Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, publicou uma carta aberta explicando os resultados da inflação em 2024, que fechou o ano com alta acumulada de 4,83% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O índice ultrapassou o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, situando-se acima do limite superior de 4,5%. O envio da carta é uma formalidade obrigatória sempre que a inflação ultrapassa os parâmetros estabelecidos.
Para 2025, as projeções continuam preocupantes. De acordo com o primeiro Boletim Focus do ano, o IPCA deve encerrar o período em 4,99%, marcando a 12ª revisão consecutiva de alta na projeção. Essa tendência de deterioração nas expectativas inflacionárias teve início em novembro de 2024, após o anúncio do pacote de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Apesar das medidas apresentadas, o mercado considerou o pacote insuficiente para controlar o crescimento da dívida pública, que já alcança cerca de 80% do PIB, conforme dados do Instituto Fiscal Independente (IFI).
Entre os fatores que geraram desconfiança, destaca-se a proposta de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, que implicaria em aumento dos gastos da União, além de reforçar a percepção de falta de compromisso com o equilíbrio fiscal. Esse cenário de incerteza contribuiu para um aumento no pessimismo dos mercados, pressionando o dólar e os juros para níveis elevados e forçando revisões inflacionárias consecutivas para cima.
Na carta, Galípolo atribuiu o descumprimento da meta de 2024 a um crescimento acelerado da atividade econômica, à valorização do dólar em relação ao real e a fatores climáticos adversos. Ele também afirmou que a inflação deve continuar acima do limite da meta ao longo de 2025, com expectativa de iniciar uma trajetória de queda no quarto trimestre, embora ainda se mantenha acima do centro da meta.
Perspectivas dos analistas
Para Daniel Cunha, estrategista-chefe da corretora BGC Liquidez, a mensagem do Banco Central indica a continuidade do ciclo de alta da Selic nas próximas reuniões. Ele prevê que a taxa básica de juros poderá atingir 15,5% ao ano, o maior patamar desde 2006, caso as projeções se concretizem. Cunha destacou que a carta de Galípolo não trouxe novidades e apenas reiterou mensagens já presentes nos comunicados recentes da autoridade monetária, como a expectativa de elevação da Selic em 1 ponto percentual nas reuniões de janeiro e março, o que levaria a taxa para 14,25% ao ano.
Já Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, avalia que o Banco Central manterá uma postura mais rigorosa ao longo de 2025. Ele interpreta a carta como um reforço do compromisso com a política monetária restritiva, considerando a inflação elevada de 4,83% em 2024. Para Vasconcellos, o mercado estará atento aos próximos movimentos da autoridade monetária para avaliar sua independência, uma marca da gestão anterior.
Por sua vez, Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, demonstrou preocupação com as perspectivas econômicas traçadas para 2025. Ele destacou o alerta de Galípolo sobre uma inflação elevada até o terceiro trimestre, ressaltando a necessidade de um alinhamento consistente entre as políticas monetária e fiscal para recuperar a confiança do mercado. Monteiro defende que, para conter as pressões inflacionárias sem comprometer o crescimento econômico, será essencial um esforço coordenado entre os diferentes atores econômicos.
A mensagem de Galípolo, embora protocolar, está sendo analisada minuciosamente por investidores, que buscam pistas sobre os rumos da política monetária e econômica no ano que começa. O desafio do Banco Central será equilibrar o combate à inflação com o apoio ao crescimento, em um cenário de crescentes desconfianças fiscais e pressões externas.