Chamar de controverso é tentar desqualificar o outro,teatralizando, pois os argumentos se esgotaram.
Se disser: 1) Que cor de burro quando foge não existe, e que é “corro de burro quando foge”, pois fica violento, 2) Que quem não tem cão, caça como o gato, ou seja, sozinho,3) Que quem tem boca vaia Roma, que representa o poder central, como no império romano, 4) Que “a Deus ajuda, quem cedo madruga”, porque acordas cedo e trabalha mais, ficando fácil de ser ajudado. É provável te chamem de controverso.
Na discussão, se seu argumento está perdendo força, diga que o assunto é muito polêmico ou controvertido e se deve ter bom senso. Como a maioria dos pais ensinam fugir de discussões, quase todos aprendem que bom senso implica em aceitar sem questionar, que todos tem sua razão e que melhor seria deixar assim como está. O resultado sãomentes amorfas, cidadania passiva e pessoas com horror às ações comunitárias. Os verdadeiros conscientes, detestam o bom senso.
O pensamento científico e inovador requer observadores e questionadores, ou críticos e polêmicos. Às crianças,devemos ensinar o hábito de questionar, perguntar, duvidar e crer apenas depois de comprovar. No geral, este hábitoinfantil é considerado ruim e se a criança persistir, dirãoque tem algum problema a rotular. O cientista, inovador e empreendedor necessariamente devem ter estas características que podem ser induzidas nas crianças.
MAIS DICAS DO MAL
Para ganhar discussão, se o assunto estiver truncado, digaque isto deve ser genético ou hereditário. Pronto, ganhou a discussão, todos disfarçam, mudam o assunto, concluem ou concordam, afinal quem sabe sobre genética ou hereditariedade? Quase ninguém, mesmo entre as quepensam que sabem.
Dica infalível para ganhar discussões, é dizer “o que acabei de mostrar é cientificamente comprovado”. Se ouvir istoindague qual foi o método de análise, em que revista foipublicado os resultados, quais foram as limitações das conclusões? No próprio meio cientifico é comum ouvir “isto foi estatisticamente significante”. Pergunte qual o grau de subjetividade na coleta dos dados e se outros autores conseguiram resultados semelhantes?
Grandes pensadores sempre duvidaram de estatísticas. Para Benjamin Disraeli existem três tipos de mentiras: as pequenas, as grandes e as estatísticas. Já Gregg Easterbrookrecomendava: torture os números e eles confessarão qualquer coisa. Churchill foi mais reservado: só confio nas estatísticas que eu mesmo falsifico. Eles não estão totalmente certos, nem errados, mas inquietaram quando disseram. Agora a moda é dizer que tudo é por algoritmo! E assim todos se calam.
Em ciência vale o discernimento, questionamento eceticismo. Científico é tudo aquilo que foi metodicamente planejado, aplicado e testado para evitar qualquer subjetividade ou acaso. E a mais fundamental das características para se ter a natureza cientifica é serpublicado e disponibilizado para checagem de quem quer seja, caso contrário, desconfie. “Eu acho, na minha experiência, eu penso que, na minha opinião” nada valem na ciência.
E no mundo digital, as teses, dissertações, monografias e outras formas de apresentação de resultados científicos ficam cada vez mais válidos do que anteriormente, pois estão muito mais acessíveis, ainda mais com os tradutores imediatos disponíveis. Quer um artigo ou tese, é só ir à luta para resgatar os dados desejados.
REFLEXÃO FINAL
Não discuta, apresente claramente suas ideias ouraciocínios, e na ciência, deixe os resultados falarem por você. Se as ideias forem boas e oportunas, serão adotadas, caso contrário, não eram tão boas assim e o momento não era aquele.
Ganhou uma discussão, perdeu um amigo. Não vale a pena. Me lamento por ter aprendido isto muito tarde na vida acadêmica. José Saramago disse: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”