Com a morte do Papa Francisco, a Igreja Católica Apostólica Romana retoma um de seus ritos mais tradicionais e emblemáticos: o conclave, processo que define o novo líder máximo da Igreja. Realizado na Capela Sistina, no Vaticano, o conclave reúne cardeais do mundo inteiro em um ambiente de isolamento absoluto, onde são conduzidas votações secretas até que um novo pontífice seja eleito. O evento também inspira produções culturais, como o recente filme “Conclave”, indicado ao Oscar e dirigido por Edward Berger.
Durante o período conhecido como Sé Vacante, quando a cadeira papal está vaga, o comando administrativo da Igreja passa às mãos do camerlengo — atualmente, o cardeal Kevin Joseph Farrell — e ao Colégio dos Cardeais. A eles cabe organizar a transição, incluindo a data do funeral do papa falecido, as reuniões preparatórias e a logística do processo eleitoral. O decano do Colégio, Giovanni Battista Re, preside essas congregações gerais, que também servem como espaço de reflexão sobre os desafios e as qualidades necessárias ao novo pontífice.
Encerradas as reuniões preliminares, os cardeais com menos de 80 anos (atualmente 138) seguem para o isolamento. Eles são hospedados na Casa de Santa Marta e ficam incomunicáveis: não têm acesso a internet, telefones, jornais ou qualquer contato com o mundo exterior. No dia da votação, o ritual começa com uma missa solene na Basílica de São Pedro, seguida de uma procissão à Capela Sistina, onde os religiosos entoam cânticos como Veni, Creator Spiritus e se posicionam diante do célebre afresco do Juízo Final, de Michelangelo.
Antes do início da votação, os cardeais fazem um juramento de sigilo absoluto, cuja violação implica excomunhão. Em seguida, é proferido o tradicional “Extra omnes”, que ordena a saída de todos que não participarão da eleição. A partir desse momento, o conclave está oficialmente iniciado.
A eleição exige que um cardeal obtenha dois terços dos votos válidos. A votação é feita em cédulas com a frase “Eligo in summum pontificem” (Elejo o Sumo Pontífice), que cada cardeal deposita no altar enquanto jura agir com consciência e diante de Deus. Os votos são perfurados, alinhados com linha e agulha, e depois queimados. A fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina — preta, se ninguém for eleito, ou branca, caso haja um vencedor — é o símbolo visível para o mundo do andamento da escolha.
Se não houver definição nos três primeiros dias, é feita uma pausa para oração, seguida de novas rodadas. Persistindo o impasse, os dois nomes mais votados passam a disputar diretamente, mas a exigência dos dois terços dos votos se mantém.
Uma vez eleito, o novo papa escolhe seu nome e veste, ainda dentro da Capela Sistina, as vestes papais na chamada “Sala das Lágrimas”. Logo após, é apresentado à multidão na Praça São Pedro com o anúncio: “Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam” — “Com grande alegria, anuncio que temos um Papa”.
O conclave, com seus rituais solenes, mantém viva uma das mais antigas e simbólicas tradições da Igreja, ao mesmo tempo em que prepara a instituição para um novo ciclo sob a liderança de um novo pontífice.