Em pacientes saudáveis, os mecanismos de defesa como a inflamação debela ou controla o agressor, e a lesão fica localizada. Em pacientes comprometidos sistemicamente, a eficiência da inflamação, incluindo a resposta imune, diminui muito e as bactérias se espalham com facilidade no labirinto ósseo. Os fatores sistêmicos debilitantes são diabete melito não controlado, anemias, etilismo, leucemias, desnutrição por dietas malucas ou fome, imunodeficiências, doenças autoimunes e pacientes oncológicos em quimio e radioterapia.
Uma inflamação nos ossos de pacientes debilitados, por entrada indevida e inoportuna de bactérias, promove uma ampla e severa inflamação. Há formação de pus e fístula, indicando que as bactérias estão atacando e sendo atacadas pelas células inflamatórias. Não existe outra forma de se formar pus. Nos pacientes saudáveis, as células e os anticorpos na inflamação logo debelam as bactérias.
SÓ MANDÍBULA
Tem uma doença mandibular que esclerosa muito e aumenta a densidade, deixando o osso, ao longo de anos, como se fosse chumaços de algodão. Fica tão esclerosado que nem dá para ver os espaços medulares nas radio e tomografias. Qualquer inflamação, logo evolui para a osteomielite, pois não se tem mais capacidade reacional contra as bactérias, mesmo para as que moram na boca.
Esta doença se chama Displasia Cemento-óssea Florida. Displasia significa osso malfeito. É típica de pessoas da etnia negra, especialmente mulheres entre 30 e 50 anos. É muito frequente, tanto quanto é ignorada e não diagnosticada por falta de conhecimento. Estas pacientes não podem deixar entrar bactérias pela gengiva, canais radiculares e outras vias, pois se farão osteomielites.
ERRO INCRÍVEL
Por um erro grosseiro em 2003, em uma carta enviada ao editor de uma revista científica, difundiu-se a ideia de que bisfosfonatos na quimioterapia de pacientes oncológicos, pudessem gerar uma necrose nos maxilares, e deram o nome de osteonecrose. Eram pacientes debilitados sistemicamente e com áreas expostas de osso e formação de pus, nos quais fizeram procedimentos cirúrgicos inoportunos na boca. Ou seja, abriram as portas do osso para as bactérias em pacientes oncológicos. Só podia resultar em osteomielites.
O termo osteonecrose praticamente inexistia, até então nos maxilares, apenas em outras partes do corpo, especialmente na cabeça do fêmur de pacientes etilistas. Para se ter uma osteonecrose não se pode ter a presença de bactérias e muito menos de pus. Se tem pus é osteomielite, sempre foi assim!
ATENTOS SEMPRE
Quando ouvir o termo osteonecrose por bisfosfonatos nos maxilares, fique atento. Deve ser osteomielite em paciente sistemicamente comprometido ou, com Displasia Cemento-Óssea Florida.
Os bisfosfonatos são importantes para controlar a dor e o desconforto nos pacientes oncológicos, que se tiverem osteomielites mandibulares (e não osteonecroses), se deve pelo comprometimento severo de seus sistemas de defesa e não pelo uso desta droga. Além da dor, são importantes no retardo de metástases e progressão oncológica, melhorando a qualidade de vida de pacientes paliativados. Nos pacientes oncológicos, os tratamentos odontológicos não são prioridades, exceto as urgências. Implantes, exodontias e outros devem ser postergados para quando os melhores momentos voltarem.
Bisfosfonatos são importantes no controle da osteopenia e osteoporose na menopausa e, desde que sejam mulheres saudáveis sistemicamente, devem ser consideradas normais para se submeterem aos mais variados tratamentos, especialmente os odontológicos.
REFLEXÃO FINAL
O caso dos bisfosfonatos revela, mais uma vez, o quanto devemos ser críticos para o que lemos ou escutamos. Temos que conhecer a origem e a história das coisas e não é porque foi publicado que é verdade, ainda mais quando estiver fora da metodologia