O acúmulo de gordura abdominal é um fator de risco para insuficiência e deficiência de vitamina D em pessoas com mais de 50 anos. A descoberta inédita foi feita por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a University College London, da Inglaterra, segundo informações da Agência Fapesp.
Estudos anteriores já haviam relacionado a falta de vitamina D com o desenvolvimento da obesidade. Porém, de acordo com os pesquisadores do novo estudo, não estava claro por que países com alta ou baixa incidência solar tinham alta prevalência de deficiência de vitamina D. Agora entende-se que é porque existe alta prevalência de obesidade.
“Tanto a obesidade abdominal quanto a insuficiência e deficiência de vitamina D são questões prevalentes na população idosa. No entanto, com esse estudo mostramos que é a gordura abdominal que aumenta o risco de insuficiência e deficiência de vitamina D e não apenas a relação inversa, como alguns estudos já haviam demonstrado. Não estamos descartando que a vitamina D levaria à obesidade, apenas demonstrando que o acúmulo de gordura abdominal também é uma via para a carência dessa vitamina”, afirmou Tiago da Silva Alexandre, professor de Gerontologia da UFSCar, à Agência Fapesp.
Os resultados, publicados recentemente na revista científica Nutrients, mostraram que quatro anos depois da primeira coleta de dados, as pessoas que apresentavam obesidade abdominal tinham 36% mais risco de desenvolver insuficiência de vitamina D e uma probabilidade 64% maior de deficiência da substância, em comparação com o grupo que não tinha obesidade abdominal.
Foi considerada insuficiência de vitamina D uma taxa entre 30 e 50 nmol/L, enquanto a deficiência estava configurada como menos de 30 nmol/L no sangue.
Pessoas mais velhas tendem a apresentar níveis mais baixos de vitamina D. O envelhecimento leva a uma diminuição da espessura da pele e, por consequência, a uma menor disponibilidade da substância precursora da vitamina D na epiderme, bem como uma menor capacidade de síntese da forma ativa dessa vitamina. Há também diminuição do número de receptores de vitamina D nos tecidos corporais, o que dificulta a captação dessa vitamina circulante no organismo.
“Ao analisarmos as células de gordura dessas pessoas, é possível observar que as enzimas da vitamina D estão baixas. Isso acontece porque um receptor da vitamina D (VDR) passa a capturar a vitamina D que está na corrente sanguínea. Isso ocorre como forma de compensar o baixo nível de enzimas na célula de gordura. De modo simplificado, é como se o tecido adiposo sequestrasse a vitamina D. O que faz com que haja uma menor biodisponibilidade de vitamina D nos exames de sangue, como vemos. É esse processo que vai acarretar insuficiência ou até deficiência de vitamina D”, explica Thais Barros Pereira da Silva, aluna de iniciação científica e primeira autora do estudo, à Agência Fapesp.
Considerada um hormônio, a vitamina D desempenha diversas funções no organismo e sua carência pode acarretar diversos problemas, como na absorção de cálcio e fósforo e no funcionamento do sistema imune, por exemplo. Ela é obtida, sobretudo, por meio da luz solar porque é nas camadas mais profundas da pele que uma substância precursora da vitamina D fica armazenada.
Quando a pele é exposta ao sol sua estrutura é modificada e a vitamina D é convertida em sua forma ativa que passa a circular pelo organismo e realizar várias funções.
Para Alexandre, a descoberta reforça a necessidade de políticas públicas para a prevenção e o enfrentamento da obesidade e da carência de vitamina D na velhice.