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Hospital da Ilha registra 32 casos de queimaduras por agressão contra mulheres

Dados foram apresentados pela Dra Carol Hortegal, diretora geral da unidade, durante a campanha Junho Laranja.

Fonte: Redação / Assessoria

Dra Carol Hortegal, diretora geral do Hospital da Ilha (Foto: Divulgação)

Mesmo com o encerramento do mês de junho, as marcas da violência continuam estampadas no corpo e na alma de muitas mulheres. A campanha Junho Laranja 2025, promovida em todo o país com foco na prevenção de queimaduras, revelou uma face sombria e urgente do problema: o uso do fogo como arma em contextos de violência doméstica e de gênero.

No Maranhão, os dados apresentados pela Dra Carol Hortegal, diretora geral do Hospital da Ilha e diretora científica da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ/MA), são alarmantes. Entre maio de 2023 e abril de 2025, a Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) do Hospital da Ilha atendeu 81 mulheres adultas com queimaduras. Dessas, 32 foram vítimas de violência — incluindo casos de tentativa de feminicídio e autoextermínio.

Sob o tema “Violência contra a mulher: Marcas no corpo, feridas na alma”, a edição 2025 da campanha foi marcada por ações intensas de conscientização, entrevistas em veículos de imprensa, visitas institucionais e articulações com órgãos do Estado. A iniciativa buscou ir além da prevenção de acidentes, propondo um olhar mais sensível e estruturado para o enfrentamento da violência contra a mulher.

“Essa campanha salva vidas. E mesmo com a conclusão do mês, o debate deve continuar. Por cada mulher. Por cada história. Por dignidade”, destacou a Dra. Carol Hortegal.

Dra Carol Hortegal, diretora geral do Hospital da Ilha (Foto: Divulgação)

Além de liderar mobilizações no Maranhão, Carol esteve no XV Congresso Brasileiro de Queimaduras e visitou o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), em Brasília, para troca de experiências. Também agradeceu o apoio do Governo do Estado, na figura do governador Carlos Brandão, e da equipe do Hospital da Ilha, especialmente os profissionais da Unidade de Tratamento de Queimaduras, reconhecidos pelo empenho e dedicação no cuidado diário às vítimas.

A dor por trás dos números

As estatísticas reunidas ao longo dos dois anos mostram uma realidade desafiadora. Das 81 mulheres adultas admitidas com queimaduras:
• 41 pacientes (50%) foram vítimas de acidentes domésticos, como no preparo de alimentos ou explosões de gás;
• 6 pacientes (7%) sofreram acidentes de trabalho;
• 32 pacientes (38%) foram vítimas de violência, subdivididas em:
• 14 casos de autoextermínio (44%)
• 13 tentativas de feminicídio (41%)
• 5 tentativas de homicídio (15%)

Em 2 casos (3%), a origem foi atrito — também relevante quando se investiga maus-tratos.

No total geral, a UTQ do Hospital da Ilha registrou 360 admissões entre maio de 2023 e abril de 2025: 201 adultos e 159 crianças. A maioria dos adultos era do sexo masculino (59%), mas os casos envolvendo mulheres chamam atenção pelo seu contexto de violência doméstica.

Quanto aos tipos de queimaduras em adultos:
• Térmica: 70%
• Escaldamento: 15%
• Elétrica: 10%
• Química: 5%

Já entre as crianças:
• Escaldamento: 53%
• Térmica: 41%
• Elétrica: 4%
• Atrito: 2%

“É fundamental destacar que muitas lesões classificadas como acidentais, principalmente em mulheres, podem esconder episódios de agressão. É preciso investigar com atenção e acolher com sensibilidade”, alerta a diretora.

Além do atendimento: um chamado à sociedade

A campanha Junho Laranja também foi um espaço de reconhecimento às ações públicas integradas, envolvendo saúde, segurança pública e assistência social. A atuação conjunta é essencial para garantir que mulheres vítimas de violência recebam não apenas o atendimento médico, mas o acolhimento psicológico, a proteção jurídica e a reparação social.

“Precisamos romper o silêncio e garantir que essas mulheres tenham acesso às redes de apoio. Cada cicatriz precisa ser tratada com dignidade, respeito e humanidade”, afirmou Carol Hortegal.

Dentre os 360 pacientes internados no período, 290 receberam alta hospitalar, entre adultos e crianças — um número expressivo que mostra a efetividade da assistência, mas também reforça a importância da prevenção e da continuidade do cuidado pós-hospitalar.

Um compromisso permanente

Para Carol Hortegal, o mês de junho termina, mas o compromisso com a causa é permanente. “A campanha foi apenas um impulso. Seguiremos trabalhando por políticas públicas eficazes, capacitação de equipes e proteção às vítimas. Pela vida. Pela dignidade. Contra a violência.”

“Que o Junho Laranja não fique restrito ao calendário. Que seja um marco de reflexão e ação contínua”, concluiu.

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