
Por dois anos, P.O., 47 anos, tentou ignorar os sintomas da tuberculose. Fumante há décadas, ele acreditava que a tosse persistente era apenas um reflexo do hábito. “Sentia cansaço extremo, suava muito à noite e comecei a perder peso, mas nunca me senti à vontade para procurar ajuda. O medo do julgamento e da reação das pessoas me fez adiar a decisão de ir ao médico. Minha esposa insistia, preocupada, mas eu sempre dava uma desculpa”, relembra.
Com o tempo, sua condição piorou e até mesmo trabalhar se tornou um desafio. “Chegou um momento em que eu simplesmente não conseguia mais ignorar a situação. Minha saúde estava muito debilitada. Quando recebi o diagnóstico, já esperava, mas ainda assim foi um choque. O tratamento foi difícil, mas segui tudo à risca. Hoje, percebo o quanto foi perigoso adiar a busca por ajuda e quero alertar outras pessoas: quanto antes se inicia o tratamento, maiores são as chances de recuperação”, alerta.
A médica infectologista da Hapvida, Mônica Gama, alerta que o aumento dos casos de tuberculose no Maranhão reflete não apenas a alta carga da doença no Brasil, mas também a vulnerabilidade social da população. “A tuberculose está diretamente ligada às condições socioeconômicas, como moradia precária, desnutrição e trabalho inadequado”, explica. Além disso, fatores biológicos, como a redução da resposta imunológica em crianças pequenas e em pessoas com comorbidades, como HIV e diabetes, também aumentam o risco de contrair a infecção.
Outro fator que contribuiu para a identificação de novos casos foi a pandemia de COVID-19. “Muitas pessoas procuraram atendimento achando que tinham gripe ou COVID-19 e, com isso, conseguimos diagnosticar a tuberculose mais cedo”, destaca a especialista.
A principal medida de prevenção é a vacinação de todas as crianças com a BCG ao nascer. “Nenhuma criança deveria sair da maternidade sem ser vacinada”, alerta Mônica. Além disso, hábitos como cobrir a boca e o nariz ao tossir, manter os ambientes bem ventilados e evitar aglomerações ajudam a reduzir a transmissão da doença. Vale ressaltar a importância de procurar assistência médica ao sinal de tosses persistentes, para favorecer o diagnóstico precoce e evitar o agravamento da doença e a contaminação de outras pessoas.
Cenário
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Maranhão registrou 12.955 casos de tuberculose entre 2020 e 2024. O número de notificações aumentou progressivamente ao longo dos anos: em 2020, foram registrados 2.110 casos. Em 2021, 2.397. As estatísticas continuaram a crescer em 2022 (2.687 casos), 2023 (2.808 casos) e 2024 (2.955 casos).
Para combater a doença, a SES tem intensificado ações de capacitação para profissionais de saúde e promovido campanhas de conscientização em todos os 217 municípios do estado. Também são realizadas buscas ativas de casos no sistema prisional e em comunidades indígenas, com o objetivo de agilizar tanto o diagnóstico quanto o tratamento. “O controle da tuberculose depende do compromisso de todos, desde a vacinação até a adesão ao tratamento adequado”, conclui a infectologista Mônica Gama.