Publicidade
Carregando anúncio...

Palácio das Lágrimas em São Luís está há anos esperando reforma

Localizado no Centro Histórico de São Luís, casarão está se deteriorando com o passar do tempo.

Fonte: Luciene Vieira

SÃO LUÍS – O Palácio das Lágrimas, um casarão antigo localizado na esquina das ruas de São João e da Paz, em frente à Igreja de São João, no Centro de São Luís, está abandonado, servindo de refúgio para moradores de rua e usuários de drogas. Quem trabalha nas proximidades do imóvel afirma que havia um casal morando no local, e que há rotineiramente o movimento de entra e sai de pessoas em situação de vulnerabilidade.

As obras de restauração do Palácio das Lágrimas chegaram a ser iniciadas em junho de 2014. Mas, pouco tempo depois, elas foram paralisadas e não mais retomadas, nestes últimos sete anos. Se estivesse restaurado, o local deveria abrigar a sede do Curso de Música da Universidade Federal do Maranhão (Ufma).

“Não há um mês completo que os tapumes da obra foram retirados por vândalos. Supostamente, seriam os mesmos que sempre entravam no prédio, pulando as grades. Havia um casal morando dentro do imóvel, que chegou a puxar um fio de energia do poste para dentro do Palácio das Lágrimas, estavam fraudando o uso de energia elétrica”, relatou o relojoeiro Nilson Pestana, que trabalha há 17 anos na calçada do Palácio das Lágrimas.

Outra fonte ouvida pelo Jornal Pequeno, que preferiu não se identificar, disse ter presenciado, por diversas vezes, momentos em que pessoas pularam os muros do Palácio das Lágrimas para dentro do casarão. “Não foi uma ou duas vezes, porém diversas! Como pode um empreendimento histórico deste ficar sem o serviço de vigilância? E as pessoas que moram, trabalham ou simplesmente passam com frequência por esta área de São Luís não estariam desprotegidas, uma vez que o Palácio das Lágrimas é refúgio para moradores de rua, e possivelmente usuários de drogas?”, opinou.

No dia 5 de abril de 2017, o Jornal Pequeno entrevistou o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão, Maurício Abreu Itapary, sobre reformas em prédios históricos de São Luís. Na data, Itapary informou que a restauração do Palácio das Lágrimas seria concluída em agosto de 2017. Este era o terceiro prazo de entrega da obra.

Naquela época, ainda existia uma plana fixada na calçada do prédio que sinalizava que os serviços deveriam ter sido iniciados em 16 de junho de 2014, com prazo de entrega para o dia 16 de fevereiro de 2015.

Na edição do JP do dia 5 de outubro de 2017, foi noticiado o anúncio do ex-presidente Michel Temer de descontingenciamento de R$ 15 milhões para a continuidade das obras realizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em São Luís. Com esse montante, estariam garantidos os serviços de revitalização do Palácio das Lágrimas.

Em setembro de 2018, procurado pelo Jornal Pequeno, o Iphan alegou que, ainda em 2015, a Universidade Federal do Maranhão havia tido um problema no orçamento da demolição do anexo contemporâneo. Segundo o Iphan, a demolição do anexo entrou no projeto de obra, mas somente durante a execução, a universidade se deu conta de que não havia contabilizado esse custo no orçamento, e por isso os serviços pararam.

Por esse motivo, em maio de 2015, um termo aditivo teria sido assinado pela Ufma, governo do Estado e o Iphan-MA, prorrogando a restauração e requalificação arquitetônica do Palácio das Lágrimas por mais 240 dias. Dessa forma, as obras teriam prazo de finalização estendido até fevereiro de 2016, o que, mais uma vez, não aconteceu.

No dia 21 de maio de 2019, o Jornal Pequeno voltou a entrevistar Maurício Itapary sobre o Palácio das Lágrimas. Na ocasião, o superintendente do Iphan informou que estava havendo um problema administrativo com a empresa que trabalhava na obra de restauração do casarão.

Maurício contou que, por esse motivo, a Ufma estaria trabalhando na rescisão de contrato com a empresa MPA Engenharia.

Conforme o superintendente, a MPA Engenharia alegou que o dinheiro destinado à obra não era suficiente. “A empresa ‘mergulhou’ no preço, fez uma oferta muito baixa de valores, ganhou a licitação, e agora está sem condição de fazer a obra”, informou Itapary, ao complementar que já havia feito quatro ofícios endereçados à Nair Portela, ex-reitora da Ufma, pedindo um posicionamento da universidade sobre o porquê da demora de rescindir o contrato com a construtora, uma vez que os serviços estavam parados.

