A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) está investigando uma denúncia feita por uma adolescente de 17 anos contra o clínico geral Rafael Pereira por um suposto assédio sexual durante uma consulta e se prolongado com trocas de mensagens, por meio de um aplicativo. O pai da jovem, Osvinícius Brito Silva, esteve na manhã de ontem (4) no Jornal Pequeno, para dar a sua versão do caso. Na mesma manhã, a reportagem do JP foi à DPCA e conversou com a delegada Adriana Meireles. Em seguida, por telefone, entrevistou o médico acusado.
Na quinta-feira, 30, a adolescente, que desde 2019 realizava consultas com Rafael, apresentando problemas de ansiedade, procurou o clínico geral com queixas de dores na região da barriga, possivelmente devido a medicamentos receitados pelo profissional. Segundo a paciente, ao falar ao JP em áudio, via WhatsApp, dentro do consultório o médico teria pedido que ela deitasse na maca, e examinado a barriga e seu coração. “Só que ele me examinou de uma forma muito estranha. Tentou pegar nas minhas coxas, na boca, e nos seios. Ele foi ‘horrível’ de todas as formas. Ainda durante a consulta, chegou a me convidar para almoçar com ele”, relatou a adolescente.
A denunciante contou, ainda, que permaneceu calma o tempo todo, temendo por sua integridade física. “Na minha cabeça, se eu demonstrasse medo, ele poderia fazer algo pior. Ele tinha um remédio para as dores na barriga, e então disse: ‘não sei se você merece que eu te dê estes remédios. Você acha que merece? Você vai me dar o que em troca’? Logo em seguida, ele me pediu um beijo. Eu neguei. Saí da clínica, fui para o curso, mas fiquei pensando nisso a tarde toda. Ao chegar em casa, falei tudo para a minha mãe”, contou a adolescente.
Logo após a consulta, Rafael Pereira enviou várias mensagens, via WhatsApp, para a paciente – conforme material repassado pelo pai da jovem à redação do Jornal Pequeno e postadas por ela em suas redes sociais. Em uma das mensagens, o médico escreveu: “E pensei bem e achei melhor te pedir para que eu não seja mais seu médico a partir de hoje. Eu acho que é o melhor a se fazer, já que eu não soube me manter maduro e profissional ao te ver hoje. Não tenho como controlar, meu coração dispara. Só consigo admirar tua pele cheirosa, tua boca provocante, teus seios perfeitos quase aparecendo, teu quadril largo que me enlouquece, tuas coxas grossas, que me dão ‘água na boca’”.
Osvinícius Brito disse que sua filha estava sofrendo com ansiedade, e por conta disso foi agendada uma consulta com o clínico geral, por meio do plano de saúde da jovem. “O médico achou que o problema de ansiedade da minha filha era fácil de resolver, que não haveria a necessidade de encaminhá-la a um psiquiatra. E, então, começou a dar medicamentos para minha filha. Foi a mãe dela quem passou o telefone da minha filha para Rafael”, informou Brito.
DENÚNCIA FEITA À DPCA
A paciente e seu pai informaram que, no dia 30 de janeiro, teria sido a primeira vez que o médico cometeu o suposto assédio. “Eu não sei o que passou na cabeça deste médico, pois procurei a clínica e lá me disseram que ele era um exemplo de profissional. Independente disso, o clínico geral errou, e queremos que ele pague pelo seu erro”, declarou Osvinícius Brito.
Na sexta-feira passada, dia 31 de janeiro, a adolescente, acompanhada de sua mãe, procurou a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), na Avenida Beira-Mar – região central de São Luís, onde registrou um Boletim de Ocorrência (BO), que foi assinado pela delegada Kelly Ykioca Haraguchi.
Também na sexta-feira passada, o pai da paciente procurou o Conselho Regional de Medicina (CRM), no bairro Renascença, para pedir providências contra o médico Rafael. No CRM, Brito foi informado de que a denúncia teria que ser feita em forma de documento, uma carta-relato escrita a punho pela suposta vítima.
Na DPCA, a delegada Adriana Meireles informou que sempre há casos de médicos e professores acusados de assediar crianças e adolescentes. “Em situações como estas, o primeiro passo é registrar o Boletim de Ocorrência. Depois, encaminhamos a vítima ao Centro de Perícias Técnicas para a Criança e o Adolescente (CPTCA). A partir do laudo do Centro de Perícia, a delegacia analisa melhor o caso, e tipifica o crime”, informou a delegada.
O Centro de Perícias Técnicas para a Criança e o Adolescente é um órgão da perícia oficial, que realiza avaliações médicas, sociais e psicólogas em crianças e adolescentes que tenham sofrido algum tipo de violência. No CPTCA, a paciente já tem atendimentos marcados para os dias 14 e 21 deste mês.
“NÃO HOUVE ASSÉDIO”, DEFENDE-SE RAFAEL
Ao JP, Rafael disse que foi ele quem diagnosticou a paciente com “transtorno de ansiedade”. De acordo com o médico, a primeira consulta realizada com a adolescente aconteceu em agosto de 2019.
“Devido ao diagnóstico feito por mim, houve a necessidade de mantermos contato, para que eu pudesse avaliar a medicação que prescrevi à paciente. Ela disse que tinha dificuldade de fazer terapias, pois o plano de saúde marcava as sessões com períodos distantes, e apresentava crises no intervalo de uma sessão e outra. Foi essa a necessidade de haver uma comunicação maior, entre médico e paciente”, informou Rafael.
“Meu contato eu dei para a mãe da paciente. A mãe da adolescente foi a primeira a me enviar mensagens. Depois, comecei a trocar mensagens com a paciente”, acrescentou o clínico geral.
“Não houve assédio. Meu erro foi eu ter me iludido com alguns tipos de demonstrações, que me levaram a crer que eu poderia ser correspondido. Trocamos várias mensagens, durante estes últimos meses, o que resultou neste ‘grau de intimidade’”, disse o médico Rafael.
O clínico geral contou que trabalha há dez anos numa clínica particular da Cohab; que é médico há 16, e que durante todo este tempo nenhuma outra paciente fez contra ele acusações de assédio sexual.
O clínico geral contou que em nenhum momento abusou da paciente. “Naquele dia (30 de janeiro), a porta do consultório ficou o tempo todo aberta. E a paciente saiu da consulta se despedindo da seguinte forma: ‘Tchau. Obrigada’”, informou Rafael.
O médico disse que não se conteve ao agir de forma inapropriada, pois reagiria às “provocações” da jovem. “Me deixei influenciar pela forma como a paciente ia à consulta (ao se referir aos trajes da adolescente). E pela forma envolvente como conversava comigo. Eu errei. Mas, não cometi crime algum. Cometi um erro, que está me custando muito”, finalizou Rafael na entrevista ao JP.
A reportagem do Jornal Pequeno também esteve na clínica Life Clin, onde ele trabalha, e no CRM, mas em nenhum destes locais conseguiu ser atendido por um porta-voz oficial. Nas duas instituições, a reportagem foi informada de que seus diretores estavam em reunião, e não poderiam conceder esclarecimentos naquele momento.