A Justiça do Maranhão marcou para o dia 30 de junho, às 8h15, o julgamento de Geraldo Abade de Souza, apontado como mandante do assassinato de sua ex-mulher, Graça Maria de Oliveira, e da enteada, Talita de Oliveira Frizeiro, em crime ocorrido em 2020 no bairro Quintas do Calhau, em São Luís. O julgamento ocorrerá no Salão do Júri da 3ª Vara do Tribunal do Júri do Fórum Des. Sarney Costa.
Graça tinha 57 anos e era sócia de uma empresa de locação de contêineres. Talita, de 27 anos, havia acabado de se formar em Engenharia Civil. As duas foram encontradas mortas no dia 7 de junho de 2020, enroladas em lençóis dentro do carro da família, estacionado na garagem da casa onde moravam.
Segundo a investigação conduzida pela Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), o crime teve como motivação uma disputa judicial pela partilha de bens entre Graça e Geraldo, que foram casados por 15 anos e estavam separados havia cinco. Decisões judiciais já garantiam à empresária a posse de parte dos bens do casal, incluindo imóveis e uma das empresas da família.
De acordo com a Polícia Civil, o crime foi encomendado por Geraldo, que viajou a Imperatriz no dia da execução para tentar afastar suspeitas. O pedreiro Jefferson Santos Serpa, que trabalhava em uma obra vizinha à casa das vítimas e era conhecido da família, foi preso dias depois e confessou ter recebido R$ 5 mil pelo duplo homicídio.
Durante o depoimento à polícia, Jefferson detalhou que entrou na residência com autorização da própria Graça, alegando que precisava falar com ela. Após imobilizá-la, também atacou Talita, que estava no imóvel. O executor contou que matou Graça por estrangulamento no banheiro e que Talita foi morta dentro do carro da família, após tentativa frustrada de asfixia, sendo golpeada com uma barra de ferro na cabeça.
Condenação do executor
Em agosto de 2022, Jefferson Serpa foi julgado e condenado pelo 3º Tribunal do Júri de São Luís a 56 anos de prisão em regime fechado pelos assassinatos. Ele respondeu por homicídio duplamente qualificado — por motivo torpe, uso de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. No julgamento, Serpa reafirmou em plenário ter sido contratado por Geraldo para executar os crimes, com intermediação de Maycon Douglas Rodrigues de Souza.
A investigação identificou que Geraldo teria solicitado o crime a Maycon, que por sua vez contratou Jefferson para a execução. Ambos também respondem como partícipes no processo, que atribui ao trio a prática de homicídio qualificado em concurso de pessoas.
Investigações e prisão
A polícia chegou ao executor após rastrear um dos celulares das vítimas, que havia sido levado e vendido por Jefferson a uma pessoa no bairro Divineia. O aparelho foi localizado, e as informações levaram à prisão do pedreiro, que confessou o crime em depoimento. Geraldo foi preso no dia 20 de junho de 2020, em Imperatriz, e transferido para São Luís, onde segue detido no Complexo Penitenciário de Pedrinhas.
Durante o interrogatório, realizado no dia 24 de junho daquele ano, o empresário negou participação no crime, mesmo após a confissão do executor e das evidências apresentadas pela delegada Viviane Fontenele, chefe do Departamento de Feminicídio da SHPP. Segundo ela, o crime foi minuciosamente planejado e executado com requintes de crueldade.
O que está em jogo no julgamento
Geraldo Abade será julgado por duplo feminicídio qualificado, em um processo que expôs, mais uma vez, os impactos brutais de crimes motivados por disputas patrimoniais e violência de gênero.
A sessão será acompanhada de perto por familiares das vítimas, que aguardam há cinco anos pela responsabilização do acusado. A expectativa é de que o julgamento encerre um dos casos mais emblemáticos de feminicídio registrados em São Luís nos últimos anos.