Antissemitismo tem recorde histórico no Brasil, diz relatório de entidades judaicas

Dados do Relatório de Antissemitismo no Brasil alertam para escalada de ódio a judeus após ataques de 7 de outubro de 2023.

Fonte: GUIAME
Aumento de antissemitismo aconteceu nos ambientes online e offline. (Foto: Pixabay/Smahel)

Entre outubro de 2023, quando o Hamas realizou ataques terroristas em Israel, e maio de 2024, o antissemitismo no Brasil apresentou um aumento significativo, com um crescimento de sete vezes no número de casos em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Os dados referentes ao ano passado estão documentados na segunda edição do Relatório de Antissemitismo no Brasil, uma fonte inédita e estruturada de denúncias desse tipo no país.

Este relatório foi organizado pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB) em parceria com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e o Departamento de Segurança Comunitária (DSC).

As entidades monitoram sistematicamente a escalada de intolerância contra judeus no país e geram informações mensalmente.

Em 2024, de janeiro a maio, foram contabilizados 886 casos, quase seis vezes mais do que no mesmo período do ano anterior.

O relatório aponta que o dia 7 de outubro de 2023 desencadeou um aumento significativo no número de casos de antissemitismo, agravado sempre que as tensões entre Israel e o Hamas se intensificam.

Entre 1º de outubro e 31 de dezembro do ano passado, foram registradas 1.119 denúncias, representando um aumento de quase 800% em relação às 125 denúncias do mesmo período de 2022. Somente em novembro de 2023, houve uma média de 18 denúncias por dia, 18 vezes mais do que a média de 2022.

Ideias anti-Israel

No ambiente online, as plataformas Instagram (com 43% dos registros) e “X” (com 32%) concentram o maior número de ocorrências.

O monitoramento também revela picos de interações de cunho antissemita nesses ambientes sempre que autoridades públicas ou influenciadores expressam ideias anti-Israel.

Na “vida real”, o antissemitismo se manifesta por meio de agressões verbais e físicas contra membros da comunidade judaica nas ruas e ao redor de sinagogas. Além disso, há casos de vandalismo, como pichações, colagem de adesivos e cartazes antissemitas e nazistas, bem como apologia ao antissemitismo através da distribuição de panfletos, jornais e cartazes que pedem o fim do Estado de Israel ou contêm tropos antissemitas genéricos. As ocorrências “offline” aumentaram 86% após o dia 7 de outubro.

“Os números são alarmantes e demandam ações urgentes de combate ao ódio aos integrantes da comunidade judaica brasileira. O antissemitismo é um problema de todos nós. Quando as sociedades não conseguem proteger as suas minorias, elas, invariavelmente, falham em proteger as suas próprias democracias”, declarou Claudio Lottenberg, presidente da CONIB.

“Estamos comprometidos em trabalhar incansavelmente para criar um ambiente onde os judeus possam viver sem medo de discriminação e preconceito”, destacou.

‘Alerta severo’

Para o presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), Marcos Knobel, “os dados revelados pelo relatório são um alerta severo sobre a necessidade de engajar a sociedade no combate ao discurso de ódio e à intolerância, não somente em relação aos judeus, mas a qualquer povo, etnia, religião”.

“A Federação Israelita continuará a trabalhar incansavelmente, em parceria com a CONIB e outras instituições, para promover um ambiente de respeito e segurança para os judeus brasileiros. É essencial que cada ato de intolerância e ódio seja enfrentado com firmeza e que as autoridades públicas, as plataformas digitais e a sociedade civil se unam no enfrentamento dessa realidade”.

Segundo a assessoria, em janeiro deste ano, a CONIB deu mais um passo na linha de frente contra a intolerância ao lançar uma plataforma dedicada ao letramento, conscientização, monitoramento e combate ao antissemitismo e discurso de ódio (www.combateaoantissemitismo.org.br).

O projeto é estruturado em quatro pilares: letramento, educação e conscientização; dados, pesquisa e monitoramento; avaliação e melhorias de políticas públicas e do ambiente regulatório; e análise e adoção de medidas legais, explica.

O Canal de Denúncias de antissemitismo é gerenciado pela CONIB em parceria com o DSC. Juntos avaliam os indicadores, analisam as denúncias e atuam ativamente no encaminhamento aos canais ou autoridades competentes.

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