
Nos últimos 20 anos, desenvolvi conteúdos educativos voltados para crianças e adolescentes, acreditando que a informação passada nas fases críticas de formação de caráter e personalidade permanece ao longo da vida, servindo como proteção contra vícios e doenças. Hoje, as crianças têm acesso a mais informação do que jamais tivemos, e os tempos mudaram. Um menino de 10 anos de hoje sabe mais do que um de 15 na década de 80. Vivemos em uma era de velocidade e as crianças estão se tornando mais prematuras, antecipando fases do desenvolvimento de maneira perigosa, o que pode prejudicar seu amadurecimento emocional e psicológico.
Jean Piaget, psicólogo suíço, destacou a importância das fases do desenvolvimento infantil, apontando que ao pular essas etapas, as crianças podem ser expostas a experiências para as quais não estão preparadas. O avanço tecnológico acelerou esse processo, e a informação está sendo consumida de forma intensa e precoce, comprometendo o equilíbrio emocional e cognitivo.
A Substituição dos Espaços Familiares pelas Telas
Os espaços familiares, que deveriam ser momentos de convivência, têm sido ocupados por telas de dispositivos eletrônicos. As tecnologias se tornaram babás eletrônicas, com pais entregando celulares para crianças passarem horas em frente às telas. A professora de sociologia Sherry Turkle, em Alone Together (2011), argumenta que esse uso excessivo das tecnologias leva a uma erosão da capacidade de estabelecer relações profundas e diminui a empatia nas crianças, que deixam de interagir com o mundo ao seu redor.
O Dilema da Adolescência: Influência e Busca por Fama
Entre os adolescentes, a busca por fama e glamour se tornou o principal objetivo, substituindo carreiras tradicionais por uma jornada digital em busca de riqueza instantânea. Manuel Castells, em A Sociedade em Rede (1999), explica que a tecnologia e as redes sociais desempenham um papel central na construção da identidade dos jovens, distorcendo a ideia de sucesso e promovendo a cultura do imediatismo.
A Crise Existencial e Seus Efeitos: Suicídios e Autolesões
Essa busca incessante por fama e validação tem levado a um aumento no número de suicídios e autolesões. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária de 14 a 24 anos é a de maior risco em relação ao suicídio e depressão. O psicólogo David A. Kessler, em A Solitude da Mente (1997), aponta que a falta de suporte emocional e a fragilidade da autoestima contribuem para a crescente taxa de suicídios entre jovens, principalmente aqueles que se sentem excluídos ou incapazes de corresponder às expectativas de uma sociedade voltada para a imagem.
A Conexão com a Falta de Propósito
O vazio existencial gerado pela comparação constante nas redes sociais, somado à pressão por perfeição e sucesso, resulta em uma crise de identidade. Quando os jovens não conseguem alcançar seus objetivos, muitos se sentem perdidos, o que pode levar a comportamentos autodestrutivos.
Conclusão: O Papel da Educação e da Família
Em um mundo acelerado e digital, é essencial que pais, educadores e profissionais da saúde se unam para estabelecer um ambiente de apoio emocional e conscientização dos riscos modernos. A educação deve ir além do ensino acadêmico, focando também no equilíbrio emocional e na formação de valores sólidos.
Como Albert Einstein afirmou: “A educação é o que resta depois de esquecer tudo o que aprendemos na escola.” Portanto, educar para a vida, para o equilíbrio emocional e a conscientização é uma tarefa fundamental para garantir o bem-estar das futuras gerações.
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