Desde 2022, o Congresso Nacional destinou R$ 35,6 milhões em emendas parlamentares para as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), conectadas pela ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que desabou no último dia 22 de dezembro, vitimando 17 pessoas. Apesar do volume expressivo de recursos, nenhum valor foi direcionado para reparos na ponte, cuja última grande manutenção ocorreu entre 1998 e 2000, durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A maior parte dos recursos foi destinada a Estreito, que recebeu R$ 29,8 milhões, enquanto Aguiarnópolis recebeu R$ 5,7 milhões. O dinheiro foi alocado principalmente para o custeio da saúde (R$ 26,1 milhões) e para transferências especiais conhecidas como “emendas Pix” (R$ 5,3 milhões), que até agosto deste ano podiam ser usadas sem necessidade de especificação prévia. Parte dessas emendas em Aguiarnópolis foi destinada a shows de artistas sertanejos e evangélicos, totalizando ao menos R$ 1,2 milhão em gastos culturais desde 2023.
O colapso da ponte trouxe à tona discussões sobre a alocação de recursos e a negligência em infraestrutura. Um relatório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de 2020 já apontava danos severos na estrutura da ponte. Apesar disso, o órgão não solicitou verba específica para reparos na estrutura nos últimos anos, segundo as senadoras Eliziane Gama (PSD-MA) e Professora Dorinha Seabra (União Brasil-TO), coordenadoras das bancadas parlamentares dos respectivos estados.
A prefeitura de Aguiarnópolis, cidade com 4,5 mil habitantes, foi alvo de críticas pelo uso de emendas Pix para custear eventos culturais, como o show de aniversário da cidade, que consumiu R$ 753 mil. Cantores como Nadson O Ferinha, Davi Sacer e Manu Bahtidão estiveram entre as atrações contratadas. Em uma apresentação polêmica em Estreito, Manu Bahtidão foi alvo de investigação do Ministério Público do Maranhão após denúncias de conteúdo impróprio durante o evento.
A tragédia na ponte Juscelino Kubitschek também reacendeu o debate sobre os investimentos em infraestrutura no Brasil. Segundo o economista Claudio Frischtak, especialista no tema, o país investe atualmente apenas 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, muito abaixo do ideal de 4% a 4,5% necessário para universalizar o acesso à infraestrutura básica. Frischtak destaca que só para manter a infraestrutura existente seria preciso aplicar ao menos 1,5% do PIB por ano, mas o volume atual mal cobre a reposição de estruturas já existentes.
“Ao contrário dos diamantes, as pontes não são eternas. Têm vida útil de 30 a 40 anos”, alerta Frischtak. Ele também critica a baixa qualidade de muitos investimentos públicos, apontando atrasos e custos acima do previsto como problemas recorrentes.
Enquanto o Ministério dos Transportes e o Dnit estimam que a reconstrução da ponte deve custar entre R$ 100 e R$ 150 milhões, com prazo de conclusão de até um ano, a tragédia expõe os desafios de priorização de recursos e de gestão eficiente da infraestrutura no Brasil. As consequências do colapso ainda reverberam na região, afetando a logística e a vida dos moradores, que dependem de alternativas como balsas para atravessar o Rio Tocantins.