O custo de instalação de um pivô central (equipamento bastante comum de irrigação) gera uma necessidade de investimento entre R$ 20.000,00 a R$ 35.000,00 por hectare. Após instalado, o agricultor ainda precisa bancar a eletricidade para bombas, mecanismos de movimentação e outros, encarecendo a produção. A estimativa é de até R$ 1.500,00/ha para eletricidade; no caso da cultura do milho irrigado, isso significa cerca entre 8 e 10% do custo de produção. Para economizar neste ponto, sistemas de irrigação precisos e modernos têm sido desenvolvidos.
A irrigação moderna responde ao problema do uso racional da água. Dentre os métodos de irrigação mais utilizados no Brasil, temos: irrigação por aspersão (1), que utiliza um sistema de tubulações e aspersores para lançar água sobre as plantações e é o método com menor custo de aplicação e mais comum no Brasil; irrigação por gotejamento (2), em que água é fornecida diretamente ao solo por meio de tubos perfurados que distribuem gotas de água na região da raiz da planta, um dos métodos mais eficazes; a irrigação por pivô central (3), que consegue irrigar grandes áreas e possibilita o cultivo de duas ou três safras ao ano; e por fim, irrigação subterrânea (4), que fornece água diretamente às raízes por meio de tubos enterrados no solo, com alta eficiência, mas maior custo de implementação. O uso da irrigação possibilita aumentar a produção sem que seja necessário a expansão da área produtiva.
Outra técnica eficaz na agricultura para a redução do uso excessivo de água é o plantio direto. Nessa técnica, a semeadura ocorre diretamente sobre a palha de culturas anteriores, sem revolver o solo, mantendo uma cobertura vegetal que funciona como uma proteção física, diminuindo a evaporação da água, reduzindo impactos de temperatura e aumentando sua capacidade de retenção hídrica. Um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostrou que o uso do plantio direto na cultura da soja pode economizar até 11% de água durante o ciclo.
A biotecnologia e o melhoramento genético são outros caminhos. É possível modificar a estrutura genética da planta em laboratório para alcançar objetivos específicos, como resistir a estresses térmicos ou a certos tipos de pragas e doenças; ou ainda, consumir menos água. Foi o que a “Embrapa Clima Temperado” conseguiu na cultura do arroz. O cultivar de arroz irrigado “BRS A502” é feito em terras altas, sem áreas inundadas (comuns no cultivo do cereal) ou com irrigação complementar. Mesmo com uma produtividade inferior, a tecnologia abre a possibilidade de cultivo em regiões mais secas e integradas a outras plantas.
A agricultura de precisão também pode impactar positivamente na gestão dos recursos hídricos das lavouras por meio de sensores de monitoramento e tecnologias de aplicação. Sensores terrestres que monitoram a umidade do solo fornecem dados em tempo real sobre a disponibilidade de água em pequenas áreas, permitindo irrigações precisas para cada talhão, somente quando necessário. Drones e imagens de satélite podem, ainda, identificar com precisão as variações de umidade em diferentes setores.
Na pecuária, a maior parte da produção bovina acontece em áreas de pastagens (grandes campos), onde cerca de 93% da água disponibilizada vem da chuva (a chamada “água verde”); outros 4% de águas superficiais e subterrâneas; e apenas 3% é utilizada para alguma diluição de efluentes no processo de produção. Boa parte do volume de água consumido pelo sistema, volta para os mananciais e reinicia o ciclo passando por diferentes fases.
O futuro da gestão da água na agricultura aponta para soluções cada vez mais inteligentes e sustentáveis. Práticas como reutilização e tratamento da água da chuva ganham destaque. Tecnologias de inteligência artificial prometem otimizar o consumo de água, enquanto a biotecnologia e o melhoramento genético desenvolvem culturas mais resistentes à seca. A integração de dados por meio de aplicativos e sensores também será essencial para uma gestão hídrica cada vez mais precisa e eficiente. A água é um recurso vital para a agricultura e seu uso merece respeito e responsabilidade.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.