O consumo de bebidas contaminadas com metanol foi associado a pelo menos cinco mortes no estado de São Paulo, segundo comunicados das autoridades. O governo paulista confirmou uma morte por intoxicação por metanol e informou que outras quatro fatalidades ainda passam por análise para estabelecer a relação direta com a substância. Investigações conduzidas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam que entre as bebidas ingeridas pelas vítimas estavam gin, uísque e vodca adquiridos em bares e adegas.
Metanol e etanol são, à primeira vista, praticamente indistinguíveis: ambos são líquidos incolores e com cheiros semelhantes, o que torna a detecção visual ou olfativa impossível para consumidores. No organismo, porém, os dois álcoois têm efeitos radicalmente diferentes. O etanol — o componente alcoólico seguro nas bebidas — é metabolizado em acetaldeído e rapidamente transformado em acetato, que é eliminado. Já o metanol é convertido pela via metabólica em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico, metabólitos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso central, a visão e outros órgãos, podendo levar à morte.
Segundo o professor Thiago Correra, do Instituto de Química da USP, o metanol pode aparecer em bebidas de duas formas: de maneira natural, quando pequenas quantidades são geradas na fermentação de frutos ricos em pectina; ou por falha no processo de destilação, quando a chamada “cabeça” — fração inicial da destilação, rica em metanol — não é descartada corretamente. No entanto, Correra enfatiza que o maior risco é a adulteração deliberada: criminosos que adicionam metanol industrial para aumentar o teor alcoólico aparente de um destilado, prática ilegal e extremamente perigosa.
Os destilados artesanais e clandestinos — cachaça, aguardente, whisky caseiro — representam os maiores riscos por causa da destilação simplificada e do controle reduzido de qualidade. Bebidas fermentadas industrialmente, como vinho, podem conter traços de metanol, mas em níveis regulamentados e muito menores; já a cerveja praticamente não oferece risco, pois o processo de produção raramente gera metanol em quantidades relevantes e não há ganho econômico claro em adulterá-la com metanol.
Detectar metanol na bebida sem análise laboratorial é praticamente impossível. Por isso, especialistas e autoridades de saúde orientam cautela: evitar consumir destilados de procedência duvidosa, desconfiar de preços muito abaixo do mercado ou de bebidas vendidas em embalagens improvisadas e preferir estabelecimentos e marcas com cadeia de produção conhecida. Em caso de ingestão e aparecimento de sintomas — náusea, vômito, dor abdominal, taquicardia, tontura, visão turva ou perda da visão —, a recomendação é procurar atendimento médico emergencial imediatamente, pois o tratamento precoce pode ser determinante para reduzir sequelas e risco de morte.
As investigações em São Paulo ainda prosseguem para identificar origem, pontos de venda e eventual lote contaminado. Autoridades sanitárias e policiais vêm vistoriando estabelecimentos, recolhendo amostras e cruzando notas fiscais e registros de compra para rastrear a cadeia de fornecimento. Enquanto isso, órgãos de vigilância alertam para a gravidade do problema e reforçam medidas de fiscalização e controle de comercialização de bebidas alcoólicas, especialmente destilados.