
Muitas vezes somos contagiados pela obsessão e passamos a vida iludidos com algo que nunca acontece e, na verdade, nunca vai acontecer. Uma das coisas mais difíceis de admitir é que temos algum transtorno. Muitas pessoas evitam psiquiatras e psicólogos por medo de serem taxadas de “loucas” ou “perturbadas”. Costumo dizer que há uma drástica diferença entre o “doido” e a pessoa que adoece da mente, como nos casos de ansiedade e depressão.
O “doido” é aquele que arrasta uma caixa de sapato amarrada a um barbante e chama de “meu totó”, ou aquele que usa um chapéu e jura que é Napoleão. Já as pessoas com transtornos mentais estão lidando com questões profundas, muitas vezes invisíveis e difíceis de entender.
Eu poderia afirmar, sem medo de errar, que, em termos de transtornos, ninguém escapa. Ao menos, é o que dizem os manuais de diagnóstico. Um exemplo simples: quem toma café pode sofrer o transtorno da abstinência. A TPM (tensão pré-menstrual) é outro exemplo, com implicações físicas e emocionais. Existem muitas classificações que colocam todos neste universo complexo da mente humana, onde as fronteiras entre o normal e o patológico se tornam difíceis de distinguir.
A obsessão é uma força invisível que molda comportamentos humanos. Pode se manifestar de várias formas, e, por mais que tentemos controlá-la, muitas vezes nos vemos reféns dela. Podemos nos tornar obsessivos por quase tudo: comida, bebidas, sexo, tecnologia, ou até por pessoas. Obsessões podem invadir diferentes aspectos da nossa existência, criando padrões repetitivos que nos levam a ansiedade e frustração.
Estamos vivendo em um coletivo obsessivo, onde cada pessoa tem sua obsessão particular. A sociedade nos impulsiona a buscar mais, ter mais, ser mais, o que gera obsessões coletivas. Algumas são evidentes, como a obsessão por sucesso, poder e aparência física. Outras, mais sutis, incluem o apego à perfeição, ao controle e ao consumo. E ainda há aquelas que são mais perigosas, nos tornando reféns de nossos próprios desejos.
Algumas obsessões chegam ao limite da patologia severa. Um exemplo disso é a síndrome de Noé, onde a pessoa acumula dezenas de animais, sem conseguir cuidar deles. Esse comportamento obsessivo afeta a saúde física, emocional e financeira da pessoa, além de prejudicar os próprios animais.
A obsessão é estudada pela psicologia e psiquiatria como um fenômeno complexo. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), que envolve pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos, afeta cerca de 2-3% da população mundial, com muitos começando a manifestar sintomas na infância ou adolescência. Pesquisas indicam que as obsessões estão relacionadas a desequilíbrios nos circuitos cerebrais responsáveis pela regulação de emoções e comportamento.
Além disso, a obsessão pode ser um mecanismo de enfrentamento, uma tentativa de controlar a incerteza e o sofrimento emocional. Porém, essa busca por controle não resolve os problemas e acaba intensificando o sofrimento, criando um ciclo de auto-sabotagem.
A obsessão é uma realidade na vida de muitas pessoas, e é importante reconhecer que pode ser tratada. A chave está em entender o que nos leva a esses padrões de comportamento e procurar formas saudáveis de lidar com eles. Quando diagnosticada e tratada adequadamente, a obsessão pode ser superada. Enfrentar a obsessão é um passo importante para retomar o controle da própria vida e viver de forma mais saudável e consciente.