O mercado cripto no Brasil tem números de economia grande. Segundo o Geography of Cryptocurrency Report 2025, entre julho de 2024 e junho de 2025, o país movimentou 318,8 bilhões de dólares, alta de 109,9% frente ao período anterior, estabelecendo a liderança regional e colocando o Brasil entre os mercados que mais crescem no mundo em adoção e volume.
O que explica o salto brasileiro: Stablecoins no centro e preferência por CEXs
Por trás desses números está um padrão já visível no varejo e no institucional. As stablecoins viraram o meio de transação dominante, respondendo por mais de 90% dos fluxos brasileiros. Na prática, isso significa pagamentos e remessas mais previsíveis e menos exposição cambial de curto prazo.
Além de uma rampa mais estável para quem compra e vende cripto no dia a dia. Ao mesmo tempo, a América Latina opera majoritariamente em exchanges centralizadas (CEXs), 64% da atividade, acima da América do Norte com 49% e da Europa com 53%. E o Brasil se encaixa nesse perfil de acesso e liquidez.
Isso explicar por que, em momentos de aquecimento do ciclo, cresce também o interesse do varejo por novas criptomoedas para investir, enquanto o uso de stablecoins sustenta as transações cotidianas e de proteção cambial, os fluxos de pesquisa e negociação por projetos emergentes aumentam.
Volumes recordes, dominância de estáveis e o canal preferencial via CEXs compõem um pano de fundo mais líquido e com spreads menores em BRL quando a demanda acelera. No Global Crypto Adoption Index 2025, a Chainalysis coloca o Brasil entre os cinco países com maior adoção.
Esse é um indicativo de que o movimento não é apenas especulativo, mas disperso entre varejo e institucional, com uso que passa por pagamentos, remessas e gestão de caixa. A própria metodologia do índice pondera indicadores de participação de varejo, atividade em CEXs e DeFi, e capilaridade de uso. E o posicionamento brasileiro reflete esse equilíbrio.
Brasil puxa o bloco latino-americano: Lei 14.478/2022 e as consultas do Banco Central
No recorte regional, a atividade da América Latina no período analisado (de 2022 a 2025) se aproximou de 1,5 trilhão de dólares, com picos entre o fim de 2024 e o início de 2025. O Brasil lidera, seguido pela Argentina com 93,9 bilhões de dólares, pelo México com 71,2 bilhões de dólares, pela Venezuela com 44,6 bilhões de dólares e pela Colômbia com 44,2 bilhões de dólares.
Um ranking que reforça o peso relativo do mercado brasileiro para formação de preços e liquidez regional. A preferência por CEXs (64%) na região, segundo a Chainalysis, permanece como traço estrutural. Para o investidor e para as empresas que operam remessas, isso significa processos de on/off-ramp mais padronizados.
Características essas que o Brasil replica. O marco legal brasileiro avançou com a Lei 14.478/2022 (Lei de Ativos Virtuais) e o decreto que distribui competências entre o Banco Central, foco em AML e CFT para prestadoras de serviços de ativos virtuais (PSAVs), e a CVM no que tange a valores mobiliários.
Desde o fim de 2024, o BACEN abriu consultas públicas para autorizações de PSAVs (CP 110/2024) e para incluir operações de PSAVs no mercado de câmbio, além de debates sobre regras contábeis para ativos virtuais nas instituições reguladas. A agenda foi sendo prorrogada e estendida para permitir contribuições técnicas do setor e acomodar a complexidade de uma regulação inicial.
O resultado esperado é um conjunto de normas até o fim de 2025, com maior clareza para compliance, transparência e contabilização. Pilares importantes em um país que hoje concentra os maiores volumes da região e grande uso de stablecoins.
Mercado local: Efeitos práticos de volumes maiores
Com o salto para 318,8 bilhões de dólares e a dominância de stablecoins, alguns efeitos práticos já aparecem no Brasil, como maior profundidade de livro nas rampas fiduciárias, redução de custos marginais em horários de maior liquidez e melhor previsibilidade de spreads em BRL/USD em plataformas que concentram fluxo.
O Brasil respondeu por quase um terço da atividade latino-americana e manteve sequência de meses de alto patamar entre o fim de 2024 e o início de 2025. Para o usuário final, isso se traduz em experiência de execução mais estável nos horários de pico, especialmente em CEXs, que, na região, seguem como o principal ponto de entrada.
O encadeamento entre uso intensivo de stablecoins e regulação infralegal do Banco Central continuará determinante. A tendência é ver regras finais para PSAVs, autorizações, operações em câmbio, deveres de reporte e contabilidade, criando um padrão de compliance mais claro.