O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou, em março, aquilo que o mercado já esperava: o abate de bovinos cresceu em 2023 e a participação de fêmeas no abate de bovinos, também.
Foram 34,1 milhões de bovinos e as fêmeas representaram 41,6% dos abates – aumento de 4,2 pontos percentuais em relação às participações em 2022.
Os números revelam o ciclo pecuário de preços.
Figura 1.
Dinâmica do ciclo pecuário de preços. Cotação da arroba do boi gordo e do bezerro desmama, deflacionados pelo IGP-DI, e a participação do abate de fêmeas no Brasil.
Fonte: Scot Consultoria / IBGE
Hora de investir na pecuária?
A pecuária é cíclica e plurianual e 2023 pode ter deixado algumas oportunidades. Mas isso não quer dizer que o momento ainda não seja interessante para investir. Comentaremos alguns destes pontos.
Até 2033, comércio global de carne bovina deverá crescer 13,0%
Em fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apresentou perspectivas para o agronegócio até 2033/34.
As projeções para a exportação de carnes entre 2025-2033 apontam para um crescimento expressivo.
As exportações de carne de aves e suína devem ter aumentos de 18,0 e 19,0%, respectivamente, puxado pelo maior consumo nos países em desenvolvimento e em países emergentes.
Para a carne bovina, os números também são animadores. O comércio global deverá crescer 13,0%, puxado, principalmente, por maior procura dos países asiáticos.
O Brasil manterá a liderança mundial em carne bovina e de frango, com melhora na posição das vendas externas de carne suína, passando a terceiro exportador mundial, atrás de União Europeia e Estados Unidos.
A exportação de carne bovina deverá crescer 27,5%, passando a 3,8 milhões de tec.
Dentre os principais compradores de carne bovina, a China deverá responder por até 30,3% do mercado, aumentando o volume de compras em 10,0%, chegando em 3,9 milhões de tec em 2033, à medida que a demanda supera o crescimento da produção doméstica.
A Coreia do Sul e Japão representam ainda promessas para o mercado de carne bovina do Brasil. Até 2033, Coreia do Sul e o Japão deverão ser o terceiro e quarto maiores importadores de carne bovina do mundo, destacando-se o mercado sul-coreano, que deverá crescer 29%, acréscimo de 214 mil tec. Para o mercado japonês, projeta-se um crescimento de 49 mil toneladas, totalizando 818,0 mil tec.
China anuncia liberação recorde de plantas para exportação
Em 12 de março o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) anunciou que a China habilitara 38 frigoríficos brasileiros para exportar carne bovina, de aves e de suínos, sendo o maior número de plantas autorizadas de uma só vez.
Desse conjunto, 24 plantas são produtoras de carne bovina, nove de carne de aves e um estabelecimento de carne bovina termoprocessada. Também foram habilitados quatro entrepostos, sendo um de carne bovina, dois de frango e um de suínos – o estabelecimento em Itajaí-SC, foi habilitado como entreposto para exportação de carne de frango e suína.
A China já não paga mais pela carne bovina como antes, mas, com relação à demanda, continuará um mercado importante ao Brasil e a abertura de mais plantas como fornecedoras reflete isso.
Relação de troca
Assim como o preço do boi, o preço da reposição caiu e caiu com mais intensidade, ou seja, a relação de troca, melhorou.
Figura 2.
Variação nos preços em diferentes mercados agropecuários, em doze meses. Referência: dez/23.
Fonte: Scot Consultoria
O maior gargalo da pecuária de corte é a cria. Por quê?
Há uma questão biológica inerente às matrizes: a capacidade de produção de um bezerro por ano – salvo raros casos. E, além disso, os indicadores zootécnicos (intervalo entre partos, taxa de prenhez, taxa de desmame etc.) da cria no Brasil são baixos, na maioria dos casos.
E o que assistimos em 2023? Uma grande oferta de bovinos jovens – bezerros –, fruto da retenção de fêmeas em 2021 e uma das melhores relações de troca (arrobas de boi gordo, por bovinos de reposição) desde 2020.
A relação de troca, para as categorias mais jovens, de olho nos próximos anos, esteve favorável ao recriador/invernista em 2023 e, nos primeiros meses de 2024, ainda está num bom patamar e, a partir de abril e maio, com a “safra de bezerros”, a perspectiva é que os patamares atuais sejam mantidos (figura 3).
Figura 3.
Relação de troca: arrobas de boi gordo por bezerro de desmama, e a média dentro de cada ano, em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
Histórico favorável
Se há um ensinamento que a pecuária traz é que olhar o passado é sempre uma boa estratégia para o futuro. A história mostra que a reposição do estoque de arrobas (através da compra de animais mais leves) com preços menores permite maiores chances da venda de boi gordo com ágio (figura 4).
Figura 4.
Ágio / deságio (%) da arroba do boi gordo, com relação à arroba do bezerro de desmama, após 22 meses.
Fonte: Scot Consultoria
Ou seja, quem comprou bezerros de desmama há dois anos e estão os vendendo hoje como boi gordo, está sentindo no bolso um dos maiores deságios entre a arroba de aquisição e a arroba de venda.
Por outro lado, quem comprou bezerros na última fase de baixa (entre 2016 e 2018), viu o ágio da arroba do boi gordo em relação à aquisição da desmama crescer.
Esse histórico dá uma informação importante ao produtor, uma vez que a reposição é, na maior parte dos casos, um dos principais custos de produção e, é na fase de baixa de preços, que se acontece a oportunidade de aumentar o estoque de arrobas, a um custo menor.
Se confirmada a expectativa de virada de ciclo a partir de 2025, o pecuarista está diante de uma bela oportunidade de investimento, mas, é claro, sem deixar de levar em consideração outros fatores inerentes à produção.