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Por causa da defasagem, possível reajuste no preço da gasolina pode elevar inflação

A defasagem média do diesel nas refinarias da Petrobras em relação ao mercado internacional chegou a 22%

Fonte: Da redação

A recente escalada do preço do petróleo no mercado internacional, impulsionada por um novo pacote de sanções contra o setor energético russo, chega ao Brasil em um momento crítico para a Petrobras, que mantém os preços dos combustíveis defasados. A estatal enfrenta um cenário semelhante ao de 2023, quando precisou reajustar o diesel em 25% e a gasolina em 16% em agosto. Um eventual aumento agora poderia impactar a inflação de fevereiro, mas traria alívio para importadores e produtores de etanol, que vêm perdendo espaço nos postos de abastecimento devido aos preços estagnados dos combustíveis.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem média do diesel nas refinarias da Petrobras em relação ao mercado internacional chegou a 22% na última sexta-feira, enquanto a gasolina acumulava uma diferença de 13%. Mesmo a Refinaria de Mataripe, que reajusta seus preços semanalmente, ainda pratica valores 11% abaixo do mercado global para o diesel e 7% inferiores para a gasolina. O diesel, por exemplo, não sofre reajustes há 383 dias, enquanto a gasolina está há 188 dias sem mudanças. No dia 1º de janeiro, a estatal aumentou em 7% o preço do querosene de aviação (QAV), seguindo os reajustes contratuais mensais.

Para o presidente da Abicom, Sérgio Rodrigues, a Petrobras poderia adotar uma estratégia mais equilibrada sem manter uma defasagem tão alta, pois isso prejudica tanto importadores quanto produtores de etanol. Ele destacou que a expectativa de redução do câmbio permanece incerta devido à falta de equilíbrio fiscal, enquanto o petróleo segue em alta.

Na avaliação do economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV), será difícil para a Petrobras evitar um reajuste por muito tempo diante dessa defasagem. Ele prevê que os combustíveis devem sofrer aumentos em breve, o que pode pressionar a inflação de janeiro e, principalmente, de fevereiro. A gasolina, que compromete cerca de 5% do orçamento familiar no Brasil, é a maior preocupação no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Além disso, outras pressões inflacionárias já estão acumuladas, como os aumentos no transporte público, mensalidades escolares e o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). No entanto, em janeiro, o impacto inflacionário pode ser amenizado pelo bônus da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que permitirá uma redução de 13% na conta de energia elétrica, ajudando a conter a alta do IPCA. Braz estima que o índice feche janeiro em torno de 0,2%, mas em fevereiro a inflação pode ultrapassar 1% com o retorno da tarifa de energia ao valor normal e o aumento das mensalidades escolares.

O cenário inflacionário dos próximos meses também dependerá do comportamento do câmbio, que pode estimular as exportações, beneficiando a balança comercial, mas ao mesmo tempo encarecendo produtos importados, como trigo e gasolina.

No mercado internacional, a alta do petróleo atingiu o maior patamar desde outubro de 2024, impulsionada pelo pacote de sanções contra o setor energético russo. A analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Isabela Garcia, explicou que as novas restrições afetam diretamente produtores de petróleo e gás, além de incluir 183 navios, traders, seguradoras e outros agentes envolvidos no comércio de produtos russos. Essa movimentação gera maior dificuldade para negociar e transacionar produtos russos no mercado global.

A preocupação com a oferta de petróleo russo já vinha sendo especulada há algum tempo, especialmente diante das restrições impostas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no início deste ano. Garcia destacou que países altamente dependentes do petróleo russo, como Índia e China, podem buscar novos fornecedores para suprir suas necessidades de curto prazo, o que pode gerar ainda mais instabilidade no mercado. Há também expectativas sobre possíveis sanções mais duras por parte do governo de Donald Trump contra países como Rússia, Venezuela e Irã.

Apesar do aumento expressivo do petróleo, a Petrobras ainda não sinalizou mudanças nos preços dos combustíveis. No final de 2024, quando o barril ainda não havia atingido os US$ 80, a presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou em entrevista que não havia intenção de reajustar os preços, destacando que a empresa estava lucrando mesmo com valores “abrasileirados”. Em entrevista exclusiva ao Broadcast no último dia do ano, o diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, reforçou que não havia pressa para ajustes. No entanto, com a pressão crescente no mercado internacional e a defasagem se ampliando, a Petrobras poderá precisar rever essa estratégia nas próximas semanas.

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