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Saiba o que não fazer com o seu dinheiro em 2021

Títulos prefixados, baixa diversificação de recursos, caderneta de poupança e custos elevados estão entre os pontos de atenção

Fonte: Ana Paula Ribeiro

O ano de 2021 começou com o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira, batendo recorde, o que desperta nos investidores o desejo de se superar ainda mais no novo ciclo. Mas em um período ainda recheado de incertezas, mais importante do que tentar dar a “tacada certa” é saber o que evitar para não terminar o ano lamentando as escolhas de investimentos.

Apostar em papéis com retornos prefixados, ficar apegado à velha caderneta de poupança ou não ter uma diversificação da carteira estão entre os erros a serem evitados para investir melhor.

Por ora, há pela frente a visão de recuperação da economia em meio à pandemia do coronavírus, um ambiente com taxa básica de juros baixa – a Selic está em 2% ao ano –, mas com a inflação dando sinais claros de alta e uma preocupação crescente com as contas públicas.

Nesse cenário, em que um aumento dos juros já parece contratado pelo mercado financeiro, um dos principais riscos é ficar refém de taxas de retorno preestabelecidas. Confira a seguir as principais recomendações do que não fazer com seu dinheiro neste ano.

Aplicar na caderneta de poupança
Não é segredo para ninguém que a caderneta de poupança tem sido há tempos apontada como uma alternativa a ser evitada pelos brasileiros.

Com a Selic em 2%, a caderneta de poupança tem rendido 70% da taxa básica de juros mais a variação da TR, zerada desde 2018. Isso significa que, apesar da liquidez diária, a poupança está rendendo hoje 1,4% ao ano.

Ainda que não haja incidência de Imposto de Renda ou outros custos sobre o produto, a rentabilidade está bem abaixo da inflação e também perde para aplicações similares, como fundos DI ou Tesouro Selic.

“Claramente a poupança hoje está significando perder dinheiro. A remuneração está em 1,4%, bem abaixo da inflação. É uma péssima alternativa”, diz o educador financeiro Carlos Eduardo Costa.

Comprar títulos prefixados sem pensar nos prazos
Luis Stuhlberger, responsável pela gestão do conhecido fundo Verde, já dizia em outubro que preferia “ficar dias presos a ficar aplicado em prefixado”. Ainda não há uma clareza sobre o comportamento da inflação, que encerrou 2020 em 4,52%, portanto acima do centro da meta de 4% definida pelo Conselho Monetária Nacional (CMN), mas ainda dentro do intervalo de tolerância.

Se a atividade econômica entrar em um ciclo de retomada, outros preços, para além dos alimentos, tendem a subir, pressionando os índices de inflação e o Banco Central a elevar a taxa Selic – de acordo com o relatório Focus, do Banco Central, o mercado financeiro prevê a taxa básica de juros em 3,25%, ao fim de 2021, e em 4,75%, em dezembro de 2022.

Ter na carteira de investimentos, nesse momento, títulos prefixados, pode ser, assim, um erro, considerando a contratação de uma taxa hoje que poderá ser maior até o vencimento do título em questão.

“O título público prefixado de prazo mais curto [disponível no Tesouro Direto] é o de 2023, são dois anos. Significa deixar o dinheiro preso nesse período. E se a taxa de juros subir, o investidor vai ter algum prejuízo”, explicou José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro CFP.

Vale lembrar que a relação entre taxa e preço é inversamente proporcional. Toda vez que a taxa de retorno de um título sobe, seu preço diminui. E o contrário também é válido.

O Tesouro Prefixado com vencimento em 2023 pagava uma taxa de juro anual de 5,16% nesta terça-feira (12).

Não ter cuidado com “turn around”
Empresas em processo de reestruturação de seus negócios, processo conhecido como “turn around”, parecem atrativas a um primeiro momento pelo potencial de mudança, mas podem se tornar um problema para o investidor, se não forem bem avaliadas.

As ações dessas companhias passam, em geral, por períodos de quedas acentuadas em suas cotações e, após o início do turn around, atraem investidores que buscam ganho rápido.

