Completam-se exatos 20 anos, nesta terça-feira (21), a maior tragédia do programa espacial brasileiro: a explosão do foguete VLS-1 V03, que resultou em 21 mortos no Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA).
Era uma sexta-feira – 22 de agosto de 2003 – e o Jornal Pequeno saiu com esta manchete na capa: ‘Catástrofe – 21 mortos em explosão de foguete na Base de Alcântara – Jornal O Estado do Maranhão levanta suspeita de sabotagem, horas antes da tragédia’.
Diz a chamada de capa do JP: Terminaram em tragédia os últimos preparativos para o lançamento do terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites – o foguete VLS-1 V03 -, no Centro de Lançamentos de Alcântara. Uma explosão matou 21 pessoas, segundo informou oficialmente o Ministério da Defesa. O foguete explodiu às 13h30, segundo informou o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica.
SUSPEITA DE SABOTAGEM
Em sua edição desta sexta-feira (22), horas antes da tragédia, o jornal O Estado do Maranhão, de propriedade do presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney, levantou suspeitas de sabotagem em torno da operação para lançamento do VLS:
“Engana-se quem pensar que a operação em que se prepara o lançamento de mais um foguete do tipo VLS em Alcântara está limitada à movimentação de especialistas em parafernália tecnológica espacial. Em paralelo, e com igual intensidade, está em andamento uma outra operação, esta comandada pelo setor de inteligência do Programa Espacial Brasileiro e destinada a prevenir conta improváveis, mas não impossíveis ações de sabotagem” – divulgou, em editorial, o jornal de propriedade do presidente do Senado, José Sarney.
Na época, o JP publicou na íntegra este editorial, intitulado ‘Suspeita no ar’. Na edição de 3 de setembro de 2003, a revista Carta Capital publicou reportagem de capa, com o título ‘Alcântara – Crônica de um desastre anunciado’. Corte de verba e redução de pessoal eram “sérios riscos”, alertava estudo da Escola Superior de Guerra, em 2002. Enquanto isso, Europa, Japão e EUA disputam Marte.
O Centro de Lançamento de Alcântara foi inaugurado em 1º de março de 1983 e serviu como substituto para o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte.
Após quase 30 decolagens feitas da base de lançamento de Alcântara, um terrível acidente com o foguete VLS1 V03 da missão SATEC deixou 21 mortos, todos funcionários do Centro Técnico Espacial (CTA) de São José dos Campos, no estado de São Paulo. Um incêndio seguido por uma explosão foi causado pela ignição acidental de um dos quatro motores do foguete brasileiro, conforme relatou o ministro da Defesa na época, José Viegas.
O acidente aconteceu três dias antes da data prevista para a decolagem da missão, 22 de agosto de 2003, e pôde ser rapidamente visto por quatro câmeras que monitoravam cada um dos andares da base de lançamento.
O fogo se alastrou a partir da base do veículo e em segundos tomou todo o foguete, chegando até sua extremidade superior onde estava o satélite que seria colocado em órbita. Câmeras externas também mostram a tragédia: é possível ver a explosão da base onde o veículo estava armazenado pouco depois das 13h26.
O objetivo da missão – também chamada de Operação São Luís – era colocar em órbita circular equatorial os satélites meteorológicos SATEC, do INPE, e o UNOSAT, da Universidade do Norte do Paraná.
Segundo o comando do Centro de Lançamento de Alcântara, a tragédia com o VLS começou com o incêndio causado pela ignição acidental do motor que se alastrou em velocidade impressionante, chegando a temperaturas de 3 mil graus Celsius, que derrubou a torre de lançamento sobre o foguete e causou a explosão. A plataforma onde os 21 técnicos do CTA da Aeronáutica trabalhavam também ruiu, levando todos a óbito imediatamente.
Muitas investigações foram feitas no local do acidente para determinar as causas do incêndio e encontrar culpados pelas mortes. As famílias dos técnicos até hoje lamentam o ocorrido e sentem o esquecimento público do caso e a negligência do governo no que diz respeito ao amparo que deveriam receber após a perda de entes queridos.
Algumas pessoas chegaram a cogitar a possibilidade de terrorismo, sabotagem, especialmente por parte dos Estados Unidos, que teriam propositalmente causado o acidente para evitar que outros países entrassem no ramo da exploração espacial — área que os norte-americanos têm dominado após o fim da União Soviética.
No século XXI, o Centro de Lançamento de Alcântara continuou funcionando, tendo, em 2010, colocado em órbita com sucesso um foguete de médio porte, o VSB-30, que realizou testes em microgravidade e conseguiu retornar a salvo para a Terra. Da mesma base também saiu o primeiro foguete de propulsão líquida do Brasil, em 2014.