A inovação deixou de ser um tema restrito a áreas específicas e passou a ocupar um papel transversal nas empresas, influenciando estratégia, operações, cultura organizacional e processos de tomada de decisão. Para organizações tradicionais, especialmente aquelas que não nasceram digitais, a implementação consistente dessa cultura ainda representa um desafio. No caso da Vale, a aproximação com o ecossistema de startups tem sido um dos principais caminhos adotados para estimular o pensamento inovador dentro da companhia.
Nos últimos dez anos, a mineradora intensificou sua estratégia de inovação aberta, conectando desafios concretos do negócio a soluções tecnológicas desenvolvidas por startups, universidades, institutos de ciência e tecnologia e hubs de inovação. Em 2025, a empresa aprofundou sua parceria estratégica com o Cubo Itaú, com o objetivo de selecionar startups do portfólio do hub capazes de desenvolver soluções voltadas a desafios específicos da mineração. A relação entre as duas organizações teve início em 2023, quando o Fundo Vale, iniciativa criada pela mineradora para fomentar impacto socioambiental, passou a integrar o hub.
O avanço dessa estratégia também se refletiu em reconhecimento externo. A Vale foi apontada como uma das empresas que mais investiram em inovação aberta na última década pelo ranking 100 Open Startups. Em 2025, a companhia ocupou a segunda posição entre as mineradoras mais inovadoras do país.
Segundo Leandro Teixeira, head de Inovação da Vale, implementar uma cultura de inovação em empresas não nativas digitais exige uma abordagem em diferentes níveis. De acordo com ele, a companhia atua desde a exposição de desafios reais do negócio até iniciativas de letramento em inovação, com foco em temas como sustentabilidade, segurança e competitividade, para que a inovação seja compreendida internamente como uma alavanca estratégica.
Entre as iniciativas estruturadas está o fundo de corporate venture capital Vale Ventures, criado em 2022, com US$ 100 milhões em capital comprometido para investimentos em startups de tecnologia voltadas a soluções sustentáveis para a mineração. O portfólio é majoritariamente composto por empresas estrangeiras, em função da tese do fundo, que prioriza investimentos a partir da Série A, em negócios considerados mais maduros. A estratégia busca tecnologias com potencial de transformação da cadeia da mineração e do aço, especialmente em frentes como descarbonização, combustíveis verdes, mineração circular e tecnologias complementares.
Além dos investimentos, a Vale também atua na criação de startups quando identifica lacunas de mercado. Um exemplo é a Agera, empresa criada internamente para comercializar areia sustentável produzida a partir de rejeitos da mineração, como parte do programa de Mineração Circular da companhia. Segundo a empresa, a iniciativa surgiu da necessidade de dar destinação a resíduos e passou a atuar em um mercado distinto daquele tradicional de minério, com operação em escala crescente.
A estratégia de inovação da Vale também envolve o fortalecimento de ecossistemas fora do eixo Rio–São Paulo. Presente em estados como Espírito Santo, Maranhão, Pará, Minas Gerais e na região amazônica, a companhia tem investido em iniciativas regionais. Em Belém, firmou parceria com o governo do Pará para a criação do Parque de Bioeconomia, inaugurado no contexto da COP 30, com investimento aproximado de R$ 250 milhões do Fundo Vale. O parque reúne empresas, startups, pesquisadores e negócios locais com foco no desenvolvimento da bioeconomia.
Essa atuação se conecta ao trabalho do Instituto Tecnológico Vale, criado em 2010, que atua na formação de profissionais, em pesquisas sobre a floresta e no desenvolvimento de soluções voltadas à bioeconomia e à mineração sustentável. Em 2025, a empresa também firmou uma aliança com a Universidade Federal de Minas Gerais para a criação de um laboratório colaborativo de mineração circular, que reúne academia, empresas e startups com foco na transformação de resíduos em novos negócios.
Segundo Crisley Pacheco, gerente de Ecossistemas de Inovação da Vale, a ativação do empreendedorismo nos territórios onde a empresa opera contribui para gerar impacto local e fortalecer os ecossistemas regionais de inovação, ampliando o alcance das iniciativas para além do negócio principal da companhia.