Feiras, livrarias, oficinas mecânicas, lojas de roupas e outros estabelecimentos comerciais alemães poderão receber clientes a partir desta segunda-feira (20). Mas o governo pede à população para continuar a respeitar as medidas de distanciamento social, a fim de evitar que a Covid-19 volte a se propagar. Irritada com o crescente desrespeito em relação às medidas preventivas contra o coronavírus, Merkel condenou as “orgias de discussões” no país sobre uma suspensão total das medidas de distanciamento social.
Encontros com mais de duas pessoas permanecem proibidos, uma distância mínima de 1,5 metro deve ser observada em locais públicos, e o uso de máscara é “altamente recomendado”. As escolas só voltam a funcionar em 4 de maio. Grandes aglomerações, como shows e competições esportivas, continuam proibidas até pelo menos 31 de agosto.
A Alemanha tem 135 mil casos confirmados da nova infecção viral, cerca de 4 mil mortos e uma baixa taxa de transmissão da doença. A reabertura do comércio é considerada uma medida necessária para relançar a economia alemã, que entrou em recessão em março.
O federalismo alemão faz com que a suspensão gradual da quarentena seja aplicada de maneira significativamente diferente nas 16 regiões do país. Em Berlim, por exemplo, muitos estabelecimentos comerciais ainda permanecerão fechados.
Na cidade de Leipzig, Manuel Fischer, dono de uma boutique de moda, disse estar “incrivelmente feliz” por reabrir seu negócio, enquanto carrega seus manequins para a calçada sob o sol da primavera. Já locais culturais, bares, restaurantes, playgrounds ou áreas esportivas, continuarão fechados.
Essa estratégia para sair da crise implementada pela Alemanha, o motor econômico do Velho Continente, é observada com atenção por uma Europa que vive confinada há quase um mês.
Até o momento, o continente europeu pagou o preço mais alto pela doença, respondendo por quase dois terços das 164.000 mortes em todo mundo. A Itália é o país mais afetado (23.660 mortes), seguido de Espanha (20.453), França (19.718) e Reino Unido (16.060), de acordo com um último balanço da epidemia estabelecido com base em fontes oficiais.
“Meu filho não deve ser cobaia da Covid-19”, dizem noruegueses
Na Noruega, onde a epidemia também parece controlada, as creches e pré-escolas voltam à atividade nesta segunda-feira, na primeira etapa da suspensão das restrições no país escandinavo. A medida deve facilitar o retorno ao trabalho dos pais. Mas alguns responsáveis expressaram receio e apresentaram no Facebook a campanha “Meu filho não deve ser uma cobaia da Covid-19”, assim como uma petição online que já havia recebido mais de 28.000 assinaturas. “Não há perigo em frequentar a creche”, afirmou a ministra da Educação, Guri Melby.
Silje Skifjell deixou seus dois filhos, Isaak e Kasper, em uma creche ao norte de Oslo, com o mais velho “muito feliz por encontrar seus amigos”.
Desafio sanitário e econômico
O desafio é enorme: relançar progressivamente a atividade, contendo a impaciência de populações isoladas, até os riscos de explosão social, evitando um possível ressurgimento do vírus e preservando os sistemas de saúde saturados.
Sinal da emergência econômica, o Banco da Espanha prevê para 2020 uma queda vertiginosa por causa da pandemia, “sem precedentes na história recente”: de 6,6% a 13,6% do PIB da quarta economia da zona do euro.
A Albânia autorizou a retomada da atividade econômica em cerca de 600 setores, incluindo agricultura, pecuária, produção de alimentos, mineração, indústria têxtil e pesca.
França, Espanha e Itália, que registram um declínio no número de pacientes e de óbitos após semanas de alta, também estão se preparando para as primeiras medidas de suspensão do isolamento.
“Teremos que aprender a conviver com o vírus”, alertou o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, no domingo à noite. Criticado por ter demorado a generalizar os testes e a obrigar o uso de máscara, o Executivo francês trabalha com um cenário de suspensão progressiva do distanciamento social a partir de 11 de maio.
Na Itália, as primeiras medidas não serão tomadas antes de 3 de maio, disseram as autoridades. Mas, pouco a pouco, as empresas reabrem, mesmo que de forma parcial e com muitas precauções.
Na Espanha, 399 mortes foram registradas nas últimas 24 horas, contra 410 no dia anterior, os números mais baixos em quatro semanas, anunciou o Ministério da Saúde nesta segunda-feira. O necrotério improvisado em uma pista de patinação em Madri, que simbolizava a hecatombe, será fechado na quarta-feira e, a partir de 27 de abril, as crianças, estritamente isoladas desde meados de março, poderão sair para tomar um ar fresco.
Em contrapartida, no Reino Unido, a contenção introduzida em 23 de março foi estendida por pelo menos três semanas na última quinta-feira. O governo ainda não planeja uma saída.
“Mitsu mitsu”
No Japão, que agora tem o maior número de casos na Ásia, depois da China e da Índia, os médicos soaram o alarme. Apesar do estabelecimento do estado de emergência, o número de casos registrados ultrapassou os 10.000 neste fim de semana. Efeito colateral nas redes sociais, as mensagens quase diárias da governadora de Tóquio pedindo distanciamento inspiram mangás, músicas e até mesmo um videogame. O jogo adota a palavra “mitsu”, que descreve lugares isolados.
“A luta continua!”
Nos Estados Unidos, onde uma queda de braço opõe o presidente Donald Trump, que defende uma rápida retomada da atividade econômica, e vários governadores democratas, favoráveis ao confinamento, o governador do estado de Nova York, centro da epidemia, anunciou que a pandemia iniciou uma curva “descendente”.
No domingo (19), porém, a marca de 40.000 mortos foi ultrapassada em todo país, de acordo com a contagem da universidade americana Johns Hopkins.
Após a Páscoa cristã e judaica, o mundo muçulmano se prepara para o Ramadã em um Oriente Médio com regras de isolamento generalizadas: da Arábia Saudita ao Marrocos, passando por Egito, Líbano e Síria. “Nossos corações choram”, lamenta o muezim da Grande Mesquita de Meca, a cidade sagrada do Islã.
Na África, onde a marca de mil mortos foi ultrapassada neste fim de semana, confrontos violentos ocorreram no domingo à noite em vários distritos da capital do Níger, Niamey. Moradores contrários ao toque de recolher e à proibição de orações coletivas enfrentaram a polícia em protesto. Com gritos de “a luta continua!”, “não recuem!”, os manifestantes queimaram pneus e ergueram barricadas nas ruas.
Para o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves le Drian, a Covid-19 exacerba as “fraturas” globais e a rivalidade sino-americana. “Meu medo é que o mundo de amanhã se pareça furiosamente com o mundo antes, mas pior”, previu ele em entrevista ao jornal Le Monde.