Pesquisadores da Universidade de Oxford estão desenvolvendo a primeira vacina do mundo para a prevenção do câncer de ovário. O imunizante, que deverá ser concluído nos próximos três anos, terá como objetivo treinar o sistema imunológico para se defender da doença em seus estágios iniciais. A iniciativa será financiada com mais de 4 milhões de reais pela organização filantrópica Cancer Research UK.
“OvarianVax se baseia nos desenvolvimentos empolgantes em tecnologia de vacinas durante a pandemia. Este é um dos muitos projetos que esperamos que dêem às mulheres vidas melhores e mais longas, livres do medo do câncer”, afirmou Michelle Mitchell, diretora executiva da Cancer Research UK, em comunicado.
Riscos e desafios atuais para mulheres com predisposição genética
Mulheres que possuem alterações nos genes BRCA1 têm um risco de até 65% de desenvolver câncer de ovário, enquanto as que apresentam alterações no gene BRCA2 possuem até 35% mais chances em comparação com mulheres sem essas mutações. Devido a esses riscos elevados, a recomendação atual é que mulheres com essas alterações genéticas removam seus ovários até os 35 anos. No entanto, essa medida implica em consequências sérias, como a impossibilidade de ter filhos e a menopausa precoce.
Pesquisa inovadora na identificação de proteínas do câncer de ovário
Uma das principais frentes do estudo liderado pela equipe de Oxford é identificar quais proteínas estão presentes na superfície das células do câncer de ovário em estágio inicial e que podem ser reconhecidas mais facilmente pelo sistema imunológico. A partir dessa identificação, os pesquisadores irão testar as formas mais eficazes para que a vacina atinja e destrua essas células antes que se transformem em um tumor.
Para isso, amostras de tecido dos ovários e trompas de falópio de pessoas com câncer de ovário serão usadas para recriar os estágios iniciais da doença. Caso os pesquisadores consigam atingir seus objetivos, o próximo passo será testar a vacina em ensaios clínicos. A intenção é que o imunizante seja distribuído como a principal forma de prevenção para o câncer de ovário, segundo comunicado da universidade.
Novas estratégias de prevenção
“Precisamos de melhores estratégias para prevenir o câncer de ovário. Atualmente, mulheres com mutações BRCA1/2, que estão em risco muito alto, recebem cirurgia que previne o câncer, mas as priva da chance de ter filhos depois. Ao mesmo tempo, muitos outros casos de câncer de ovário não são detectados até que estejam em um estágio muito mais avançado”, explica Ahmed Ahmed, diretor do Laboratório de Células de Câncer de Ovário do Instituto de Medicina Molecular MRC Weatherall da Universidade de Oxford e líder do projeto OvarianVax.
O estudo de Ahmed e sua equipe se baseia em uma descoberta anterior de que as células imunes de pacientes com câncer de ovário “recordam” do tumor. Com essa informação, os pesquisadores pretendem treinar o sistema imunológico para reconhecer mais de 100 proteínas associadas a esse tipo de câncer, melhorando sua resposta à doença.
Um futuro promissor, mas ainda distante
Apesar do avanço, a vacina ainda levará anos até estar disponível para a população em geral. Conforme ressaltado pela Universidade de Oxford, o desenvolvimento do imunizante é um passo crucial para garantir que, no futuro, o câncer de ovário possa ser prevenido através da imunização, assim como ocorre atualmente com o câncer do colo do útero.
Se bem-sucedida, essa vacina representará um avanço significativo na medicina preventiva, oferecendo às mulheres uma alternativa mais segura e eficaz para se protegerem contra o câncer de ovário.