A Azul anunciou nesta semana uma ampla revisão em seu plano de negócios após formalizar o pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, por meio do chamado Chapter 11. A medida, esperada por parte do mercado, inclui a redução de 35% da frota futura e uma reavaliação nas projeções de receita para os próximos anos. No final de março, a companhia operava com 184 aeronaves de passageiros, segundo dados do balanço do primeiro trimestre.
Apesar da expectativa do mercado, o anúncio gerou forte reação negativa entre investidores. As ações da Azul chegaram a cair 12% no Brasil logo após a abertura da Bolsa, e 30% no exterior antes do início do pregão em Nova York. No fechamento, os papéis recuaram 3,74%, cotados a R$ 1,03.
De acordo com a apresentação enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a decisão de reduzir a frota tem como objetivo tornar a empresa mais resiliente, reduzir a exposição ao câmbio e melhorar sua estrutura de alavancagem. Como é comum no setor, grande parte das aeronaves é arrendada, e os custos de leasing pesam significativamente nas finanças. O Chapter 11 nos EUA permite suspender temporariamente essas obrigações, o que favorece a renegociação com credores.
A Azul também revisou suas projeções de receita. Para 2025, a previsão segue em R$ 22 bilhões, mas as estimativas para os anos seguintes foram reduzidas: de R$ 24,6 bilhões para R$ 23,1 bilhões em 2026, e de R$ 27,9 bilhões para R$ 24,9 bilhões em 2027.
Apesar da reestruturação, a empresa informou que suas operações seguem normalmente. Vendas de passagens, voos programados e o programa de fidelidade continuam ativos, sem alterações para os passageiros. Os benefícios e opções de resgate de pontos estão mantidos.
No plano apresentado a investidores, a Azul prevê reduzir em US$ 744 milhões as obrigações com arrendamentos de aeronaves entre 2025 e 2029. A reestruturação inclui ainda um pacote de US$ 1,6 bilhão em financiamento e até US$ 950 milhões em novos aportes de capital. Com isso, a expectativa da companhia é eliminar mais de US$ 2 bilhões em dívidas ao longo do processo.
Fontes do setor indicam que o processo de recuperação judicial nos EUA deve ser concluído até o final de 2025 ou início de 2026. Segundo técnicos da Secretaria de Aviação Civil (SAC), vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos, a medida era esperada após o prejuízo de R$ 1,8 bilhão registrado pela Azul no primeiro trimestre deste ano.
Com o novo cenário, interlocutores do setor avaliam que uma eventual fusão entre Azul e Gol se torna menos provável, pelo menos no curto prazo. O governo tem interesse em preservar a concorrência no setor, com pelo menos três grandes companhias aéreas atuando no país. Enquanto isso, segue em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) o acordo de compartilhamento de voos entre as duas empresas.