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A gestão é a melhor ferramenta na pecuária

Entrevista da Scot Consultoria com o coordenador do Instituto Inttegra, Antônio Chaker Zootecnista e mestre em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá, PR. Consultor sênior e coordenador do Instituto Inttegra Métricas Agropecuárias. Autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”. Scot Consultoria: Quanto à gestão das propriedades de pecuária […]

Fonte: Scot Consultoria

Zootecnista e mestre em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá, PR. Consultor sênior e coordenador do Instituto Inttegra Métricas Agropecuárias. Autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”.

Scot Consultoria: Quanto à gestão das propriedades de pecuária de corte, quais os principais desafios e oportunidades na realidade brasileira?

Chaker: Nós entendemos que fazer gestão é fazer tudo para bater meta, e gerenciar é acompanhar se está acontecendo aquilo que era para acontecer. Sob esse ponto de vista, o principal desafio da gestão é a cultura de implantar e tornar rotina todas essas práticas de acompanhamento de resultado.

Invariavelmente, para que aconteça a prática da gestão, a gente precisa ter 2 grandes elementos: o plano que a fazenda está buscando – quais são as metas, os macros objetivos – e o número do realizado. Porque o grande papel do gestor é acompanhar o que era para acontecer e o que aconteceu, para diminuir essa distância. A partir do momento que não temos uma rotina implantada e uma cultura de acompanhamento dos resultados, a gestão fica frágil e acabam sendo tomadas decisões importantes sem uma análise completa, já que os resultados não são acompanhados no nível que precisaria e, com isso, a gente não consegue manter o projeto dentro do planejado.

O grande desafio da gestão é poder implantar e tornar rotina, principalmente permear tudo isso na cultura da empresa, desde os gestores, direção e até os cargos operacionais.

A oportunidade, do ponto de vista de gestão, está justamente em poder acompanhar os resultados de uma forma mais próxima. Hoje, já temos sistemas, tecnologias e formações que possibilitam preparar todos os níveis hierárquicos para implantar as rotinas de gestão e as camadas da visão.

Existem quatro rotinas de gestão e três camadas da visão. A primeira rotina de gestão é a rotina semanal, acompanhando a programação. A segunda rotina é a rotina mensal, reunião gerencial mensal, já acompanhando os números preliminares da safra. A terceira é rotina trimestral, também conhecida como revisão de tendência trimestral, onde se avalia os resultados acumulados e os resultados previstos para a safra. E a quarta e última rotina é a rotina anual, onde você tem a análise completa do que aconteceu na safra e já atualiza o plano de quinquênio.

Tudo isso olhando sempre para três camadas de visão, linha do olho, linha do meio e a última linha. A linha do olho é tudo aquilo que não necessariamente precisa ser medido para entender se está indo bem ou mal. A linha do meio são as métricas e acompanhamentos, como taxa de lotação, desembolso/cabeça/mês e demais indicadores táticos. Por fim, temos a última linha, que são as métricas estratégicas, que é o resultado sobre o valor da terra em hectares/ano e os resultados sobre o valor do gado.

Scot Consultoria: O último ciclo de alta de preços na pecuária fez com que aumentassem os níveis de investimentos no setor. Agora, em um momento de baixa do ciclo, qual a principal ferramenta gerencial e como ela deve ser utilizada estrategicamente nesse momento?

Chaker: Tanto o ciclo de alta quanto o ciclo de baixa trazem grandes oportunidades para o pecuarista. No ciclo de alta você tem grandes investimentos estruturantes, como por exemplo uma capacidade importante de geração de caixa. Já no ciclo de baixa é o momento em que, quando a fazenda está preparada para viver os ciclos da pecuária, ela consegue crescer.

Sabemos que os ciclos apresentam duração e nos ciclos de baixa é o momento em que a fazenda pode crescer, adquirir animais, olhar para os planos de triênio e, com isso, capturar esse primeiro valor. O valor que o ciclo de baixa sempre traz para os pecuaristas profissionais são revisões importantes nos processos internos. Pela própria pressão do valor de venda, acabam encontrando maior excelência operacional. Com isso, busca-se conquistar oportunidades no detalhe e fazer com que, mesmo no ciclo de baixa, se consiga continuar operando com margem e, principalmente, empreender na direção do crescimento do rebanho.

Sobre a ferramenta gerencial, é justamente um olhar muito profundo nos processos orçamentários, o orçado x realizado, para que a gente cumpra absolutamente nosso desafio, dentro do ponto de vista de desembolso/cabeça/mês. Já do ponto de vista técnico, se busca ter um ganho médio diário máximo possível em ambientes pastoris, garantindo com que se tenha melhor relação do uso de suplementos, estratégias de confinamentos e terminação a pasto.

