Fim de semana tenso no Sul do Maranhão com seguidas destruições de pilhas de eucalipto

Acusado de promover os incêndios, MST nega os crimes e exige que seja apurada a origem do fogo.

Fonte: O Informante

O fim de semana foi tenso nas imediações do assentamento Marielle Franco, em Itinga (Sul do Maranhão), depois de dois incêndios seguidos em pilhas de eucalipto que seriam transportadas para a siderúrgica Viena, em Açailândia.

O empresário Cláudio Azevedo, presidente do SIFEMA (Sindicato das Empresas de Ferro Gusa do Maranhão) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Maranhão (Fiema), atribuiu os crimes a integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST), no Maranhão, que, em nota, por sua vez, negou envolvimento nos incêndios.

Na manhã dessa segunda-feira, 5, em contato com o Jornal Pequeno, por meio do blog O INFORMANTE (JP online), que levou os casos a público em primeira mão, desde o domingo (4), o presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Guaramandi – Assentamento Marielle Franco, Francisco Lima de Araújo, negou o envolvimento da entidade e do MST nos incêndios.

O INÍCIO

A destruição das pilhas de eucalipto começou no início da tarde de sábado, 3. Segundo Cláudio Azevedo, os integrantes do MST atearam fogo em várias pilhas de eucalipto cortado na fazenda da siderúrgica Viena que seria transportado para a indústria da empresa, em Açailândia. Os funcionários da Viena passaram a noite inteira apagando o fogo.

O MST ocupou as terras da Viena há mais de dois anos, transformando-se o local no assentamento ‘batizado’ Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada a tiros no centro do Rio de Janeiro, em março de 2018. Na época, a Viena conseguiu na justiça a reintegração de posse, mas a decisão judicial nunca foi cumprida.

O presidente do Sifema informou que não é só a Viena que tem problemas de terras invadidas no Maranhão; a empresa Suzano, segundo ele, também enfrenta essa insegurança. Cinco fazendas teriam sido invadidas pelo MST no estado: Jurema, São Bento, Santa Cruz, Rodominas e Eldorado.

NOVO INCÊNDIO NO DOMINGO

Na noite de domingo, o MST foi acusado novamente de destruir pilhas de eucalipto da Viena, em Itinga, no Sul do Maranhão. Os eucaliptos cortados estavam empilhados e aguardando o transporte para a siderúrgica Viena, em Açailândia.

“O prejuízo com destruição é enorme, pois se trata do resultado de sete anos entre plantio, tratos culturais, até estarem prontos para serem cortados”, disse Azevedo.

Segundo informações recebidas pelo empresário, policiais militares foram recebidos a tiros pelos autores do incêndio, na noite de domingo, logo que foram avistados chegando ao local, já no final das pilhas de eucalipto que estavam pegando fogo.

“NÃO FOMOS NÓS NEM O MST”

O presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Guaramandi – Assentamento Marielle Franco –, Francisco Lima de Araújo, negou o envolvimento da entidade e do Movimento dos Sem Terra (MST) nos incêndios em Itinga. “Não fomos nós nem o MST”, garantiu.

“No sábado” – disse ele – “nós estávamos nas comemorações de um desfile cívico e quando servíamos o almoço olhamos a fumaça e o fogo. Continuamos a nossa atividade. No domingo, seguranças da empresa (Viena) vieram e deram rajadas de tiros. Revidamos com foguetes, pois só temos foguetes aqui no acampamento. E aí incendiaram outras pilhas de eucalipto, isso tudo para incriminar a gente”, ressaltou Francisco, informando que 144 famílias estão assentadas no acampamento, e que o MST acompanha esse movimento desde o início do acampamento, dando apoio logístico e jurídico, juntamente com o advogado que a associação constituiu.

Francisco Lima de Araújo acrescentou que “logo após o incêndio do sábado, a gente se deparou com três pessoas usando roupas sociais, com coletes à prova de balas e com pistolas, dizendo que eram policiais. Mas não tinham nenhuma identificação, não tinham nenhuma tarjeta indicando que eram policiais. A gente pediu algum mandado, perguntamos o que eles estavam fazendo e como não tinham mandado pedimos que eles se retirassem, porque estávamos em festa e a visita deles não era bem vinda no assentamento naquele momento. Logo depois da retirada deles acontecem o primeiro incêndio. Daí por diante, começou toda a movimentação. Estamos aqui encurralados, a gente tem prova, com vídeos que foi feita a manifestação pedindo para deles se retirarem”, afirmou.

Francisco também disse que o acampamento recebe visita desses ‘policiais’ desde o dia 16 de maio, “porque aconteceu uma audiência com uma juíza agrária, e desde essa audiência a gente vem recebendo essa pressão tanto da parte da segurança armada (da empresa Viena) como da parte desses ‘policiais’, que têm vindo aqui constantemente, até três vezes por semana, eles vêm aqui para nos intimidar, fazendo perguntas que não são cabíveis, dizendo que nós não podemos brocar um pedaço de roça. Até dentro das roças eles já foram abordados. A gente foi lá e pediu para eles saírem. Eles alegam sempre que estão caçando carros e motos roubados, mas aqui nunca encontraram nenhum”.