Na época, o Jornal Pequeno chegou a enviar vários e-mails à Ufma, insistindo em saber os motivos que levariam a ex-reitora a ignorar os ofícios enviados pelo superintendente do Iphan, mas a universidade não respondeu às demandas.

Em janeiro de 2020, a Ufma disparou para a imprensa uma matéria sobre uma visita técnica, ao Palácio das Lágrimas, feita no dia 27 de janeiro do ano passado, por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da Superintendência de Infraestrutura da Universidade Federal do Maranhão (Sinfra-Ufma). O objetivo teria sido avaliar as condições físicas e estruturais do local.

“Como o Iphan está fazendo um projeto de revitalização do prédio, estamos avaliando o estado em que se encontra. Foi observado que há muito lixo, então vamos organizar um mutirão de limpeza da área, resguardar peças históricas, que serão acondicionadas de forma adequada aqui mesmo na Sinfra, enquanto as obras estiverem sendo realizadas, retornando quando o local estiver pronto para abrigálas de volta”, explicou o diretor de Planejamento e Controle da Sinfra, Geovane Bezerra Jr, à época.

Entretanto, a obra permaneceu parada. No dia 10 de fevereiro de 2020, o professor da Ufma Arkley Bandeira, que é doutor em arqueologia, e faz parte da assessoria do gabinete do reitor Natalino Salgado, rebateu as notícias de obra parada, justificando que ela não estava acontecendo, porque “ainda” estavam sendo feitas asconclusões das atividades técnicas de criação.

De acordo com a Ufma, depois de restaurado, o Palácio das Lágrimas, que está localizado em frente à Igreja de São João, no Centro, será sede do Curso de Música da Universidade Federal do Maranhão (Ufma). Devido a esta mudança, a obra, em fevereiro do ano passado, voltou para a fase de elaboração do novo projeto arquitetônico, pois, a princípio, era prevista a construção do Museu de Ciência da Ufma.

Nessa quarta-feira (18), a equipe de reportagem do Jornal Pequeno voltou ao Palácio das Lágrimas. No local, havia um guarda de segurança particular da universidade, que informou ter ido apenas para acompanhar a visita de técnicos da Ufma ao espaço.

Segundo o guarda, é feita por ele uma vistoria no espaço antes da visita técnica, e ele disse que encontrou um morador de rua dentro do Palácio das Lágrimas. Também ontem a equipe de reportagem encontrou operários fazendo a limpeza do casarão.

LENDA

Diz uma lenda que no Palácio das Lágrimas moravam dois irmãos imigrantes portugueses que vieram para o Maranhão, no século 19, fazer fortuna, como era costume na época. Um dos irmãos ficou rico com o comércio e com o tráfico de escravos. O outro irmão não conseguiu ficar rico e, por isso, assassinou o que havia enriquecido, ficando assim com todos os seus bens, inclusive os escravos e, especialmente, com uma escrava que era amante do seu irmão.

Essa escrava, que tinha vários filhos com o irmão morto, foi humilhada pelo assassino por vários anos até que um dos seus filhos descobriu a verdade e matou o tio.

O filho da escrava teria jogado o tio por uma das janelas do casarão e foi preso pela polícia, sendo também condenado a morrer enforcado. Antes da consumação do enforcamento, que aconteceu diante do sobrado, o condenado amaldiçoou o casarão fatídico com as palavras “Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como Palácio das Lágrimas”.

OUTRO LADO

Por meio de nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que o projeto do Palácio das Lágrimas foi contratado pela Universidade Federal do Maranhão (Ufma), bem como a respectiva obra em questão. E que “apenas os recursos financeiros para a obra foram do Iphan, via Programa de Preservação de Cidades Históricas (antigo PAC Cidades Históricas), por meio da celebração de um TED com a Ufma”.

O Iphan comunicou ainda que “no entanto, a empresa contratada para a execução da obra apresentou baixo desempenho e descumprimento de cronograma, o que levou a Ufma a decidir pelo distrato com a empresa”.

Foi informado também que “no momento, o Iphan, em conjunto com a Ufma, tem trabalhado na revisão de todos os projetos (arquitetônico e complementares) e orçamento, para que seja realizada nova licitação e a obra seja retomada”.

Igualmente procurada pelo Jornal Pequeno, até o fechamento desta matéria, a Ufma não envio seu posicionamento quanto à demora na reforma do Palácio das Lágrimas.

Fechar