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Estratégia de compra de bezerros para recria em sistemas intensificados

Entrevista com o engenheiro agrônomo, Marco Balsalobre Marco Balsalobre é engenheiro agrônomo, graduado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP), é mestre e doutor em agronomia – ciência animal e pastagens. Já atuou no mercado como consultor em empresas do agronegócio, já foi diretor técnico e sócio da Bellman Nutrição Animal e diretor […]

Fonte: SCOT CONSULTORIA

Entrevista com o engenheiro agrônomo, Marco Balsalobre

Marco Balsalobre é engenheiro agrônomo, graduado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP), é mestre e doutor em agronomia – ciência animal e pastagens. Já atuou no mercado como consultor em empresas do agronegócio, já foi diretor técnico e sócio da Bellman Nutrição Animal e diretor técnico da Trouw Nutrition. Atualmente atua como consultor na Balsalobre Consultoria.

Foto: Scot Consultoria

Nosso bate-papo dessa semana é com Marco Balsalobre, engenheiro agrônomo e palestrante de uma das trilhas de conhecimento do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria. Balsalobre conversou conosco sobre estratégia de compra de bezerros para recria em sistemas intensificados, um dos principais pontos a serem discutidos em ano de ciclo pecuário em alta. Confira!

Marco Balsalobre é engenheiro agrônomo, graduado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP), é mestre e doutor em agronomia – ciência animal e pastagens. Já atuou no mercado como consultor em empresas do agronegócio, já foi diretor técnico e sócio da Bellman Nutrição Animal e diretor técnico da Trouw Nutrition. Atualmente atua como consultor na Balsalobre Consultoria.

Scot Consultoria: Na sua opinião, qual a importância do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria para a pecuária nacional?

Marco Balsalobre: O encontro tem a função de agregar e difundir conhecimento. O enfoque aplicado do conhecimento, que prevalece no evento, faz com que seja tão prestigiado. Além disso, o evento sempre foi um local para troca de experiências entre os participantes e, por que não, um local de realização de negócios. Nesse ano, mesmo que virtual, conseguiu manter sua essência.

Scot Consultoria: Sabendo que uma dieta balanceada impulsiona o desenvolvimento para que o animal possa atingir o seu potencial genético, quais estratégias para se ter cada vez mais lucro no sistema de recria?

Marco Balsalobre: A dieta de um animal a pasto é composta pela forragem e pelo suplemento. As forragens tropicais, por mais bem manejadas que possam ser, normalmente não atendem as exigências dos animais. É sabido que essas plantas possuem altos teores de fibra em detergente neutro (FDN). O FDN está associado com consumo de matéria seca, dificilmente um animal irá ingerir mais que 1,3% do seu peso vivo em FDN. Além do alto teor de FDN, as plantas tropicais possuem deficiências na sua parte proteica. Os teores de proteína geralmente são inferiores à exigência dos animais quando estão expressando seu potencial genético. É possível aumentar o teor de proteína dessas plantas por meio de práticas de manejo que favorecem a colheita de tecidos mais jovens das plantas e por meio de práticas de adubação nitrogenadas. Entretanto, ainda haverá limitação para o atendimento das exigências dos animais devido à qualidade dessa proteína. Parte dela estará aderida à fibra (baixa digestibilidade) e parte será nitrogênio não proteico acumulado devido ao consumo de luxo das plantas por esse elemento.

Desse modo, a suplementação de animais em pastagens com o objetivo de corrigir deficiências na composição das plantas, se faz necessária.

Os suplementos devem ter composições diferentes para cada época do ano. É possível se trabalhar com duas, de seca e de verão. No entanto, sistemas mais evoluídos optam por até 4 formulações, com composições específicas para os períodos de transição de verão para seca e de seca para verão.

A importância de se conhecer bem os componentes da dieta (pasto e suplementos), além da exigência dos animais, é primordial para que se consiga explorar melhor o potencial genético dos animais.

Scot Consultoria: Quais critérios o pecuarista precisa considerar no momento da compra do bezerro desmamado, pensando nos altos preços dessa categoria, inseri-lo em um sistema de recria intensificado e conseguir fechar a conta?