Paulo Batistella Bueno, gestor da Santa Fé Investimentos, alerta que essas empresas devem ser uma opção apenas quando se tem confiança na administração delas – ou seja, com executivos com histórico de entrega de resultados – e, ainda assim, é aconselhável que novatos em renda variável evitem esses papéis.

Como exemplo, Bueno cita a empresa de educação Cogna e a de meio de pagamentos Cielo. “A primeira tem problemas em seu negócio, com um endividamento elevado. A segunda precisa se reinventar com o aumento da concorrência”, pontua.

Para o gestor, as questões não indicam que essas empresas não vão conseguir se reestruturar ou inovar em seus negócios, mas que o processo pode demorar.

Evitar pensar nos custos dos produtos
Para quem tem pouco apetite ao risco e foco no curto prazo, os fundos de renda fixa estão sempre entre as opções de mais fácil acesso, em especial os do tipo DI.

No entanto, essas carteiras investem basicamente em títulos públicos atrelados à Selic e tendem (há fundos que aboliram esse custo) a cobrar uma taxa de administração que incide sobre o valor investido, além de Imposto de Renda (com alíquota regressiva) sobre os rendimentos.

Com a Selic em 2% ao ano, a taxa de administração tem um peso ainda maior na remuneração final.

“As taxas que os gestores cobram precisam ser proporcionais ao risco e à atuação do gestor. Um fundo de renda fixa DI exige muito pouco do gestor. Ele praticamente não deveria cobrar taxa de administração”, assinala Bueno, da Santa Fé.

Para o gestor, essa taxa de administração não pode passar hoje de 0,15% ao ano. Fundos que busquem retornos mais elevados, e que por isso tenham uma gestão mais ativa, podem ter taxas de administração mais elevadas, como os multimercados e os de ações não referenciados a índices.

Outra opção para o investidor conservador seria investir diretamente no Tesouro Direto, optando por plataformas de investimento que não cobrem taxa de administração, dada a cobrança obrigatória de uma taxa de custódia de 0,25%, para à B3.

“Minha sugestão é ter um papel do tipo Tesouro IPCA com o prazo mais curto possível. Os títulos curtos são menos voláteis e servem como proteção quando a inflação preocupa”, diz Bueno.

Concentrar os investimentos
As notícias de que a Bolsa está em um patamar recorde, que o Bitcoin está valendo mais de US$ 30 mil ou que investidores no exterior têm garantido um bom ganho nos últimos meses especialmente com ações de tecnologia costumam levar as pessoas a buscarem a grande tacada para garantir os melhores retornos em um curto período, destinando a maior quantidade de recursos possível para uma só aposta. Mas esse é um dos erros que o investidor precisa evitar: a concentração de investimentos.

“Ano passado, o ouro e os investimentos em dólar lideraram os ganhos. Tem investidor que olha esse retorno e quer concentrar todos os recursos nessas opções. É um erro. Esse comportamento pode não se repetir e o investidor ficar com toda sua carteira com retorno negativo”, enfatiza Leticia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP.

Em 2020, o ouro acumulou alta de 56% na B3 e o dólar se valorizou em cerca de 29% em relação à moeda brasileira. Ambos os ativos costumam ser recomendados por alocadores de recursos para proteção das carteiras.

“O investidor não pode ficar em uma única classe de ativos, por melhor que ela pareça. Hoje a diversificação está muito mais simples, com opções em que o valor de aplicação inicial é baixo”, diz o planejador financeiro Faria Júnior.

Essa diversificação, segundo ele, deve ser feita não só em classe de ativos, mas também em moeda. Para valores baixos, o planejador sugere que o investidor procure fundos de investimentos multimercados que apliquem parte dos recursos no exterior.

E também não é aconselhado se ater a um único ativo dentro da mesma classe de ativos. Na parcela destinada para a renda variável, por exemplo, o erro é querer ter uma única ação.

Para Bueno, da Santa Fé, enquanto o investidor não tiver segurança para fazer suas escolhas, pode deixar os recursos em um fundo e observar como o gestor justifica sua seleção para entender melhor a dinâmica – e os riscos – da renda variável.

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