Aspectos clínicos das lesões da Língua Geográfica que nos remetem aos mapas, especialmente pelas mudanças constantes de lugar.
Algumas pessoas têm áreas linguais despapiladas, com limites bem nítidos e circundadas por linhas brancas. Depois de dias ou semanas, elas mudam de lugar. Se o aspecto estático já faz parecer com mapas, estas mudanças constantes de fronteiras das lesões dá um dinamismo próprio e fez Bergeron, em 1864, criar o termo Língua Geográfica. Desde quando Rayer a descreveu pela primeira vez, em 1831, ela já recebeu mais de 20 nomes.
Ela é muito comum em todas as etnias, gêneros e idades, mas diminui sua frequência após os 30 anos de idade. Talvez porque aprendemos a lidar melhor com os fatos da vida e o estresse diminui. Sim, a Língua Geográfica tem tudo a ver com o estresse psicológico, inclusive nas crianças.
CAUSAS
A Língua Geográfica e a Psoríase na pele, têm o estresse emocional como causa e microscopicamente são idênticas, além de afetarem boa parte da população. Em análise de 118 pacientes psoriáticos, em pesquisa comHFS Gonzaga, Professor da Unifesp, observamos que 13,6% tinham Língua Geográfica, contrastando com 3% nas pessoas normais. Isto reforça a ideia de que a ela possa ser uma forma bucal da Psoríase.
Pacientes com Atopia são os que têm duas das três manifestações clínicas alérgicas anafiláticas mais comuns: rinite alérgica, dermatite e asma brônquica. A Atopia estava presente em 34% dos 88 portadores de Língua Geográfica nesta pesquisa. Isto não significa que seja uma doença alérgica, mas que deve ter alguma relação causal.
Não há evidências que a Língua Geográfica seja hereditária, apesar de algumas alterações genéticas ter sido encontrada em portadores e, eventualmente, afetar vários membros de uma mesma família, mas sem metodologias adequadas.
QUANDO E COMO
O diagnóstico da Língua Geográfica é clínico pela presença de áreas com descamação múltipla das papilas filiformes. As áreas ficam avermelhadas, circundadas por linhas brancas ou amareladas. Estas áreas desaparecem ou mudam de posição em curtos períodos de tempo, dando à língua um aspecto mais geográfico ainda. As papilas fungiformes nestas áreas não desaparecem. As lesões quase sempre se limitam ao dorso lingual, e raramente, estendem às margens e ventre da língua.
A manifestação é transitória, desaparecendo por dias a anos. Muitos pacientes nem sabem que tem, apesar da ardência ou queimação em 53,4% dos portadores, especialmente frente a alimentos ácidos e condimentados. Em 10% dos adultos não há diagnóstico durante a vida toda, apesar de ter início ao redor de 6 a 12 meses, mas detectada pela primeira vez entre 4 a 4,5 anos de idade. A língua geográfica precede a língua fissurada em 18 a 50% dos casos.
QUE FAZER
Não tem tratamento e cura, sendo o mais importante a orientação ao paciente quanto a conviver com a lesão, esclarecendo que: 1. Há relação da sintomatologia com certos alimentos ácidos e condimentados. 2. Há associação da Língua Geográfica com as condições de vida como o estresse emocional, que deve ser contornado ou tratado. 3. Não há evolução da doença para o câncer na língua, que, se ocorrer, será por superposição. 4. Se possível, evitar o tabaco de qualquer forma e a ingestão de bebidas alcoólicas, pois a mucosa lingual se encontra fragilizada e atuarão mais intensamente sobre as células. 5. Enxagues, pomadas, cremes, vitaminas, suplementos e outros produtos têm efeito placebo, pois o que vale é uma boa higiene bucal e alimentação adequada.
REFLEXÃO FINAL
A Língua Geográfica é a somatização do estresse emocional que representa sua principal causa, ao qual deve se procurar controlar. A qualidade da alimentação e o estilo de vida, incluindo ausência de vícios como o tabaco e álcool, são fatores que facilitam o paciente a conviver em harmonia com a lesão.