Marco Balsalobre: Embora o preço do bezerro esteja em valores acima das médias dos últimos anos, assim como o ágio do quilo do bezerro em relação ao do boi gordo, o poder de compra melhorou, pois os outros custos não tiveram a mesma proporção de aumento.

Os detalhes em sistemas mais intensivos e que o pecuarista precisa considerar são:

  • Ter alta taxa de desfrute, acima de 75%, caso contrário terá que passar com animais por duas secas na fazenda, isso aumenta muito o custo de manutenção e não permite a reposição no momento correto.
  • Para que se tenha bons desfrutes há necessidade de altos ganhos de peso, isso somente é conseguido com animais comprados com peso adequado, bom potencial de ganho e suplementação adequada.
  • Além disso, a compra deve ser feita no momento correto. É interessante comprar os melhores bezerros do ano, aqueles desmamados entre abril e maio, e que nasceram em período também adequado, outubro. Esses têm boa genética e bom fenótipo também, pois nos períodos críticos de desenvolvimento receberam nutrição adequada, inclusive no período embrionário.
  • Não há como pensar em intensificação sem associar uma boa recria à terminação em confinamento.

Scot Consultoria: Poderia comentar um case de sucesso de recria intensificada que teve contato ou implementou nesses últimos anos. Quais os pontos mais importantes que o levaram ao sucesso?

Marco Balsalobre: Uma das fazendas em que estive, situada em Nova Andradina-MS, tem usado as premissas expostas na questão anterior. Lotação das pastagens entre 2 e 2,5 UA/ha em todos os pastos da fazenda. Suplementa os animais o ano todo, com diferentes composições de suplemento onde a variação principal dos produtos é o teor de proteína e a ureia. Termina os animais em confinamento com pesos médios de abate superiores à 21@. Tem desfrute superior à 75%. Em área de pastagens de 2.300 ha consegue abater cerca de 7.000 animais ano, receita aproximada de R$15.000,00 por hectare no ano.

Além da ótima administração dos proprietários, tem foco em compra de animais de excelente qualidade. Esses dois pontos certamente são as chaves do sucesso dessa fazenda.

Scot Consultoria: Qual o maior desafio do sistema de recria intensificada nos dias de hoje no Brasil? Quais as expectativas no curto e longo prazo?

Marco Balsalobre: Os sistemas intensificados baseados em aumento de lotação, onde há a necessidade de fertilização das pastagens, têm como grande desafio a convivência com as adversidades climáticas. Partindo-se da premissa que as melhores áreas cultivadas estão em agricultura ou passarão para agricultura nos próximos anos, conclui-se que as pastagens estão, cada vez mais, localizadas em áreas marginais. Entende-se por áreas marginais nesse caso, terras mais arenosas e com riscos climáticos (período de chuvas curtos ou veranicos frequentes). Diante disso, e considerando que devo ter água no solo para a melhor resposta da planta à fertilização, entendo que esse é um enorme desafio para os sistemas intensificados; como conviver da melhor maneira com o clima.

As expectativas de redução de risco da atividade estão associadas aos sistemas de monitoramento climático de água no solo, de interpretação de imagens por satélites e tudo mais que possa estar relacionado à pecuária 4.0. E dentro do contexto de sistemas de pecuária intensiva em áreas de riscos climáticos e de menor potencial agrícola, o entendimento dos sistemas por parte da pesquisa e da extensão necessita de um avanço. Colher pastagens de melhor qualidade com alto aproveitamento da forragem produzida talvez não deva ser a principal preocupação. Em minha percepção, o objetivo principal desses sistemas deve estar em garantir a oferta adequada de forragem pelo maior tempo do ano, se conseguir isso com boa qualidade, melhor ainda.

Vale ressaltar os trabalhos em melhoramento genético de plantas forrageiras liderado pela Embrapa. Novas variedades adaptadas a sistemas intensivos e a déficits hídricos devem ser cada vez mais o foco do melhoramento.

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