Tarifaço trava 2 mil toneladas de mel brasileiro nos EUA e ameaça pequenos produtores

Para o consumidor brasileiro, a consequência imediata pode ser a queda nos preços internos

Fonte: Da redação

A sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros já causa impacto imediato no setor de mel. Desde 9 de julho, mais de 2 mil toneladas do produto, destinadas ao mercado norte-americano, estão paradas. As exportações de julho ficaram cerca de 50% abaixo do esperado, segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), e o cenário preocupa produtores e exportadores — os Estados Unidos são historicamente o principal destino do mel nacional, absorvendo cerca de 80% das vendas externas do Brasil.

Renato Azevedo, presidente da Abemel, alerta que o efeito é ainda mais grave porque grande parte da produção vem da agricultura familiar. O país conta com cerca de 200 mil a 300 mil apicultores ativos, que dependem diretamente das exportações para manter sua renda. Com a queda nas vendas para os EUA, será necessário buscar novos mercados ou redirecionar o produto ao consumo interno — algo desafiador, já que o brasileiro tende a consumir mel apenas em situações pontuais, como no tratamento de gripes e resfriados.

A possibilidade de redirecionar o mel para outros mercados, como a União Europeia — segundo maior destino do produto — também encontra barreiras. A certificação exigida pelos europeus passou a ser individual para cada apicultor, tornando o processo mais caro e complexo, sobretudo para pequenos produtores. Nos EUA, empresas exportadoras ainda conseguem criar “projetos orgânicos”, assumindo os custos da certificação para seus fornecedores, mas na Europa essa alternativa deixou de existir.

O mel orgânico brasileiro segue sendo um diferencial competitivo no mercado americano, especialmente no segmento de “mel de mesa”, envasado e vendido diretamente ao consumidor. Já no segmento de “mel para ingrediente”, utilizado em produtos industrializados como iogurtes e barras de cereal, a concorrência de países como Argentina, Uruguai e Ucrânia tende a dificultar a permanência do produto brasileiro.

Para o consumidor brasileiro, a consequência imediata pode ser a queda nos preços internos. Com maior oferta e menor demanda externa, o valor do produto no mercado nacional deve cair, segundo a Abemel. Mas o que alivia o bolso do consumidor agrava a situação financeira dos apicultores: a Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) alerta que um apicultor com renda média mensal de R$ 4 mil pode ser fortemente afetado pela desvalorização do produto.

Historicamente, a maior parte da produção nacional é exportada. Em anos recentes, como 2020 e 2021, as vendas para o exterior atingiram recordes impulsionadas pela pandemia, que aumentou a demanda por alimentos naturais. Em 2023, porém, as exportações para os EUA recuaram, e 2025 marca mais um capítulo desafiador para o setor, agora sob impacto do tarifaço.

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