A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em junho um novo tratamento para o câncer de próstata em estágio avançado, quando a doença já apresenta metástase e se torna resistente ao bloqueio hormonal convencional. A terapia combina o talazoparibe, conhecido comercialmente como Talzenna, da Pfizer, e a enzalutamida, vendida como Xtandi pela farmacêutica Accord.
Os dois medicamentos já eram utilizados separadamente para outros tipos de câncer, mas, juntos, demonstraram eficácia significativa em pacientes portadores de mutações genéticas ligadas ao reparo celular, conhecidas como HRR, que tornam os tumores mais agressivos e propensos a se espalhar rapidamente pelo organismo.
Um estudo de fase 3 publicado em 2023 na revista Nature Medicine apontou que a combinação reduziu em 55% o risco de progressão da doença ou morte quando comparada ao uso isolado da enzalutamida com placebo. Especialistas como o oncologista Frederico Leal, do Hospital das Clínicas da Unicamp, destacam que a terapia atua provocando a morte seletiva de células cancerígenas em proliferação, oferecendo uma alternativa promissora para pacientes cujo câncer avança mesmo após o bloqueio hormonal padrão.
A aprovação chega em um contexto alarmante para a saúde masculina no Brasil: dados do Ministério da Saúde indicam que 17.093 homens morreram de câncer de próstata em 2023, número próximo ao de mortes por câncer de mama entre mulheres no ano anterior, que chegou a 19.103 segundo o Inca. Atualmente, a doença mata em média 47 brasileiros por dia, e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) reforça que o rastreamento preventivo continua sendo a estratégia mais eficaz para reduzir a mortalidade.
A entidade recomenda consultas periódicas a partir dos 50 anos, ou dos 45 para homens com histórico familiar da doença ou pertencentes a grupos de risco. Apesar do avanço representado pela nova terapia, o tratamento ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e enfrenta a barreira do alto custo: o Talzenna custa cerca de R$ 40 mil por mês e o Xtandi, aproximadamente R$ 10 mil.
Para casos detectados em estágio inicial, permanecem indicadas terapias como prostatectomia radical, radioterapia e, em alguns cenários, quimioterapia ou radiofármacos. No entanto, para os pacientes que chegam ao consultório já em fase metastática e resistente ao bloqueio hormonal, a nova combinação de medicamentos amplia o arsenal terapêutico e oferece uma chance concreta de ganho em sobrevida e qualidade de vida.
A expectativa agora é de que o tratamento seja incorporado às diretrizes clínicas brasileiras e que políticas públicas de rastreamento e diagnóstico precoce avancem para reduzir o impacto do câncer de próstata, cuja incidência tende a crescer com o envelhecimento da população.