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Quando o Mar Vira Concreto: O Futuro das Cidades Costeiras

É possível transformar esse cenário se houver vontade política, engajamento social e visão de longo prazo. As ondas que chegam não precisam ser de destruição

Fonte: Assessoria

O avanço do mar e os desafios urbanos invisíveis

Nos últimos anos, cidades litorâneas brasileiras vêm enfrentando um problema que cresce de forma silenciosa: o avanço do mar sobre áreas urbanas. O fenômeno, impulsionado por mudanças climáticas e pela urbanização acelerada, coloca em risco comunidades inteiras, infraestruturas públicas e ecossistemas frágeis.

Cidades como São Luís, no Maranhão, já observam sinais claros desse processo. Ruas inundadas durante marés altas, erosão de faixas litorâneas e degradação de manguezais são apenas alguns dos efeitos visíveis. O que antes era pontual e sazonal, agora se apresenta como uma ameaça constante à estabilidade urbana e à vida cotidiana de milhares de pessoas.

Urbanização sem freio e suas consequências

A ocupação desordenada do litoral, sem planejamento ambiental adequado, contribuiu para agravar o impacto das mudanças no nível do mar. Habitações construídas sobre áreas alagáveis, canalização de rios e a impermeabilização do solo reduziram a capacidade das cidades de absorver grandes volumes de água.

Essa expansão descontrolada reflete uma lógica de crescimento que, muitas vezes, ignora a geografia e os limites naturais do território. Em bairros periféricos, onde a fiscalização é mais frágil, construções irregulares tornam-se comuns, aumentando a vulnerabilidade das populações mais pobres diante dos eventos climáticos extremos.

Soluções que nascem da própria comunidade

Apesar dos desafios, muitas soluções têm partido das próprias comunidades afetadas. Moradores estão criando barreiras naturais com resíduos orgânicos, cultivando vegetação resistente à salinidade e monitorando os níveis da maré com recursos simples, mas eficazes.

Esse tipo de ação local não substitui políticas públicas, mas revela a capacidade de adaptação das populações e a importância do conhecimento tradicional. Um exemplo curioso foi o uso de algoritmos simples em planilhas adaptadas com base em modelos como os usados na plataforma Quotex, para prever enchentes e marés, conectando dados históricos com observações do cotidiano.

Cidades resilientes: um conceito em construção

A ideia de cidade resiliente vai além de resistir a desastres naturais. Trata-se de planejar de forma integrada, considerando aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais. Em cidades costeiras, isso inclui repensar o uso do solo, recuperar ecossistemas como os manguezais e incorporar tecnologias de baixo impacto.

Urbanistas e arquitetos têm defendido projetos de adaptação costeira baseados em soluções naturais, como parques fluviais, jardins de chuva e infraestrutura verde. Essas propostas não apenas protegem a cidade, mas também criam espaços de convivência, lazer e educação ambiental.

Cultura local e mar: um vínculo em risco

No Maranhão, o mar é mais do que um elemento geográfico — ele é parte da identidade, da cultura e da economia. Comunidades pesqueiras tradicionais, como as da Raposa e Alcântara, veem sua forma de vida ameaçada pela transformação do litoral. A perda de áreas de pesca, a contaminação da água e o desaparecimento de espécies são sintomas de uma crise que é ambiental, mas também cultural.

Projetos de salvaguarda do patrimônio imaterial, aliados a medidas de proteção ambiental, são fundamentais para que essas comunidades possam continuar existindo sem abrir mão de suas raízes. Como disse uma moradora de Cururupu: “quando o mar muda, a gente muda também, mas não pode perder o que somos”.

O papel da educação e da mídia local

A conscientização é um dos pilares para que ações estruturantes sejam bem-sucedidas. Campanhas educativas nas escolas, reportagens nas rádios comunitárias e iniciativas de jornalismo ambiental são estratégias que aproximam o tema da população. Em uma das oficinas realizadas na Ilha dos Caranguejos, adolescentes criaram um jogo de tabuleiro inspirado em Mines, no qual cada casa do tabuleiro representa um dilema ambiental a ser resolvido.

Esse tipo de abordagem lúdica ajuda a despertar o interesse das novas gerações para o papel que terão na reconstrução e preservação do litoral. Afinal, o futuro das cidades costeiras depende de decisões que começam agora, mesmo em escalas aparentemente pequenas.

Conclusão: entre o mar e a esperança

As cidades costeiras brasileiras estão diante de um ponto de inflexão. Ou aprendem a conviver com o mar de forma sustentável e planejada, ou sofrerão as consequências de décadas de negligência ambiental e urbanística. O mar, que tanto deu ao Brasil em termos de história, cultura e sustento, agora exige respeito e responsabilidade.

É possível transformar esse cenário se houver vontade política, engajamento social e visão de longo prazo. As ondas que chegam não precisam ser de destruição — podem ser de mudança, se soubermos navegar com consciência.

 

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