Sol nos lábios e a queilite actínica

Para evitar a radiação solar não basta ficar sob o guarda-sol, na sombra da varanda, dentro de casa com tudo aberto ou no carro

Fonte: Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC

 

Labios inferiores com queilite actínica ou solar são frequentes e para que não se transformem em câncer, só mesmo evitando a radiação solar e seus temidos raios ultravioletas.

Para evitar a radiação solar não basta ficar sob o guarda-sol, na sombra da varanda, dentro de casa com tudo aberto ou no carro. Os raios solares batem nos objetos, na areia, água, paredes, pisos e ricocheteiam atingindo as pessoas. Para evitar raios solares, só bem guardadinhos pelo teto, paredes, janelas e cortinas. E mesmo assim, com protetores solares na pele e lábios.

Se for para trabalhar no sol, que se abuse das abas, roupascompridas e protetores para diminuir as radiações, mas é difícil afirmar que estaremos totalmente protegidos. Os albinos, para evitar danos da radiação solar, praticamente trabalham à noite e dormem durante o dia, quando as condições sociais e econômicas permitem. E por isso, são chamados de “filhos da lua”.

Os brancos devem evitar o sol, mas muitos já têm os lábios com manchas brancas e vermelhas, ou com úlceras e rachaduras, as vezes recobertas por crostas sanguinolentas “melicéricas” ou semelhantes ao mel e cera ressecados. Ostratamentos, incluem a vermelhonectomia ou remoção dovermelhão labial, crioterapia e remoção a laser. Mas, muitos pacientes são pardos e pretos, que trabalham sob o sol.

Esses pacientes devem mudar o estilo de vida para que a queilite actínica não evolua para carcinoma, o que acontece em uma boa percentagem deles. Muitos são trabalhadores que precisam de ajuda para se encaixarem em outra atividade, pois são ambulantes, pedreiros, atletas, artesãos, agricultores, pescadores, salva-vidas e marinheiros.

O QUE OCORRE?

Os raios ultravioletas promovem mutações no DNA dascélulas epiteliais e alteram o funcionamento do gene p53 que controla a formação de uma proteína reguladora da divisão celular. Se a célula ficar com DNA modificado, a célula é induzida à apoptose pela ação do gene p53, em um verdadeiro suicídio celular, evitando o aparecimento do câncer.

Se este gene for mutado pelas radiações, a proteína p53 produzida fica diferente, deixa de controlar e reparar o DNA e se acumulam no interior das células, pois deixam de agir eelas proliferaram desordenadas, gerando células anormais, atípicas, bizarras e estranhas que invadem os tecidos vizinhos, estabelecendo-se o câncer de lábio.

Já algum tempo, observamos que a proteína p53 estava aumentada nos casos de queilite actínica examinadas com vários métodos, inclusive pela imunocitoquímica, em tese de doutorado sanduíche de Nilce Santos Melo, hoje professora da UnB, feito na USP e na Universidade do Porto.

REFLEXÕES FINAIS

Na queilite actínica, o revestimento labial fica com áreasvermelhas ou brancas, ulcerado ou rachado, porque as suas células epiteliais estão atípicas, bizarras ou displásicas, e não conseguem mais revestir ou proteger os tecidos contra os agentes físicos, químicos e microbianos. Os raios solares podem ser potencializados pelo tabagismo e álcool. Aqueilite actínica é a mais cancerizável das lesões bucais.

Ao consultar o cirurgião-dentista, aproveite e peça que avalie a normalidade dos seus lábios com seu aspecto sedoso, regularidade do vermelhão, presença de uma linha demarcadora com a pele fazendo o contorno lindo de uma boca saudável. Se persistir alguma dúvida, colha uma segunda opinião de dermatologista e estomatologista. Afinal, se os lábios estiverem comprometidos em sua beleza e função, o resultado do tratamento dentário fica comprometido.

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