Inadimplência atinge 30,2% dos brasileiros e alcança maior nível em quase um ano

Mesmo com os indicadores elevados, a CNC projeta que o endividamento deve começar a desacelerar nos próximos meses

Fonte: Da redação com CNC

A inadimplência dos consumidores brasileiros subiu em julho e atingiu 30,2% da população, o maior patamar desde setembro de 2023, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O aumento de 0,5 ponto percentual em relação a junho veio acompanhado da alta no número de famílias que afirmam não ter condições de pagar dívidas, que passou para 12,7%, maior índice desde dezembro do ano passado.

O levantamento indica que o endividamento total das famílias se manteve praticamente estável, em 78,5% (+0,1 p.p.), mas traz sinais de mudança no perfil das dívidas. Pelo sétimo mês consecutivo, os prazos de pagamento ficaram mais curtos, com queda na participação de débitos superiores a um ano, agora em 31,5%. Isso reflete um uso mais defensivo do crédito, concentrado no curto prazo.

Segundo a CNC, o quadro preocupa principalmente entre famílias de renda baixa e média, além do público feminino, que apresentaram piora simultânea no endividamento e na inadimplência. Há um ano, esses índices eram menores — 28,8% de inadimplentes e 11,9% sem condições de pagar. “O brasileiro chegou ao limite da capacidade de contrair novas dívidas. É preciso atenção para evitar que essa situação afete o comércio e os serviços”, alerta o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

O tempo médio de atraso também aumentou: 47,5% dos inadimplentes estão com contas vencidas há mais de 90 dias. Por outro lado, houve pequena melhora em alguns indicadores, como a redução das famílias que comprometem mais da metade da renda com dívidas, de 19,2% para 18,9%, e queda do comprometimento médio dos ganhos, para 29,4%.

O cartão de crédito segue como principal modalidade de endividamento, utilizado por 84,5% dos entrevistados, mas com recuo de 1,5 p.p. em relação a 12 meses atrás. Os carnês vêm ganhando espaço e já representam 16,8% das dívidas, superando o crédito pessoal, que aparece com 10,6%. Para o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, essa mudança indica busca por alternativas menos onerosas e mais previsíveis.

O estudo também aponta que famílias com renda entre três e cinco salários mínimos registraram as maiores altas anuais, com o endividamento avançando para 81,3% (+1,7 p.p.) e a inadimplência para 28,7% (+1,6 p.p.). Entre as mulheres, o endividamento recuou 0,2 p.p. em um ano, mas subiu 0,9 p.p. no mês, enquanto a inadimplência cresceu 1,4 p.p., chegando a 30,7%. Já entre os homens, a parcela sem condições de pagar chegou a 12,8%, alta de 1,1 p.p. frente a julho de 2024.

Apesar do cenário, a CNC projeta desaceleração gradual do endividamento nos próximos meses, impulsionada por juros altos e maior cautela das famílias. Ainda assim, a entidade prevê que 2025 deve encerrar com índices superiores aos de 2024, com alta de 1,1 p.p. no endividamento e de 1,4 p.p. na inadimplência.

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