Uma investigação divulgada pelo programa Fantástico revelou um esquema nacional de fraudes contra seguradoras que envolve simulações de roubos, acidentes forjados e até uma falsa morte para obtenção de seguros milionários. Os casos ocorreram em pelo menos seis estados brasileiros e demonstram a sofisticação de uma rede que movimenta cifras bilionárias.
O caso mais chocante: a falsa morte no Paraná
No litoral do Paraná, Orlando Luiz Pires Júnior, de 49 anos, foi oficialmente dado como morto após um suposto afogamento. O corpo nunca foi encontrado, mas uma certidão de óbito foi emitida, e um amigo seu foi registrado como beneficiário de um seguro de vida no valor de R$ 2 milhões.
Dois meses depois, Orlando reapareceu — vivo — em uma audiência trabalhista no interior do estado. A polícia o localizou na cidade de Jaguapitã, onde ele confirmou sua verdadeira identidade. O caso agora está sob investigação e resultou no indiciamento de cinco pessoas por estelionato e associação criminosa.
Fraudes em série pelo país
A reportagem também identificou uma série de outras fraudes com padrões semelhantes:
São Vicente (SP): um caminhoneiro denunciou um falso sequestro e o roubo de uma carga avaliada em R$ 700 mil, que seria entregue em São Luís e Imperatriz, no Maranhão. Ele fazia parte de uma quadrilha que revendia mercadorias e forjava boletins de ocorrência.
São Paulo (SP): uma motorista denunciou o furto do próprio carro, mas foi flagrada por câmeras dirigindo o veículo horas depois.
Rio de Janeiro (RJ): uma mulher convenceu um mecânico a incendiar seu carro para alegar roubo. O mecânico voltou atrás e virou testemunha do caso.
Ceará: dois motoristas encenaram um acidente de trânsito em busca de uma indenização de R$ 200 mil. Laudos periciais confirmaram que a colisão foi simulada.
Mato Grosso: cinco motoristas utilizaram “carros dublê” para acionar seguros após acidentes. As imagens enviadas para a vistoria online não correspondiam aos veículos danificados.
Impacto bilionário e prejuízo coletivo
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), apenas no primeiro semestre de 2024, os pedidos de indenização considerados suspeitos ultrapassaram R$ 2 bilhões. Para o advogado Luiz Felipe Pellon, o impacto desse tipo de crime vai muito além dos envolvidos.
“É uma atividade que prejudica a todos. As seguradoras precisam investir em estruturas de combate às fraudes, o que encarece os seguros para todos os usuários. O grande prejudicado é o segurado honesto”, explica.
As polícias de São Paulo e Minas Gerais já identificaram pelo menos 26 boletins de ocorrência com indícios de fraude, em episódios semelhantes relatados em diferentes cidades. Em muitos casos, os criminosos forneciam aos cúmplices roteiros prontos para serem usados nos depoimentos à polícia.
Com o avanço das investigações, as autoridades alertam: simular crimes ou fornecer informações falsas para obter indenizações pode levar à prisão, além de responder judicialmente por estelionato e associação criminosa.