três metros.

Entre as vítimas está Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos, que retornava a Estreito após visitar um tio em Aguiarnópolis. Ele é lembrado pela irmã, Gessilene, como um homem humilde e generoso. “Era uma pessoa maravilhosa. Nunca sabia dizer ‘não’. Queremos encontrá-lo para dar um enterro digno”, desabafou. Outro morador da região, o mototaxista Marçon Gley Ferreira, de 42 anos, foi visto pela última vez conversando com o vereador Elias Júnior, que gravava um vídeo denunciando as más condições da ponte momentos antes do colapso.

O morador de Estreito Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos, é uma das vítimas da queda da ponte Juscelino Kubitschek. O corpo dele segue desaparecido Foto: Acervo pessoal / reprodução

O vendedor Gabriel Assunção, de 30 anos, estava com a esposa e a sogra em um Fiat Palio quando percebeu a ponte cedendo à sua frente. Em um ato rápido, deu ré no carro e conseguiu evitar a queda no rio. “O instinto foi sair correndo. A cena foi desesperadora, especialmente pelas pessoas que não conseguiram escapar”, relatou. Já o caminhoneiro Kécio Francisco Santos Lopes, de 42 anos, não teve a mesma sorte. Morador de Demerval Lobão (PI), ele estava em sua primeira viagem pela empresa Expresso Geração Transportes, transportando 25 mil litros de defensivos agrícolas. Seu corpo foi encontrado no dia 24 e sepultado no dia seguinte.

A Ponte Juscelino Kubitschek, construída nos anos 1960 e com 533 metros de extensão, era um marco da engenharia brasileira, mas enfrentava problemas estruturais há décadas. Sua última grande reforma ocorreu entre 1998 e 2000, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho, e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit), a reconstrução deve custar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões e levar até um ano para ser concluída. Enquanto isso, a rotina dos moradores e o transporte de cargas na região foram severamente impactados, com muitos dependendo de balsas para atravessar o rio, enfrentando filas de até cinco horas.

As buscas pelas vítimas continuam em ritmo intenso. A Marinha mobilizou 87 militares na região e outros 20 na coordenação remota a partir de Belém (PA). Entre os recursos disponíveis estão mergulhadores especializados, uma câmara hiperbárica para tratar acidentes subaquáticos e plataformas flutuantes equipadas com compressores de oxigênio e geradores de eletricidade. A operação combina mergulhos independentes, com cilindros de oxigênio, e mergulhos dependentes, nos quais os mergulhadores utilizam mangueiras conectadas a compressores na superfície, permitindo maior tempo de atuação no fundo do rio.

A tragédia também expôs a precariedade da infraestrutura brasileira e os riscos de negligência na manutenção de obras essenciais. A missa campal realizada no último sábado, 28, ao pé da ponte em Estreito, reuniu moradores para homenagear as vítimas, enquanto a região ainda tenta lidar com as consequências práticas e emocionais do desastre. O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek não apenas revelou histórias de coragem e perda, mas também deixou uma marca indelével na memória coletiva do Tocantins e do Maranhão.

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