As exportações brasileiras de carne de frango recuaram 1,5% em maio, até a quarta semana do mês, após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. O episódio desencadeou uma série de embargos por parte de mais de 40 países, incluindo importantes compradores da proteína brasileira, afetando diretamente o desempenho do setor, segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) na segunda-feira (26).
A média diária de exportação de carnes de aves e miudezas comestíveis — categoria amplamente composta por carne de frango — caiu para 19,9 mil toneladas, abaixo das 20,2 mil toneladas por dia registradas em maio de 2024. Antes do caso no Sul, os números preliminares da terceira semana ainda indicavam leve alta de 0,2% na comparação anual. Com a repercussão do foco de gripe aviária, o cenário virou.
Embora o volume exportado tenha recuado, o preço médio da tonelada ainda mostra alta em relação ao ano passado, com valor de US$ 1.808 (cerca de R$ 10.250). No entanto, houve uma leve queda em relação ao observado nas semanas anteriores de maio.
Segundo relatório do Itaú BBA, os efeitos negativos tendem a se intensificar caso surjam novos focos da doença. Mesmo se o caso permanecer restrito ao Rio Grande do Sul, é provável que as exportações sofram redução também no mês de junho. O impacto final, aponta o banco, dependerá diretamente do sucesso das negociações entre o governo brasileiro e os países que impuseram bloqueios totais ou parciais.
Entre os que aplicaram embargo total à carne de frango brasileira estão a China (maior compradora em 2023), África do Sul, Filipinas, União Europeia, México, Iraque e Coreia do Sul — esta última sinalizou que poderá regionalizar o embargo, limitando-o ao estado gaúcho. Outros países importantes, como Arábia Saudita, suspenderam apenas os embarques originários do Rio Grande do Sul, permitindo que a produção de outros estados continue fluindo. Emirados Árabes Unidos e Japão restringiram a suspensão à cidade de Montenegro, onde foi identificado o foco da gripe aviária.
Essa regionalização pode ajudar a mitigar parte das perdas, já que os frigoríficos podem redirecionar suas exportações a partir de estados não afetados. Por outro lado, países de menor representatividade comercial optaram por embargar a carne de frango de todo o território brasileiro.
No domingo (25), o Ministério da Agricultura informou que sete casos suspeitos foram descartados, incluindo um em granja comercial de Santa Catarina. Outros 12 casos ainda estão sob investigação, mas exames preliminares em Tocantins já indicaram resultado negativo. A maioria dessas notificações refere-se a aves silvestres ou galinhas de subsistência, que não geram restrições comerciais.
Na avaliação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o foco de gripe aviária estaria contido. Segundo ele, o Brasil mantém um sistema de vigilância “muito ativo”, e não foram detectados novos casos desde o primeiro registro. Fávaro afirmou que o país entrou, na última quinta-feira (22), em um período crítico de 28 dias para se autodeclarar livre da doença — prazo que depende da ausência de novos casos e do sucesso nas ações de desinfecção.
Analistas avaliam que o efeito dos embargos sobre os preços internos e as margens da indústria depende do grau de restrição mantido pelos países importadores. O Itaú BBA aponta que, se não houver novos casos e o governo brasileiro conseguir avançar rapidamente na regionalização dos bloqueios, a queda nas exportações pode ser suavizada. Ainda assim, o banco avalia que dificilmente a situação será normalizada em menos de um mês.