Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais revelou indícios de um possível acordo de cooperação entre as facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho (CV).
O documento sugere que as duas organizações estariam unindo forças para pressionar mudanças no regime prisional federal, buscando tornar menos rígidas as regras impostas a presos de alta periculosidade.
Interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça, mostram conversas entre detentos e seus advogados dentro do “parlatório” — espaço reservado para atendimentos jurídicos nos presídios federais. Segundo o relatório, advogados das facções estariam coordenando ações conjuntas para pleitear demandas dos líderes encarcerados.
Pressão por mudanças no sistema prisional
Atualmente, nas penitenciárias federais, os detentos cumprem pena sob um regime disciplinar rigoroso, que inclui isolamento em cela individual monitorada por câmeras, apenas duas horas diárias de banho de sol e visitas limitadas a duas pessoas por semana, sem contato físico. Além disso, não têm acesso a TV, rádio, jornais, revistas, internet ou celulares.
O relatório indica que integrantes do PCC estariam colhendo assinaturas para um suposto abaixo-assinado solicitando a flexibilização dessas regras, permitindo o retorno de visitas com contato físico. Uma gravação captada pelo setor de inteligência registra uma conversa entre o chefe do PCC, Marco Willians Camacho, o Marcola, e um advogado, na qual ele questiona:
“Eles vão fazer então um abaixo-assinado com 1 milhão e 600 mil assinaturas?”
Para André Garcia, secretário nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça, o endurecimento das regras nas penitenciárias federais é essencial para enfraquecer a articulação criminosa dentro e fora dos presídios.
“A capacidade de isolamento é necessária para que se interrompa os mecanismos de comunicação e articulação das lideranças”, afirmou.
Sinais de trégua entre as facções
Além da articulação jurídica, as autoridades também investigam mensagens supostamente trocadas entre membros das facções mencionando um acordo de paz entre PCC e CV.
Em uma delas, atribuída ao PCC, o grupo afirma ter firmado um pacto com o Comando Vermelho, proibindo assassinatos entre as facções em todo o país. Outra mensagem, supostamente do CV, menciona que desde o dia 11 deste mês os ataques contra o PCC foram suspensos.
O promotor Lincoln Gakiya, especialista na investigação do PCC há mais de 20 anos, confirmou que a trégua já estaria sendo respeitada em grandes capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Para ele, essa aliança pode significar um avanço ainda maior no tráfico de drogas e armas.
“A união das duas maiores organizações criminosas do país pode levar a um incremento no tráfico internacional de cocaína e no tráfico de armas para o Brasil, além do compartilhamento de rotas e o fortalecimento dessas facções”, alerta Gakiya.
As investigações seguem para verificar a autenticidade das mensagens e o impacto desse possível pacto na segurança pública.