Scot Consultoria: A gestão dos dados zootécnicos e econômicos da porteira para dentro é crucial para a atividade. Como essas ferramentas podem ser utilizadas para fomentar a gestão competitiva e rentável na pecuária?

Chaker: A questão é justamente diminuir a distância entre o que é e o que deveria ser, através de uma atitude subsequente a uma análise de dados, apoiando o desenvolvimento estratégico das fazendas através da velocidade nas tomadas de decisão, associadas a informações, o que contribui para a qualidade nessa decisão.

A partir do momento em que se conhece o número, tem uma meta e assim estabelece boas estratégias. Se eu sei que eu preciso diminuir R$1,82 no meu desembolso cabeça/mês para conquistar a margem que estava no planejamento, isso torna mais simples a busca por essa meta, ao invés de simplesmente imaginar que precisa gastar menos, por exemplo. Da mesma forma, quando identifico que preciso aumentar minha produção de arroba em X, Y ou Z arrobas/hectares para atingir a meta de faturamento, eu empreendo justamente para atingir essa meta, o que torna o projeto mais profissional e mais orientado aos resultados.

Scot Consultoria: Como o controle e gestão de dados deve ser organizado visando a sustentabilidade econômica, a longo prazo, na pecuária?

Chaker: São quatro as etapas do gerenciamento dos dados: coleta, controle, monitoramento e gestão. Seguindo essa sequência, consegue-se organizar de uma forma bem completa as atividades gerenciais da fazenda. Na primeira etapa, a coleta de dados de nascimento, compra, venda ou pesagem, permite caminhar para o que chamamos de controle, que é a segunda etapa. Por exemplo, se eu tenho a coleta dos dados de fornecimento de consumo, a partir daquele momento eu sei que foram colocados tantos quilos de suplemento no lote de recria. Por exemplo, 90kg de suplementação foram colocados no cocho n°4, eu passo a conhecer e ter controle a partir desse dado. Diante disso, eu controlo e acompanho o nível de consumo daquele lote.

Em seguida, na terceira etapa, é feito o monitoramento, a comparação se aquele consumo está dentro da recomendação do fabricante para aquela categoria. Se, por exemplo, esperaria 320 gramas, eu estou com 210, imediatamente percebo que existe um desvio entre o que foi e o que era para ser.

Por fim, chego no quarto nível da gestão desses dados, que é justamente a decisão, a partir da coleta um dado, obtenho informação, e assim consigo comparar o previsto com o realizado no monitoramento, e a gestão é justamente a atitude do que fazer com essa informação. Então, entender esse fluxo de dados é fundamental, assim como as macro áreas, finanças, produção e pessoas, sendo que temos métricas orientadas a todas essas.

Scot Consultoria: No nosso evento (Encontro de Confinamento e Recriadores 2024), você falará sobre liderança. Sabemos que bons líderes conduzem equipes a excelentes resultados. Quais características de liderança a pecuária carece atualmente?

Chaker: Liderar é mostrar o caminho e dar todas as condições para que ele seja percorrido. A grande carência da liderança atual é a compreensão dos aspectos de propósito do ser humano. As gerações têm mudado e, a partir disso, a orientação dessas novas gerações são completamente diferentes.

Se antigamente você tinha um trabalho, o significado do trabalho, um sustento da família no trabalho em si, e hoje o trabalho precisa trazer um significado. O trabalho precisa inspirar as pessoas, precisa fazer sentido e o líder atual precisa ser um líder inspirador, que compreende o indivíduo um a um. Que não se preocupe apenas com a formação técnica ou com habilidades de comportamento, mas que também crie condições para que aquele ambiente seja um ambiente não só de segurança emocional, mas de inspiração e de conquista do propósito dos colaboradores.

Scot Consultoria: Ainda nesse tema, é evidente que cada vez mais a disponibilidade e fidelização de mão-de-obra qualificada no setor agropecuário está escassa. Como lidar com esse desafio diário na pecuária de corte?

Chaker: A mão-de-obra como conhecemos está escassa e continuará diminuindo. Aquele famoso bom gerente, bom peão, bom capataz, com as habilidades que a conhecíamos no passado, eles definitivamente devem desaparecer no médio prazo, então o que precisamos é organizar a fazenda para atrair talentos, mesmo que de outros setores. É evidente que a questão não é adaptar a pessoa a um modelo antigo de produção. Devemos olhar para o layout de fazenda, para o projeto, para novos formatos de produção, a fim de nos adequar às novas gerações. Poder importar e formar profissionais no segmento será a saída para esse apagão de mão-de-obra.

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