
Uma reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (26), mostrou um retrato preocupante da educação pública em Bom Jardim, cidade do interior do Maranhão. Mesmo tendo recebido mais de R$ 650 milhões do Fundeb nos últimos 13 anos, o município ainda mantém escolas improvisadas em igrejas, casas e estruturas precárias, além de um histórico de corrupção e má gestão que atravessa diferentes administrações.
Realidade precária nas salas de aula
Em um dos povoados visitados, a reportagem mostrou a rotina de Eudinete, mãe de seis filhos, que caminha diariamente por uma estrada de terra até uma pequena igreja — o local serve de sala de aula improvisada após o prédio original ser interditado por risco de desabamento.
“Um banheiro, pelo menos um”, lamenta a zeladora, merendeira e vigilante da unidade, ao descrever as condições em que as crianças estudam.
Em outras comunidades, banheiros são cercados de palha ou simplesmente inexistem, e a água para consumo vem de poços contaminados. Professores relatam ter que atender alunos de diferentes idades na mesma turma, tentando se desdobrar para manter o aprendizado. “A defasagem é muito grande”, desabafa uma educadora.
Crianças pedem o básico
O pequeno Jean, de 7 anos, sintetiza o sentimento dos colegas: “Aqui nem parece escola, é só uma igreja.” Já em outro povoado, Dona Elivânia cede há mais de dez anos sua própria casa para que os filhos e vizinhos tenham onde estudar.
“O que falta é a escola ser construída.”
Obras paradas e desvio de verbas
Estruturas de alvenaria que poderiam ser escolas estão abandonadas. Uma delas foi fechada há uma década para reforma e hoje está completamente deteriorada.
A série de problemas reflete um histórico político marcado por escândalos: dos últimos cinco prefeitos, quatro foram condenados por corrupção ou improbidade administrativa.
Linha do tempo da corrupção
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Lidiane Leite (2013–2015) — Conhecida como “Prefeita Ostentação”, foi presa por desviar R$ 15 milhões da educação. Tem 10 condenações somando quase 40 anos de prisão, mas recorre em liberdade.
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Malrinete Gralhada (2015–2016) — Vice que assumiu após a prisão de Lidiane; condenada a 15 anos por desvio de recursos.
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Manoel da Conceição Pereira Filho (Sinego) — Governou por 70 dias e é acusado de desviar R$ 600 mil.
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Francisco Alves Araújo (2017–2020) — Foi afastado três vezes por irregularidades.
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Christianne Varão (2021–atual) — Ex-professora e reeleita prefeita, é investigada pela PF e pelo MP por supostos desvios. A gestora se defende alegando que “a cidade é extensa” e promete construir novas escolas.
O promotor Fábio Oliveira, responsável pelas investigações, afirma que Bom Jardim vive uma “cultura de corrupção”:
“Eles já ficavam esperando a vez deles entrarem para se corromper e sugar o dinheiro do município.”
Sonhos simples em meio ao abandono
Enquanto milhões desaparecem em esquemas de corrupção, as crianças de Bom Jardim sonham apenas com carteiras novas, banheiros decentes e um lugar seguro para estudar.
“Uma escola com internet, parede de cimento e telha, pra brincar e aprender”, diz Jean, com esperança.