Jovens brasileiros de 15 a 29 anos que conseguem equilibrar trabalho e estudo apresentam níveis mais elevados de alfabetismo, segundo dados inéditos do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) divulgados nesta terça-feira (12). O levantamento mostra que 16% dos jovens nessa faixa etária estão nessa condição — e, nesse grupo, 65% têm alfabetismo consolidado, enquanto apenas 7% são classificados como analfabetos funcionais.
O contraste é evidente quando comparado aos que atuam apenas no mercado de trabalho, que somam 39% dos jovens: entre eles, a taxa de analfabetismo funcional sobe para 17% e o índice de alfabetismo consolidado cai para 45%. Percentuais semelhantes também foram observados entre os que apenas estudam e aqueles que não estudam nem trabalham.
Para Ana Lúcia Lima, coordenadora do Inaf e sócia da consultoria Conhecimento Social, a relação entre estudo e trabalho cria um “ciclo virtuoso”, no qual as habilidades aprendidas na escola são aplicadas no dia a dia e, ao mesmo tempo, as experiências profissionais enriquecem o aprendizado formal. “Trabalhar e estudar simultaneamente não só melhora a leitura e a escrita, mas fortalece a autonomia e a capacidade de interpretar o mundo”, afirma.
O estudo ressalta que não é necessário iniciar no mercado de trabalho já aos 15 anos, mas que o acesso a experiências profissionais durante a juventude amplia as competências e oferece oportunidades complementares de desenvolvimento. “O ambiente de trabalho funciona como extensão da sala de aula, permitindo vivências práticas, interação com diferentes pessoas e a aplicação de habilidades que vão além do que está nos livros”, observa Lima.
Ainda segundo o Inaf, entre os jovens com até o 5º ano do Ensino Fundamental, 71% são analfabetos funcionais — evidenciando o forte impacto da baixa escolaridade. No recorte de gênero, mulheres jovens com analfabetismo funcional têm maior probabilidade de não estudar nem trabalhar (42%) em comparação aos homens (17%). Já entre os homens, 56% estão apenas no mercado de trabalho.
A desigualdade racial também aparece nos resultados: jovens negros registram maior incidência de analfabetismo funcional (17%) e menor presença no grupo de alfabetismo consolidado (40%), frente aos jovens brancos (13% e 53%, respectivamente).
Para Mônica Pinto, chefe de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, os dados devem incentivar parcerias entre escolas, empresas e organizações da sociedade civil. “As empresas precisam pensar em como acolher jovens que ainda têm alfabetismo elementar e transformar o ambiente de trabalho em um espaço que ajude a desenvolver habilidades, promovendo avanços em suas trajetórias profissionais”, defende.