Eng. Agrônomo e Mestre em Zootecnia – Melhoramento Genético pela Universidade Federal de Viçosa; Doutor em Ciências Biológicas – área de Genética pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP. Pesquisador da Embrapa desde 1975 exercendo, atualmente, o cargo de Chefe Geral da Embrapa Gado de Corte. Em sua carreira orgulha-se de ter liderado a equipe que, em parceria com a ABCZ, foi pioneira em avaliação genética de zebuínos, cujo primeiro Sumário de Touros foi publicado em 1984. Também de forma pioneira no Brasil, foi idealizador do Programa de Avaliação de Touros Jovens – ATJ.
Foto: Bela Magrela
Scot Consultoria: O senhor pode comentar um pouco sobre o que é a seleção genômica e como ela pode acelerar o progresso genético em bovinos de corte? Sabendo das dimensões continentais do Brasil, quais são as limitações práticas que a abordagem pode encontrar no campo?
Antônio Rosa: Basicamente, a seleção genômica é assim denominada quando se usa o suporte da genotipagem (determinação de marcadores genéticos, responsáveis pela herança dos caracteres, que se encontram no DNA – estrutura localizada no núcleo das células) dos animais submetidos aos processos de seleção.
O primeiro impacto da genotipagem se deve à possibilidade do uso do parentesco real entre os indivíduos no sistema matricial da avaliação genética, e não do parentesco médio, como ocorria até poucos anos atrás. Com este recurso, os resultados da avaliação de animais testados podem contribuir para a estimação do valor genético genômico de outros, aparentados com os primeiros, mesmo sem terem eles participado das provas zootécnicas.
Com o uso da genômica, os primeiros benefícios são verificados no aumento da acurácia (precisão) das estimativas dos valores genéticos, por possibilitar uma amostragem mais ampla do material genético na população, a partir das relações de parentesco genômico, o que viabiliza a seleção de animais em idades mais jovens, com mais segurança, proporcionando, por consequência, ganhos relativos à diminuição do intervalo de gerações.
Os resultados mais impactantes da genômica se verificam em características de difícil mensuração, tais como: eficiência alimentar, ou de mensurações possíveis de serem feitas, mas em idades mais avançadas dos animais, como ocorre para habilidade maternal, idade à primeira cria e stayability (medida de eficiência reprodutiva das vacas).
De um modo geral, esta técnica é utilizada em rebanhos de seleção, a partir dos quais os ganhos genéticos são transferidos às outras camadas da população, rebanhos multiplicadores e comerciais. À medida que a genotipagem foi sendo mais compreendida e aceita pelos criadores e por elos importantes da cadeia produtiva, as limitações práticas atuais são, praticamente, devidas aos custos das análises laboratoriais, embora, a cada ano, cada vez mais acessíveis.
Scot Consultoria: A Embrapa Gado de Corte foi pioneira na adoção e difusão de sistema agropastoris (integração entre lavoura e pecuária e, posteriormente, floresta). Quais foram os pontos principais que, à época, levaram a Embrapa à adoção dessa prática? O senhor pode comentar como está a adoção desses sistemas no Brasil e quais são suas perspectivas para os próximos anos?
Antônio Rosa: A princípio, por volta dos anos de 1980, a agricultura entrou no roteiro dos nossos pesquisadores como alternativa para a reforma de pastagens degradadas, tendo-se iniciado com plantios de arroz, depois sorgo e, finalmente, milho e soja. Ao longo do tempo, se percebeu o valor da rotação das culturas com a pastagem, melhorando as condições físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo no controle de pragas, doenças e invasoras e na eficiência de uso da terra.
Atualmente, o Brasil conta com uma área de mais de 17,5 milhões de hectares com algum modelo de sistema de integração, sendo 83,0% com ILP, 16,0% com o componente florestal como ILPF ou IPF, e apenas 1,0% com ILF.
Scot Consultoria: Quais são, no seu ponto de vista, os principais ganhos que os sistemas agropastoris e os agrossilvipastoris (integração lavoura-pecuária-floresta) promovem ao pecuarista? E, hoje, quais são os potenciais choques de realidade entre os sistemas que o produtor poderá enfrentar ao buscar tais modelos de produção?
Antônio Rosa: Como informado na resposta anterior, o principal impacto da lavoura, ao ser inserida num sistema de rotação com a pastagem, é a melhoria das condições de solo, o que proporciona pastagens mais produtivas e de melhor qualidade. Um dos problemas enfrentados para o uso desta alternativa, é que o produtor de gado de corte, na maioria dos casos, não tem experiência e infraestrutura adequada para o trabalho na agricultura, o que costuma ser superado com acordos de arrendamento ou parceria com lavoureiros.
Por outro lado, a incorporação do componente florestal apresenta as vantagens de maior fixação do carbono no sistema e melhor bem-estar aos animais. As dificuldades, neste caso, se devem à necessidade de arranjos espaciais e manejos adequados do componente florestal para se evitar sombreamento excessivo às forrageiras. As oportunidades mercadológicas para os produtos florestais devem ser também observadas no planejamento e durante a condução do sistema para a obtenção de produtos com características demandadas pela cadeia. Neste contexto, o uso de espécies florestais nativas em cultivos permanentes pode ser uma alternativa de diversificação e de produtos com maior valor agregado.
No balanço dessas questões, observa-se uma tendência de mais fácil adoção de sistemas de baixo carbono, mais simples de serem conduzidos, por não dependerem do componente florestal diretamente, no sistema, e dos sistemas de produção Carbono Nativo, com uso de árvores nativas permanentes.
Scot Consultoria: Investir em melhoramento genético e manter na adoção de sistemas ILPF, IPF e ILP dentro da propriedade é pensar também em sustentabilidade. Como essas duas tecnologias interferem em uma pecuária mais sustentável?
Antônio Rosa: O melhoramento genético vem contribuindo, diretamente, neste contexto, de duas formas. Em primeiro lugar, pelos ganhos extraordinários em precocidade sexual e de acabamento, conformação frigorífica e eficiência alimentar dos animais, o que proporciona ciclos de produção mais curtos, com diminuição de custos e das emissões totais de gases de efeito estufa.
Por outro lado, a seleção de animais mais adaptados às condições ambientais, numa pecuária conduzida, predominantemente, em pastagens, reduz a necessidade de uso de quimioterápicos e pesticidas, com ganhos para o meio ambiente e a segurança alimentar.
Com relação aos sistemas integrados, destacam-se a melhoria das condições de nutrição e bem-estar dos animais e a fixação de carbono pelo sistema.
Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens aconteceu nesta semana, o senhor pode nos contar o que foi abordado em sua apresentação?
Antônio Rosa: Em atenção ao generoso convite que me foi feito pela equipe Scot Consultoria, em desdobramento de visita a nossa Unidade da Embrapa, em Campo Grande, MS, foi abordado um breve retrospecto da história de nossa pecuária de corte, enaltecendo nossa capacidade de resiliência e de superação de desafios que fazem dela a mais sustentável do planeta.