Ao redor da coroa dentária, este espaço escuro ou radiolúcido (*) contem o folículo pericoronário
Primeiro é necessário definir o que é um dente. Para as pessoas comuns, dente são órgãos formados pelos tecidos duros ou mineralizados que tem um canal onde se encontra a polpa, por muito tempo chamada simplesmente de nervo do dente. A polpa formou a maior parte do dente, a dentina, e agora ela fica no canal para lhe dar sensibilidade.
É incrível o fato da polpa ser o único tecido do corpo humano que não dá origem a nenhum tipo de câncer. Isto é um segredo que ela guarda e não conseguimos ainda desvendar, o que talvez nos ajudaria a compreender melhoro câncer e o tratar de forma diferente, muito melhor,quando ocorresse nos demais tecidos.
Os outros dois tecidos mineralizados do dente, o esmalte e cemento, também não têm como dar origem ao câncer, mas as células que os produzem sim, como os ameloblastos e os cementoblastos. Onde ficam estas células? Nos dentes completamente formados, o esmalte está exposto na boca e os ameloblastos morrem naturalmente. Já os cementoblastos, ficam aderidos a vida toda na superfície das raízes, produzindo cemento como uma camada bem fina de material adesivo ligando dente e osso, inserindo as fibras do ligamento periodontal.
Em dentes não irrompidos dentro do osso,erroneamente chamados de dentes “inclusos”, os ameloblastos formam o esmalte ou estão aderidos a ele de forma atrófica, isolando-se a coroa dentária do osso ao seu redor. Este tecido mole aderido ao esmalte, onde se tem ameloblastos e derivados, é chamado de folículo pericoronário. Ou seja, dentes não irrompidos possuem alguma forma de ameloblastos, como alguns de seus precursores ou atróficos, em forma de muitas ilhotas e cordoes de células persistentes ou remanescentes.
As neoplasias representam perda de controle da proliferação celular por alguns tecidos. Isto pode ser localizado, focal e isolado pelo corpo, quando são chamadas de neoplasias benignas. Mas, as vezes proliferam desordenadamente, invadem os tecidos vizinhos, destruindo-os e até se esparramam pelo corpo,gerando filiais chamadas de metástases. Estas características são típicas das neoplasias malignas.
Os ameloblastos e os cementoblastos, podem dar origem a neoplasias benignas e, muito raramente, malignas. Quando se remove um dente posicionado na boca, os cementoblastos tendem a sair aderidos nas raízes, podendo ficar eventualmente alguns raros remanescentes.
Já nos dentes não irrompidos ou “inclusos”, como os terceiros molares ou dentes do siso, a exodontia leva à saída do dente, mas os seus folículos pericoronários que estavam aderidos ao esmalte, tendem a ficar aderidos no retalho cirúrgico ou no osso adjacente. Se a intenção ou indicação era tirar este dente para prevenir-se de alguma neoplasia benigna ou maligna, e tirarmos apenas o “dente” de tecidos mineralizados, deixaremos os tecidos moles do folículo pericoronário na loja cirúrgica, e o objetivo não foi alcançado. O “dente” de tecidos mineralizados ou duros não dá origem a nenhum câncer.
REFLEXÃO FINAL
O ideal em uma cirurgia para a exodontia de dentes não irrompidos, é procurar o folículo pericoronário após a saída do “dente” de tecido duro, pois ele não sai aderido ao esmalte. Ao removê-lo, deve ser analisado ao microscópio e receber um laudo. Se o folículo pericoronário ficar na loja cirúrgica e nem for analisado microscopicamente, a prevenção de neoplasias benignas e malignas não foi efetiva, não ocorreu na realidade. Estamos evoluindo para que isto seja regra geral.
Ao analisar-se microscopicamente os folículos pericoronários, pode se descobrir neoplasias em suas fases mais incipientes possíveis. As doenças se iniciam muito pequenas e nem mudam ainda o aspecto clínico ou radio e tomográfico. E quando tratadas no seu início, os danos funcionais e estéticos são mínimos ou inexistentes. Dente, do ponto de vista biológico, não é somente de tecidosduros, mas também tem os tecidos moles que o circundam,como o ligamento periodontal e o folículo pericoronário.