Ciência e arte são atividades reflexivas que requerem tempo, espaço e paz de espírito para pensar, criar e propor o progresso. O mundo barulhento e o capitalismo selvagem não permitem que humanos pensem e reflitam, pois podem questionar o sistema. Ciência e arte libertam as almas humanas e andam juntas.
Para contrapor à opressão e ignorância, surgiu a universidade. Nesta semana observou-se a grandeza da Universidade de Harvard frente a um dos humanos mais poderosos, resistindo à sua ingerência indevida e intolerante. A essência universitária é formar seres analíticos, críticos e criativos, com capacidade paradecidir e até julgar, se preciso for. Universidade é a única instituição com esta missão.
POR QUÊ?
Na idade média imperava a ignorância e maldade. Mario Livio, em seu livro “Galileu e os negadores da ciência”,compara aquela época com a de hoje. Ele traçou um paralelo do tempo que vivemos, com a luta de Galileu contra a pseudociência. É incrível a semelhança entre as duas épocas, apesar de separadas pelo longo tempo.
Na idade média os jovens queriam outro tipo de vida, questionando e aprendendo, pois acreditavam na evolução humana. Os embriões das universidades nasceram livres e foi iniciativa de pessoas que desejavam aprender e procuravam um mestre para ensinar.
Esses grupos se formavam independentes de qualquer autoridade civil ou religiosa, se reuniam em certoslugares e tinham pessoas de todo mundo, leia-se imigrantes. Os grupos recebiam o nome de “StudiaGeneralia” ou “Estudos Gerais”. Foram ganhando respeito e prestígio, recebiam pessoas de todas as origens, ensinavam as artes e pelo menos uma das grandes disciplinas da época como direito, teologia e medicina.
Os grupos tratavam sobre todos os assuntos e passaram adesfrutar de imunidades contra a prisão injusta, moradia com segurança, direito de interromper os estudos e proteção contra extorsão em negócios com donos de pensões, restaurantes etc.
Quando os ‘Studia Generalia” eram consentidos pelas autoridades, também eram chamados de “Universitas”.Quando o rei, bispo ou governante começava a interferir para converter estes grupos em instrumentos de sua vontade, iam com sua música, arte e conhecimento para outra parte. Não havia problema de idioma, o latim era a língua popular.
AUTONOMIA
Apesar de muitos ignorarem, até hoje se tem a autonomia universitária, e é lei. Para que a polícia entre no campus, devem ter autorização dos reitores, ou será ilegal. Talvez, “muitos não sabem disto” por conveniência ou desvio autoritário. Os poderes constituídos devem respeitar esta independência de pensamento e atitudes da comunidade universitária.
Em sociedade evoluída se tem a liberdade acadêmica absoluta. O espírito crítico precisa de espontaneidade para florescer em criatividade e morre quando a utilidade, conveniência e pragmatismo convertem-se em instância suprema.
A verdadeira universidade sempre foi um lugar de encontros livres para se discutir ideias, manifestar inquietações, realizar críticas políticas e sociais, livre de autoritarismo e do fantasma de punições que minimizam o homem e instituições.
As primeiras universidades foram de Bologna (1088), Oxford (1096), Salamanca (1134), Paris (1160), Cambridge (1209), Pádua (1222), Nápoles (1224), Siena (1240) e Coimbra (1290). Nas Américas, as mais antigas são Santo Domingo (l538), San Marcos no Peru (1551), México (1553), Harvard (1636), Bogotá (1662), Cusco no Peru (1692), Yale (1701), Havana (1728), Santiago (1738) e Filadélfia (1755).
REFLEXÃO FINAL
A interferência de Trump na Universidade de Harvard, em Boston, foi prontamente rechaçada e se fez resistência, enchendo de esperança e orgulho a todos que vivem a essência da verdadeira universidade. Nauniversidade, não se deve ter espaço para a covardia e acomodação.
Uma universidade com frases como esta de John Milton em suas paredes e que prega a verdade em seu brasão, tem muita força moral contra a intolerância.