A amiga de um dos homens mortos após furtar carne em um supermercado atacadista no bairro de Amaralina, em Salvador, disse que recebeu ligações dele pedindo ajuda e que ele sabia que seria entregue a traficantes da região. Yan Barros e Bruno Barros, tio e sobrinho, foram encontrados mortos com sinais de tortura na segunda-feira (26), na localidade da Polêmica, em Brotas.
Familiares fizeram uma manifestação na noite de quinta-feira (29), no bairro de Fazenda Coutos, onde eles moravam. O grupo cobrou justiça pelo crime.
A amiga de Bruno informou que ele entrou em contato por telefone após ser flagrado pelos seguranças, que cobraram dinheiro para liberar os dois. Entre as mensagens e ligações, Bruno pediu para chamar a polícia para evitar que ele fosse entregue aos traficantes.
“Ele disse: ‘Os caras disseram que se eu não pagar a carne, eles vão me entregar aos traficantes’. Eu disse a ele que eu não tinha. Aí eu liguei para um, liguei para outro, liguei para um, liguei para outro. E não consegui falar com ninguém”, contou a mulher, que prefere não ser identificada.
“Aí ele continuou me ligando e eu dizendo ‘espera, estou tentando arrumar. Espera que eu estou tentando arrumar’. Então na última ligação ele falou assim: ‘Beiço, eles estão me entregando agora pelo estacionamento aos traficantes aqui do Nordeste’”.
Segundo ela, na última ligação, Bruno apelou que ela fosse até o local. A mulher entrou em contato com os policiais, através de central telefônica, mas, não conseguiu evitar as mortes.
“‘Eu vou morrer! Não me deixa morrer, não! Vem para cá! Chame a polícia para me prender’. Foi a última coisa que ele me falou. Depois eu não consegui mais falar com ele. Cheguei a ligar para o 190, registrar uma queixa, mas não adiantou, porque quando a polícia chegou, já era tarde demais”, disse.
Entenda o caso
Na noite de segunda-feira (26), dois homens foram mortos na localidade da Polêmica, em Salvador. De acordo com a Polícia Civil, eles foram torturados e atingidos por disparos de arma de fogo. À época, a polícia informou que a motivação do crime estava relacionada ao tráfico de drogas.
Um dia depois, na terça-feira (27), eles foram identificados como Bruno Barros e Yan Barros. Na quinta-feira (29), a mãe de Yan, Elaine Costa Silva, revelou que ele foi morto após ter sido flagrado pelos seguranças do hipermercado Atakarejo por furtar carne no estabelecimento.
Segundo ela, o tio de Yan, Bruno, que também foi morto, enviou áudios a uma amiga informando o que tinha acontecido e pedindo ajuda para não ser entregue aos traficantes do Nordeste de Amaralina.
Por meio de nota, o Atakarejo informou que é cumpridor da legislação vigente, e atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais, e que não compactua com qualquer ato em desacordo com a lei.
Disse também que os fatos questionados envolvem segurança pública e que certamente serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente.
Já a Polícia Militar informou que a 40ª CIPM não foi acionada para atender a ocorrência. No entanto, assim que tomou conhecimento, por meio de populares, de que teria ocorrido de um possível furto no estabelecimento comercial no bairro de Amaralina, a unidade deslocou uma equipe até o local. Quando chegou, funcionários não confirmaram o fato.
A Polícia Civil informou que algumas testemunhas foram ouvidas na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa e as investigações estão avançadas. Segundo o órgão, já há indicativo de autoria. As equipes da unidade realizam diligências e mais detalhes não podem ser divulgados para não interferir no andamento das apurações.
O caso tem repercutido nas redes sociais. O PSOL Bahia postou um manifesto no Instagram cobrando investigação e punição dos envolvidos.