Médica-veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em administração rural pela Universidade de Lincoln na Nova Zelândia, com especialização em agronegócio, public affairs e análise de dados. Atualmente atua como gerente de relações internacionais na União Nacional do Etanol de Milho (UNEM).
Scot Consultoria: Quais estratégias têm sido utilizadas pela Unem e ApexBrasil para promover o DDG brasileiro nos mercados internacionais e quais foram, e têm sido, os desafios enfrentados no processo? Quais são os principais mercados que estamos atendendo atualmente e quais as expectativas para os próximos anos?
Andrea: Hoje o Brasil produz cerca de 3 milhões de toneladas de farelos de milho, conhecidos como DDG/DDGS e este volume deverá dobrar até 2030. Para abrir mercado a todo esse potencial produtivo, a Unem e a ApexBrasil firmaram um convênio para a promoção dos “Brazilian Distillers Grains” (Grãos de Destilaria Brasileiros, em português). O projeto reúne uma série de atividades que incluem desde estudos de mercados, construção de branding para posicionar o produto brasileiro no mercado internacional, a participação em eventos internacionais, como feiras e atividades de formação de opinião como projetos imagem com jornalistas internacionais.
Atualmente o Brasil está exportando os grãos de destilaria para países asiáticos, da Oceania e do Oriente Médio, mas o projeto identificou nove países prioritários nestes continentes e também na Europa.
Scot Consultoria: Pensando na promoção das carnes brasileiras no mundo, há alguma semelhança com o que estamos buscando em relação à divulgação do DDG atualmente?
Andrea: O modelo adotado por outros segmentos, como o da carne bovina, de frango e suína, são excelentes exemplos de posicionamento e estratégia comercial. Nos últimos anos, o Brasil abriu mercados importantes para as carnes, como a China, que se tornou o principal destino da produção nacional. E os programas de promoção internacional, como o Brazilian Beef da ABIEC, têm sabido se adaptar às mudanças da geografia comercial mundial, que em um período focava na Rússia, depois Oriente Médio, e hoje tem na China o principal cliente.
Vale destacar que cada mercado tem características próprias, o setor de grãos de destilarias ainda é muito restrito aos produtos estadunidenses, que lideram a produção e comercialização mundial. O produto brasileiro, porém, tem propriedades e origem diferentes e é preciso apresentar isso ao mundo.
Scot Consultoria: Andrea, você enxerga que a produção de etanol disputará insumos com o setor de nutrição animal? Como você enxerga o papel do DDG em uma mitigação dessa “disputa”?
Andrea: Não vejo uma disputa entre a produção de etanol e os grãos de destilaria para a produção animal. Vale lembrar que somente existem grãos de destilaria (DDG/DDGS) quando, concomitantemente, for produzido etanol. Quanto mais de um, mais de outro. E, além disto, existem novas perspectivas de mercado para o etanol como os SAF (combustíveis sustentáveis de aviação) que vão demandar cada vez mais biocombustíveis. No que tange a capacidade de o Brasil ser um agente importante, todas as análises e projeções de nossos organismos de pesquisa renomados, além do nosso próprio Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), mostram a perspectiva de aumentos na produção de milho no futuro, juntamente com a expansão da indústria de etanol de milho. Creio que podemos dizer que os grãos de destilaria para a nutrição animal chegaram para ficar.
Scot Consultoria: Olhando para o futuro, quais são suas perspectivas para o mercado de DDG brasileiro? Quais tendências ou desenvolvimentos você antecipa e como pretende continuar contribuindo para o crescimento e sucesso desse mercado?
Andrea: O setor de etanol de milho e toda gama de produtos provenientes das biorrefinarias estão sustentados na transição energética e necessidade de disponibilização de matrizes menos poluentes e renováveis. O etanol de milho e de cereais brasileiro é produzido de forma sustentável, a partir de grãos produzidos em segunda safra, em áreas já consolidadas e ainda contribui com a intensificação das cadeias pecuárias com a oferta de DDG/DDGS. Vislumbro perspectivas extremamente positivas, com um aumento continuado de ampliação da produção deste alimento tão nutritivo e rico para todas as espécies animais, uma vez que bovinos de corte, de leite, equinos, suínos, aves, peixes e até animais de companhia podem consumir os DDG/DDGS. Um ganho importante que o acesso ao mercado externo traz para o mercado doméstico é a melhor padronização de produtos, algo que estamos trabalhando fortemente na Unem junto às nossas biorrefinarias associadas e com apoio da academia.
Scot Consultoria: Você é uma das palestrantes confirmadas em nosso evento, o Encontro de Confinamento e Recriadores. Qual será sua abordagem na palestra e sua expectativa para o evento?
Andrea: Pretendo contar um pouco da produção dos DDG/DDGS, mostrar onde a indústria está hoje e para onde está se expandindo, falar da gama de produtos existente e seu uso em nutrição animal, além de apresentar o trabalho de promoção internacional feito pela Unem em parceria com a ApexBrasil.