Golpe com nome da Shein atrai vítimas por YouTube, Google e apps

Loja do Google derrubou apps que divulgavam suposto serviço relacionado à Shein por violação da política de uso

Fonte: G1

O golpe que usa o nome da Shein para prometer dinheiro fácil em troca de avaliar roupas continua fazendo vítimas com a ajuda de vídeos no YouTube, onde dezenas de supostos avaliadores fazem resenhas positivas de sites que promovem esse falso serviço.

Os canais onde esse conteúdo é postado também pagam anúncios para aparecerem no topo dos resultados de pesquisa do Google, com links que levam para esses sites e para os vídeos.

Aplicativos e sites do golpe podem assumir o nome de "Avaliador de Marcas" — Foto: Reprodução

Aplicativos de fachada para avaliadores, também seguem disponíveis na plataforma Google Play Store, sendo que alguns deles chegaram ter a mais de 10 mil downloads e receberam selo de segurança da loja de apps.

Faz mais de dois meses que a Shein alertou que não tem envolvimento com esse tipo de ação e que as promoções da loja chinesa são divulgados em canais oficiais. O comunicado da empresa veio na época em que influenciadores promoviam o golpe no Instagram.

Google derruba apps, mas mantém vídeos

No último dia 22, o portal g1 apontou para o Google exemplos de três aplicativos que promoviam o suposto serviço de avaliação e que podiam ser baixados no Google Play Store. Dois deles tinham o selo de segurança.

Um dia depois, a plataforma derrubou os três apps, afirmando que eles violavam as regras da loja de aplicativos. Em nota, a empresa disse que “o Google Play tem um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos, por exemplo, apps que expõem usuários a produtos financeiros enganosos e prejudiciais”.

O g1 também mandou para o Google os links de dois vídeos que divulgavam no YouTube — plataforma que também pertence à “big tech” — a promessa de dinheiro fácil e também usam o nome da loja chinesa.

No entanto, o YouTube respondeu que não viu desrespeito às regras nas publicações.
Mas a própria plataforma divulga entre as diretrizes do YouTube que não devem ser postados vídeos com “Golpes: conteúdo que oferece brindes em dinheiro, esquemas de enriquecimento rápido ou de pirâmide (envio de dinheiro sem um produto tangível em uma estrutura de pirâmide)”.

Entre os tipos de conteúdo que “não são permitidos no YouTube”, a página dá como exemplo “fazer promessas exageradas, como afirmar que os espectadores podem enriquecer rapidamente ou em que um “tratamento milagroso pode curar doenças crônicas como o câncer” e “vídeos com promessas como ‘Você vai ganhar R$ 50 mil amanhã se fizer isso!'”, entre outros casos.

Os dois exemplos de vídeos enviados ao YouTube tinham os mesmos padrões de outros 32 vistos pelo g1. A relação completa também foi enviada ao Google. Dos 34, apenas um vídeo não estava mais disponível na quarta (28) porque tinha se tornado privado.

‘Um valor por volta de R$ 1.300’

A busca por “Money Looks”, marca associada a um dos apps da fraude, excluído do Google Play após reportagem do g1, levou a alguns desses vídeos no YouTube.

No topo dos resultados, por conta de anúncios pagos, aparece o link de um vídeo que tenta convencer a audiência a baixar o aplicativo.
“Realmente funciona. Em questão de um mês, em alguns dias, eu consegui fazer um valor por volta de R$ 1.300”, diz a mulher que grava no vídeo, logo no primeiro minuto de fala.

O mesmo ocorreu no buscador do Google, na pesquisa por “Avaliador de Marcas”, outro nome que os aplicativos e sites relacionados ao golpe podem assumir. A maioria dos vídeos no YouTube foi encontrada com esse termo de pesquisa.

Como são os vídeos

Os vídeos seguem um padrão:

  • pessoas anônimas gravam o próprio rosto, em vídeo que tem como proposta explicar se o serviço é golpe ou não;
  • o título do vídeo e tom inicial da fala têm um tom crítico, como se fossem alertar que a promessa é uma fraude;
  • os youtubers até pedem cuidado com “sites falsos”, que seriam os responsáveis pelas pessoas caírem em golpes;
  • no entanto, no decorrer do vídeo a pessoa garante que conseguiu fazer dinheiro fácil ao avaliar roupas. Alguns dizem que receberam até R$ 1.300 em um mês;
  • A pessoa pode não citar o nome da Shein, mas a aba de descrição do vídeo tem o nome da empresa;
  • a aba de descrição ainda mostra os supostos “sites oficiais”: endereços repletos de indícios da fraude (veja abaixo como identificar), acompanhados da marca da Shein ou da “Money Looks”, associada a apps e sites derrubados por promoverem o golpe;
  • a mesma pessoa pode aparecer em vários canais, gravando mais de um vídeo, sempre com o mesmo padrão e objetivo de convencer usuários que a proposta é confiável.

Aplicativos de fachada

O golpe também é efetuado em aplicativos disponíveis no Google Play Store. Três deles, chamados de “Avaliador de Marcas”, estavam ativos na plataforma na tarde do dia 21 de junho.

Dois aplicativos tinham mais de 10 mil downloads e eram verificados pela “Play Protect”, selo do Google para confirmar a segurança do aplicativo aos usuários.

Um aplicativo com o mesmo propósito, chamado de “Avaliador de Roupa Money Looks”, só foi derrubado da plataforma após reportagem do g1 mostrar que o produto continuava a fazer vítimas.

Os aplicativos estão repletos de queixas de fraude na aba de comentários do Google Play. Já os vídeos no YouTube têm diversos comentários positivos, elogiando o suposto serviço.

Esses comentários positivos, no entanto, têm indícios de fraude, segundo Fabio Assolini, diretor de Pesquisa da Kaspersky, empresa especializada em segurança digital.

“Ou as contas são bots, ou seja, contas falsas, criadas e controladas pelo fraudador. Ou são contas que pertencem a pessoas verdadeiras, cuja senha vazou em algum momento”, afirma.

Aplicativo tinha mais de 10 mil downloads e média de avaliação baixa: apenas uma estrela e meia — Foto: Reprodução/Play Store

O que diz o Google

Por meio de assessoria de imprensa, o Google afirmou que os três aplicativos enviados pela reportagem foram removidos por violar as políticas da empresa.

Os vídeos do YouTube, no entanto, foram mantidos, por não violarem as diretrizes da plataforma. Veja abaixo o posicionamento completo da empresa sobre os aplicativos.

“Os aplicativos mencionados foram avaliado e removido por violar as políticas de Google Play.

O Google Play tem um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos, por exemplo, apps que expõem usuários a produtos financeiros enganosos e prejudiciais. Contamos com uma combinação de inteligência de máquina, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar conteúdo impróprio. Levamos muito a sério as denúncias de segurança contra aplicativos e, se descobrirmos que um app violou nossas políticas, agimos imediatamente. Nossos usuários também são protegidos pelo Google Play Protect, que avisa os usuários ou bloqueia aplicativos maliciosos identificados em dispositivos Android.
Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um aplicativo que esteja em desacordo com as nossas regras pode denunciá-lo na Google Play – na página do app, basta tocar no botão de três pontos e, em seguida, ‘Sinalizar como impróprio’.”

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