NOTA DO MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Maranhão, repudiou o que considerou “acusação caluniosa”, de responsabilizá-lo pela queima de pilhas de eucalipto cortado pela empresa Viena Siderúrgica.

Em nota, o movimento “denuncia toda forma de criminalização da sua luta e exige que seja apurada a origem do fogo”. A seguir, a íntegra da nota do MST-MA.

Nota de repúdio contra qualquer tipo de criminalização da luta do MST e violência no campo

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado do Maranhão repudia a acusação caluniosa, que o responsabiliza pela queima de pilhas de eucalipto, cortados pela empresa Viena Siderúrgica. Trata-se de uma empresa que mantém permanentemente segurança armada, ameaçando as famílias moradoras no acampamento Marielle Franco.

O acampamento Marielle Franco surgiu a partir da organização de famílias da região, para reivindicar a criação do assentamento numa área grilada pela empresa Viena Siderúrgica que pertence à gleba pública.

O acampamento Marielle Franco é uma comunidade com vida e produção no campo. Possui escola, igrejas, associação, campo de futebol… possibilitando espaços de cultura e lazer para as famílias.

A comunidade é referência na produção e comercialização de alimentos e contribuiu para a reativação do mercado municipal de Itinga do Maranhão. No dia 3 de setembro, houve uma atividade cívica na comunidade, com a participação da secretaria de educação do município de Itinga do Maranhão, lideranças políticas e representantes das escolas do campo da região.

Após essa atividade, milicianos armados, que se identificam como policiais, entraram no acampamento para tentar reter ferramentas de trabalhos e motos, motivo que levou os acampados a se organizarem para retirada dos milicianos do local.

Após este episódio, a empresa Viena Siderúrgica ameaçou entrar de forma violenta para derrubar as moradias de aproximadamente 150 famílias que residem na comunidade. O MST denuncia toda forma de criminalização da sua luta e exige que seja apurada a origem do fogo.

Para nós, é evidente que esta calúnia passa por uma tentativa de efetivar qualquer tipo de ataque contra as famílias, a fim de despejá-las de uma área que se encontra num processo jurídico em andamento e o qual evidencia fortes indícios de grilagem, por parte da empresa.

O MST denuncia toda forma de violência no campo contra trabalhadores que lutam para garantir seu direito à terra e reafirma a necessidade de efetivar as políticas de Reforma Agraria sucateadas pelo governo atual”.

NOTA DE IMPUGNAÇÃO ÀS MANIFESTAÇÕES
CONTRADITÓRIAS APRESENTADAS PELO MST

A CIMAR – CENTRO DAS INDÚSTRIAS DO MARANHÃO, por seu Presidente Cláudio Azevedo, vem a público registrar que tomou conhecimento da negativa de responsabilidade do MST e dos pertencentes ao intitulado “Acampamento Marielly Franco” na provocação de incêndio criminoso em pilhas de eucaliptos em fazenda da empresa Viena Siderúrgica, no Itinga do Maranhão.

Todavia, não são poucas as ameaças à integridade física de trabalhadores da empresa oriundas das pessoas que se intitulam como assentados do “Acampamento Marielly Franco” em terras que foram invadidas pelo referido grupo e tem constante e público apoio do MST, com ostentação de bandeiras e palavras de ordem contra funcionários da empresa, em várias ocasiões, em ações criminosas por desmate de Reserva Legal, incêndios, ameaças de invasão de outras áreas de reserva legal, comércio ilegal de madeira, na maioria das vezes fortemente armados.

Não é de se estranhar a negativa de tais atos, sendo este o “modus operandi” dessa organização criminosa, entretanto, a empresa é proprietária e possuidora por mais de 27 anos, na data da invasão em 2018, das citadas áreas, cujo local do assentamento e áreas adjacentes desmatadas por eles, era toda coberta por vegetação nativa, por se tratar de Reserva Legal de seu Horto Florestal, devidamente cadastrado no CAR- Cadastro Ambiental Rural, portando a mesma toda documentação legal da área, devidamente titulada pelo GETAT, órgão vinculado ao INCRA, desde a sua aquisição, conforme constam dos registros cartorários juntados no processo judicial que discute os fatos.

Nota-se também, o total desrespeito por parte das citadas organizações quanto a reiterados descumprimentos de decisões judiciais, quanto a determinação e reconhecimento pelo Poder Judiciário da posse legal e anterior das áreas em nome da empresa, continuando os mesmos na resistência ao descumprimento e na continuidade de vários crimes ambientais e agora em destruição de patrimônio particular da empresa, reiterando-se a necessidade de medidas rígidas por parte das autoridades constituídas, para frear essas ocorrências.

Portanto, a negativa de autoria é apenas um sofisma que não encontra eco, nos registros levados ao conhecimento das autoridades policiais.

São Luís ( MA), 05 de setembro de 2022.

CIMAR – Centro das Indústrias do Maranhão

Cláudio Donizete Azevedo – Presidente

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