Nauro Machado, 90 anos

Poeta deixou livros inéditos, e o últim deles será lançado no dia 14 de agosto, no Convento das Mercês.

Fonte: Redação

Poeta Nauro Machado (Foto: Divulgação)

No sábado, 2 de agosto, o poeta Nauro Machado completou 90 anos de idade. Ele nasceu em São Luís, aqui escreveu sua obra poética (exceto Exercício do Caos), contabilizando quarenta e três livros de poesia, cinco de crônicas, artigos e ensaios, com algumas antologias. Faleceu há dez anos, no dia 27 de novembro de 2015.

Entre seus livros de poesia, seis ficaram inéditos. Cinco deles foram editados depois por Arlete Nogueira da Cruz Machado, sua esposa, que agora vai lançar o sexto e último, intitulado Um iceberg para a Praia Grande, no Convento das Mercês, “numa gentil deferência expressa sem delongas pelo Presidente da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Dr. Kécio Rabelo”, como considerou a esposa do poeta. O lançamento acontecerá no dia 14 de agosto próximo, às 19 horas, seguido de um show, às 20,30 horas, reunindo músicos maranhenses, grandes amigos do poeta: César Teixeira, Chico Maranhão, Chico Saldanha, Gerude, João Pedro Borges, Josias Sobrinho, Ronald Pinheiro e Sérgio Habibe.

Este último livro de Nauro é um poema de quase cinco mil versos em sextilhas, trazendo um prefácio do poeta, ensaísta e tradutor Alexei Bueno, com abas de Ricardo Leão, também poeta e ensaísta, grande conhecedor da poesia de Nauro, texto que aqui transcrevemos:

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Orelhas para um livro de Nauro Machado

Ricardo Leão

Um Iceberg para a Praia Grande (2025), de Nauro Machado, é, com todo efeito, uma obra poética densa e visceral, que mergulha de forma abissal nas profundezas da existência humana, explorando temas bem conhecidos da obra naurina, como a morte, a solidão, a memória e a busca incessante pelo sentido da vida. Sem dúvida, este livro é um testemunho lírico da condição humana, no qual o poeta se confronta com as angústias do ser, a passagem do tempo e a inevitabilidade do fim. A morte, que sempre foi o grande tema da obra de Nauro Machado, assombra cada verso, cada palavra deste extraordinário poema.

Através de imagens poderosas e metáforas complexas (oximoros de tons surrealistas, que sempre caracterizaram o discurso poético do autor), Machado constrói um universo lírico que oscila entre o real e o onírico, o corpóreo e o espiritual. O “iceberg” do título simboliza tanto a imensidão oculta das emoções humanas quanto a frieza e a solidão que permeiam a existência. A “Praia Grande”, bairro histórico que é o grande locus físico da obra naurina, por sua vez, evoca um espaço geográfico e emocional, no qual o poeta lança suas reflexões sobre a vida e a morte, a carne e o verbo, o passado e o presente.

Os versos de Machado são marcados por uma linguagem rica e multifacetada, que combina o erudito com o coloquial, o sagrado com o profano, o moderno e o clássico. O poeta navega por temas como a decadência do corpo, a efemeridade da vida, a relação com os ancestrais e a busca por uma transcendência que parece sempre fugidia, como se a consciência, naúfraga do existir, tentasse em vão escapar do silêncio e do nada. A morte é uma presença constante, não como um fim, mas como uma companheira silenciosa que acompanha cada passo do poeta.

As imagens de náufragos, mares, túmulos e ossos percorrem o texto, criando uma atmosfera de desolação e, ao mesmo tempo, de beleza sombria. O poeta se vê como um náufrago em sua própria existência, lutando contra as correntes do tempo e da memória, enquanto busca um porto seguro que nunca chega. A linguagem é muitas vezes fragmentada, refletindo a própria fragmentação do ser e a dificuldade de encontrar uma unidade na experiência humana.

Um Iceberg para a Praia Grande, o último livro inédito do grande poeta maranhense, é uma obra que desafia o leitor a mergulhar em suas camadas mais profundas, onde a dor e a beleza coexistem em um equilíbrio precário. Nauro Machado nos convida a refletir sobre o que significa estar vivo em um mundo onde a morte é a única certeza, e onde a poesia surge como um último refúgio contra o vazio. Este livro é um testemunho da resistência humana diante da inevitabilidade do fim, e uma celebração da palavra como instrumento de sobrevivência e transcendência à beira da morte.

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