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Está infectado ou inflamado?

As confusões conceituais prejudicam muito a compreensão e devemos esclarecer.

Fonte: Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC

Temos 10 trilhões de células e 100 trilhões de bactérias no somatório das microbiotas.Temos 10 trilhões de células e 100 trilhões de bactérias no somatório das microbiotas.

A linguagem comum fica cada vez mais próxima da científica. Os interesses se misturam e a comunicação é para todos, até nas revistas científicas. As confusões conceituais prejudicam muito a compreensão e devemos esclarecer.

Um exemplo é inflamação e infecção. Ao ouvir ou ler sobre, na maioria das vezes, se tem certeza de que são sinônimos, e não são. E terá certeza de que ambas são ruins para o organismo, e não necessariamente são ruins!

Infecção é o contato de microrganismos com o corpo. Isto pode gerar doenças ou não, a depender da quantidade deles, do tipo, local onde estão no corpo e da resistência da pessoa. Infectado e infeccionado são sinônimos.

Inflamação é mecanismo de defesa dos tecidos vascularizados frente a qualquer tipo de agressão como as causas físicas, químicas e biológicas como os microrganismos. Vencida a agressão, a inflamação desencadeia sua fase final, que é a reparação ou reparo.

INFLAMAÇÃO

Uma infecção pode provocar uma inflamação? Sim, mas nem sempre. Os microrganismos podem, eventualmente, lesar os tecidos, matando as células o que precisa ser paralisado e um dos mecanismos mais eficientes é a inflamação.

Pelos vasos, o sangue leva até o local agredido por qualquer causa, substâncias químicas como anticorpos, enzimas e proteínas de atividade antimicrobiana, para matar ou debilitar os microrganismos. Depois de 90 minutos de agressão, o sangue leva também células de defesa chamadas de leucócitos, para fagocitar e destruir os microrganismos.

Se o agressor for um produto químico, as substâncias servem para inibir e ou diluir, eliminando-o. Se for uma força, o edema e as células vão dissipar a força. Se for uma lesão que lesou o tecido e acabou, a inflamação vai reparar a área.

É sempre assim? Claro que não, na medicina e no amor não existe sempre e, muito menos, nunca! As vezes a inflamação não consegue matar o agressor e fica guerreando com ele por meses, anos ou toda vida. A destruição pode ter sido tão grande nesta batalha, que a inflamação nem consegue reparar direito, mesmo se acabar com o agressor. Ou seja, a inflamação não é sempre eficiente, mas na grande maioria dos casos, ela é um sucesso.

INFECÇÃO

Temos 10 trilhões de células e, no mesmo corpo, tem 100 trilhões de bactérias, sem incluir nesta conta os fungos, vírus e parasitas. Estas bactérias estão na boca e demais superfícies do tubo gastrintestinal, nas demais mucosas do trato geniturinário, respiratório, olhos, ouvidos e pele.

Elas querem entrar na intimidade dos tecidos e quando conseguem, são identificadas e eliminadas pela inflamação e sistema imunológico. Podemos dizer que no interior de nossos tecidos não tem bactérias. Mas, podemos dizer que estamos infectados o tempo todo. Este equilíbrio das microbiotas em todas as partes, nos mantem vivos. Se tirarmos as microbiotas do corpo, é incrível, mas morreremos. Dependemos delas para viver. Alguns microrganismos que vivem em nós são essenciais, pois sintetizam substâncias e estimulam nossos sistemas.

O conjunto da população de microrganismos em cada região se chama microbiota. Antigamente os microrganismos eram considerados vegetais e ainda hoje os, muito antigos ou mal-informados, usam os termos inadequados “flora” ou “microflora”. Flora intestinal seria uma “floresta” abdominal e microflora, um “bosque” de bonsais.

Muitas infecções não evoluem para doenças infecciosas. Outras evoluem, pois induzem inflamação e geram sinais e sintomas como a tuberculose, cárie, gripe, micose e outras. Tem infecções que ficam latentes e podem, a qualquer momento, gerar doenças como o vírus da hepatite e herpes, ou as bactérias da tuberculose.

REFLEXÃO FINAL

Inflamação pode gerar danos, sinais e sintomas, mas a culpa não é dela, é de quem agride os tecidos. Exemplos são gorduras na obesidade, reação ao câncer e às doenças autoimunes. Ao usar inflamação e infecção como sinônimos, você incorre em um erro conceitual primário e isto pode pegar mal para você!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

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