A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta para uma possível segunda onda de Covid-19 nos estados do Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão.
O prognóstico consta de um boletim divulgado nesta quinta-feira (30) pelo Infogripe, o sistema que monitora a ocorrência da síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país.
Nesses três estados, um pico de casos foi registrado na primeira quinzena de maio. Em junho, houve quedas seguidas, mas, no fim de julho, segundo as estimativas, a curva tornou a subir — ainda que em um patamar bem abaixo do de dois meses atrás.
Alerta para possível segunda onda
Nesta quarta-feira (29), o secretário estadual de Saúde do RJ, Alex Bousquet, anunciou a intenção de fechar, até o dia 12, todos os hospitais de campanha, sob gestão do estado. O argumento de Bousquet é “uma queda confiável” nos casos.
Uma decisão da Justiça impede a desmobilização, mas o estado anunciou um recurso.
“Nossa argumentação será técnica. Nós tivemos um pico nas duas primeiras semanas de maio e, de lá para cá, nós temos uma curva descendente que já se mostrou confiável”, argumentou Bousquet.
Brasil em um ‘platô’
Já a projeção para todo o Brasil, segundo o pesquisador e coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, “indica que não estamos numa situação tranquila”.
“Estamos com uma estimativa de que o número de novos casos semanais pode estar acima do primeiro pico, registrado em maio”, afirmou Gomes.
A curva do Brasil é diferente da do RJ. Em vez de um pico e uma subsequente queda — com sinal de retomada no crescimento —, há uma oscilação num platô, com tendência de aumento.
Casos de SRAG no Brasil, média móvel, por semana
Como o Infogripe funciona
Nem toda SRAG é Covid-19, apesar dos sintomas em comum. Mas, nesta pandemia, explicou Gomes, a síndrome “está extremamente ligada” ao novo coronavírus.
A Fiocruz tabula os registros de SRAG em todo o país e faz projeções com base no comportamento da curva — compensando a desatualização dos dados.
Para a Fiocruz, é importante saber quando o paciente começou a sentir os sintomas.
“Mas existe um atraso muito grande na entrada das informações”, afirmou o pesquisador.
Essa demora, explica Gomes, dificulta análises mais precisas.
“Por isso que tem divergência. Se a gente olha só para os dados inseridos ontem, a nossa capacidade de fazer análise de situação atual será extremamente limitada. O dado só vai estar mais próximo do que de fato aconteceu daqui a várias semanas depois”, detalhou.
Gomes citou o exemplo da semana epidemiológica 17, equivalente ao dia 25 de abril.
- Pelos dados digitados até 25 de abril, 951 pessoas começaram a ter SRAG naquela semana.
- Na parcial de 9 de maio (semana 19), já eram 1.535 pacientes com SRAG na semana 17.
- Em 23 de maio (semana 21), esse número subiu para 2.125.
- E nos dados do dia 25 de julho (semana 30), o total de doentes era de 2.968.
Ou seja, o número de pacientes com SRAG segundo o boletim daquela semana era um terço do real — observado três meses depois.
Mas, na própria semana 17, o InfoGripe já estimava 2.302 casos.
“Esse mesmo modelo estatístico hoje está apontando que pode sim, estamos em uma fase de retomada do crescimento. Mesmo com margem de erro, ou estamos em estabilização ou retomada”, afirmou Gomes.
“Tivemos no RJ uma redução da ordem de 60%, uma queda sustentada, mas os dados mais recentes sugerem essa retomada. Começando a forma um ‘U’, um indício de segunda onda”, explicou.