
Cristãos de Arunachal Pradesh, no nordeste da Índia, promoveram um grande protesto no dia 6 de março pedindo a revogação da Lei de Liberdade Religiosa do estado, que, na prática, funciona como uma legislação anticonversão. A manifestação reuniu mais de 200 mil fiéis em Borum, próximo à capital Itanagar, além de outras regiões do estado. O movimento ocorre em meio a uma onda de prisões e perseguições religiosas, com cristãos frequentemente detidos sob acusações consideradas fraudulentas.
Mir Stephen Tarh, presidente do Fórum Cristão local, alertou que, caso a lei não seja revogada até o final de março, os grupos religiosos planejam organizar um comício para pressionar por um referendo sobre a questão. Apesar de o governo estadual ter negado permissão para que o ato ocorresse em frente à Assembleia Legislativa, a manifestação aconteceu de forma pacífica.
Milhares de fiéis, pertencentes a diversas denominações cristãs, caminharam de Itanagar até Borum, vestindo trajes tradicionais coloridos e carregando cartazes com mensagens como “Proteja Nosso Direito à Liberdade Religiosa” e “Unidos Defendemos a Harmonia Religiosa”. O bispo Benny Varghese, de Itanagar, afirmou que o protesto demonstrou a unidade dos cristãos diante do que consideram uma ameaça à liberdade religiosa no estado.
Dias antes, no dia 1º de março, grupos nacionalistas hindus realizaram uma manifestação pedindo a implementação mais rigorosa da lei. O ato contou com a presença de Mohan Bhagwat, líder do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), organização ligada ao nacionalismo hindu. No entanto, segundo Tarh, a adesão ao evento foi pequena e motivada politicamente.
A Lei Anticonversão de Arunachal Pradesh, aprovada em 1978, nunca chegou a ser aplicada, pois as regras para sua implementação não foram formalizadas. No entanto, em setembro do ano passado, o Tribunal Superior de Guwahati determinou que o governo estadual estabelecesse essas diretrizes em um prazo de seis meses. O primeiro-ministro do estado, Pema Khandu, que havia prometido revogar a medida, surpreendeu os cristãos ao anunciar que tomaria as providências necessárias para colocar a lei em vigor.
Diante dessa decisão, o Fórum Cristão de Arunachal Pradesh realizou reuniões em janeiro para discutir estratégias de resistência. O grupo decidiu pressionar politicamente contra a aplicação da legislação, iniciando protestos distritais que culminaram no grande ato de 6 de março.
Os líderes cristãos alertam que a aplicação da lei pode ser usada para restringir os direitos das minorias religiosas. “Nos estados onde essa legislação já está em vigor, apenas cristãos e muçulmanos foram presos sob essas normas. Então, em Arunachal Pradesh, a intenção deles é muito clara”, afirmou Likh Tabb, presidente da ACF do distrito de Kei Panyo.
A resistência contra a legislação também parte de líderes religiosos locais, que rejeitam a alegação de que a conversão ao cristianismo representaria uma ameaça à cultura indígena. Nathom Lowang, professora católica na diocese de Miao, argumenta que fé e cultura podem coexistir. “Nossa identidade não será destruída pela adoção de qualquer religião. Podemos seguir Jesus Cristo sem perder nossa herança cultural”, disse.
O protesto mobilizou milhares de pessoas, incluindo funcionários do governo, muitos dos quais viajaram por horas para participar. Para os cristãos de Arunachal Pradesh, a revogação da lei não é apenas uma questão de fé, mas de garantir que seus direitos fundamentais sejam respeitados em um estado onde representam mais de 40% da população.